Lula critica Bolsonaro na crise Irã-EUA e afirma: Washington precisa sempre eleger inimigo

Da DW Brasil

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou em uma entrevista nesta quarta-feira que o Brasil não deveria se envolver no conflito entre Estados Unidos e Irã, e que as ações de Washington contra a República Islâmica “cheiram a campanha eleitoral”.

Em sua primeira entrevista do ano, concedida ao site Diário do Centro do Mundo (DCM), Lula relembrou que, historicamente, o Brasil sempre teve um papel harmonioso em sua diplomacia, mediando conflitos e defendendo a paz.

“O momento não é adequado para o Brasil se meter em uma briga externa. O Brasil não tem contencioso com o mundo, sempre manteve uma política diplomática harmoniosa. Devemos ser um construtor de paz”, afirmou o ex-presidente.
Relembrando passagens quando era líder do país, entre 2003 e 2010, Lula falou sobre suas relações com dois presidentes estadunidenses do período, o republicano George W. Bush e o democrata Barack Obama.

Em um paralelo entre o ataque dos EUA contra o Iraque, em 2003, e contra o aeroporto internacional de Bagdá, no Iraque, onde o alvo era o general iraniano Qassem Soleimani, Lula destacou pressentir que trata-se de um movimento político do atual mandatário norte-americano, Donald Trump, em prol de sua reeleição neste ano.

“Os EUA precisam sempre eleger um inimigo. Isso está me cheirando a campanha eleitoral […]. Os EUA gostam de criar confusão e de preferência longe do território deles. Não há necessidade de se inventar ‘terrorismo’ no Irã”, opinou Lula, que mencionou os erros da Casa Branca no Oriente Médio.

“Hoje está provado que não havia armas químicas no Iraque. E em nome disso destruíram um país, que hoje se volta contra os EUA”, acrescentou o petista, libertado no ano passado após passar 580 dias preso por uma condenação na Operação Lava Jato.

Voltando ao Irã, Lula afirmou que o país costumava ter boas relações com Teerã quando ele foi presidente, tendo inclusive construído um acordo que, de acordo com o petista, era melhor do que aquele firmado por Obama em 2015 – e do qual Trump retirou os EUA, dando início à crise.

“Quando construímos o acordo em Teerã, o Obama traiu o bom senso e decidiu aumentar a punição contra o Irã, para dois anos depois, construir um acordo muito pior do que o que nós havíamos alcançado”, sentenciou o ex-presidente.

Crítico ferrenho do atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido), Lula destacou a necessidade de que se brigue muito para o país retomar a sua soberania, algo que vai além de somente tomar conta de suas fronteiras, mas também levar bem-estar a todos os brasileiros.

Com Bolsonaro, continuou o petista, o Brasil perdeu isso.

“Na relação internacional sempre são dois interesses: o seu e o do outro. Você tem que sempre equilibrar o deles com o seu. O Bolsonaro não faz a menor questão de não ser um ‘lambe botas’ do Trump”, completou.

Redação

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  • Aqui nós temos um inimigo comum dos poderosos de todas as épocas: a imprensa. A esquerda,o centro, o centro-esquerda, o centro-direita e a direita espinafram com igual virulência os meios de comunicação tradicionais, acusando-os por muito dos males de suas gestões.Isto é fato(as acusações) e ninguém pode negar.

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