Lula “baleado” na Folha: fotojornalismo ou irresponsabilidade?

Foto controversa de Lula na Folha faz a autora se manifestar. Imagem lembra outras fotografias registradas no auge do "delenda PT"

Folha de S. Paulo publicou nesta quinta-feira (19), na capa da edição impressa, uma foto do presidente Lula (PT) sorrindo timidamente e arrumando a gravata, mas sobre sua imagem há um vidro trincado bem na altura do peito, como se tivesse sido baleado ou golpeado, resultado do fracassado ataque golpista ao Palácio do Planalto em 8 de Janeiro de 2023.

Controversa, a foto assinada por Gabriela Biló gerou polêmica na internet. De um lado, a imagem foi associada à algum tipo de violência física contra Lula, já que não está descolada do contexto histórico em que foi capturada: em meio à onda de ameaças e ódio de bolsonaristas contra a situação.

Foto de Wilton Junior, da Agência Estado, até ganhou um prêmio de fotojornalismo internacional

A foto ainda acendeu um debate sobre semiótica, construção de imagem e a ética jornalística. Afinal, não é a primeira vez que uma figura graúda do PT protagoniza uma foto de capa cercada de elementos que remetem à violência política.

Dilma Rousseff atravessada por uma espada e com seu rosto em chamas, em duas fotos publicadas pelo Estadão, são alguns exemplos para refrescar a memória sobre o papel do fotojornalismo no auge do “delenda PT”.

Por outro lado, há quem argumente que a foto de Lula na Folha expressa a vitória do presidente sobre a tentativa frustrada de golpe.

A versão da autora

Diante de toda a polêmica, a fotógrafa Gabriela Biló veio a público nesta quinta (19) explicar a técnica empregada na fotografia (diferentemente do que fez no passado com Dilma, desta vez a Folha não recorreu à montagem em pós-edição) e a visão que tem do próprio trabalho.

Gabriela primeiro fotografou o vidro estilhaçado, travou a câmera no mesmo “frame“, e depois clicou Lula sorrindo e ajeitando a gravata, tentando passar a mensagem de que “a vida continua”. Segundo a fotógrafa, havia uma distância de 30 metros entre Lula e o vidro. Para ela, a foto representa “força” e “resistência”.

“No meu ver, vejo um Lula se arrumando pra entrar em cena depois de apenas um trinco que mirou no coração, mas como percebemos pelo sorriso discreto, não acertou”, ela escreveu no Instagram.

“O problema está na Folha”

Para o fotógrafo Eder Chiodetto, ex-editor de fotografia da Folha, a técnica empregada na foto de Lula – que não deixa de ser uma sobreposição de duas imagens idealizadas pela colega – não é fotojornalismo.

“(…) usar uma dupla exposição para reunir na mesma imagem um retrato do presidente Lula com a vidraça do Palácio do Planalto estilhaçada pelos terroristas. Esse gesto, por si só, tira a imagem da natureza do fotojornalismo e a desloca para o âmbito da ilustração. Colagem, montagem, justaposição, são práticas de artistas e ilustradores, não de fotojornalistas”, avaliou o profissional em texto publicado no Instagram.

Na postagem, Chiodetto ainda frisou que “não há fotografia isenta de opinião” e que o problema, ao cabo, “está na Folha, em bancar essa atitude” de transcender “os limites éticos e estéticos”.

No Twitter, a reação à capa da Folha também foi crítica. Entre os principais questionamentos, está se Folha ao menos cogitou que sua capa pudesse incitar atentados contra a vida de Lula.

Confira abaixo algumas opiniões sobre a fotografia:

Redação

7 Comentários

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  1. Vindo da Folha, o mal parece estar sempre afinado, com o seu papel de provocador. Penso que o respeito que se esperava dela, se debilita. O desequilíbrio, mente/corpo, agiganta redações que, em momentos de êxtase, ainda tentam se superar espalhando injustificáveis justificativas, que, aliás, muito justifica o seu conceito da importância e da prioridade.

  2. Uma sujeira tremenda da Falha de SP , que agride a democracia, a ética jornalística e a todos os brasileiros sensatos.
    Uma sujeira criminosa!

    A falha SP vem praticando fatos graves contra a democracia brasileira há muito tempo!
    Lamentável

  3. A discussão sobre a foto, suas técnicas, intenções e interpretações são muito menos relevantes do que a sua publicação em posição de destaque na página de capa do jornal. A impressão que fica é que o dono/publisher/editor chefe não passa de um delinquente, pra não dizer mais…
    MíRdia pura, que não deixa este país tomar o seu potencia lugar de destaque entre as nações.

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