Lula escreve no Le Monde: Por que eu quero voltar a ser presidente

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Foto Ricardo Stuckert

Lula escreve no Le Monde: Por que eu quero voltar a ser presidente

Leia a íntegra do artigo publicado hoje pelo jornal francês

Sou candidato a presidente do Brasil, nas eleições de outubro, porque não cometi nenhum crime e porque sei que posso fazer o país retomar o caminho da democracia e do desenvolvimento, em benefício do nosso povo. Depois de tudo que fiz como presidente da República, tenho certeza de que posso resgatar a credibilidade do governo, sem a qual não há crescimento econômico nem a defesa dos interesses nacionais. Sou candidato para devolver aos pobres e excluídos sua dignidade, a garantia de seus direitos e a esperança de uma vida melhor.

Na minha vida nada foi fácil, mas aprendi a não desistir. Quando comecei a fazer política, mais de 40 anos atrás, não havia eleições no País, não havia direito de organização sindical e política. Enfrentamos a ditadura e criamos o Partido dos Trabalhadores, acreditando no aprofundamento da via democrática. Perdi 3 eleições presidenciais antes de ser eleito em 2002. E provei, junto com o povo, que alguém de origem popular podia ser um bom presidente. Terminei meus mandatos com 87% de aprovação popular. É o que o atual presidente do Brasil, que não foi eleito, tem de rejeição hoje.
Nos oito anos que governei o Brasil, até 2010, tivemos a maior inclusão social da história, que teve continuidade no governo da companheira Dilma Rousseff. Tiramos 36 milhões de pessoas da miséria extrema e levamos mais de 40 milhões para a classe média.  Foi período de maior prestígio internacional do nosso país. Em 2009, Le Monde me indicou “homem do ano”. Recebi estas e outras homenagens, não como mérito pessoal, mas como reconhecimento à sociedade brasileira, que tinha se unido para a partir da inclusão social promover o crescimento econômico.

Sete anos depois de deixar a presidência e depois de uma campanha sistemática de difamação contra mim e meu partido,  que reuniu  a mais poderosa imprensa brasileira e setores do judiciário, o momento do país é outro: vivemos retrocessos democráticos, uma prolongada crise econômica, e a população mais pobre sofre, com a redução dos salários e da oferta de empregos, o aumento do custo de vida e o desmonte de programas sociais.

A cada dia mais e mais brasileiros rejeitam a agenda contra os direitos sociais do golpe parlamentar que abriu caminho para um programa neoliberal que havia perdido quatro eleições seguidas e que é incapaz de vencer nas urnas. Lidero, por ampla margem, as pesquisas de intenções de voto no Brasil porque os brasileiros sabem que o país pode ser melhor.

Lidero as pesquisas mesmo depois de ter sido preso em consequência de uma perseguição judicial que vasculhou a minha casa e dos meus filhos, minhas contas pessoais e do Instituto Lula, e não achou nenhuma prova ou crime contra mim. Um juiz notoriamente parcial me condenou a 12 anos de prisão por “atos indeterminados”. Alega, falsamente, que eu seria  dono de um apartamento no qual nunca dormi, do qual nunca tive a propriedade, a posse, sequer as chaves. Para me prender, e tentar me impedir de disputar as eleições ou fazer campanha para o meu partido, tiveram que ignorar a letra expressa da constituição brasileira, em uma decisão provisória por apenas um voto de diferença entre 11 na Suprema Corte.

Mas meus problemas são pequenos perto do que sofre a população brasileira. Para tirarem o PT do poder após as eleições de 2014, não hesitaram em sabotar a economia com decisões irresponsáveis no Congresso Nacional e uma campanha de desmoralização do governo na imprensa. Em dezembro de 2014 o desemprego no Brasil era 4,7%. Hoje está em 13,1%.

A pobreza tem aumentado, a fome voltou a rondar os lares e as portas das universidades estão voltando a se fechar para os filhos da classe trabalhadora. Os investimentos em pesquisa desabaram.

O Brasil precisa reconquistar a sua soberania e os interesses nacionais. Em nosso governo, o País liderou os esforços da agenda ambiental e de combate à fome, foi convidado para todos os encontros do G-8, ajudou a articular o G-20, participou da criação dos BRICS, reunindo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e da Unasul, a União dos países da América do Sul. Hoje o Brasil tornou-se um pária em política externa, que os líderes internacionais evitam visitar, e a América do Sul se fragmenta, com crises regionais cada vez mais graves e menos instrumentos diplomáticos de diálogo entre os países.

Mesmo a parte da população que apoiou a queda da presidenta Dilma Rousseff, após intensa campanha das Organizações Globo, que monopolizam a comunicação no Brasil, já percebeu que o golpe não era contra o PT. Era contra a ascensão social dos mais pobres e os direitos dos trabalhadores. Era contra o próprio Brasil.

Tenho 40 anos de vida pública. Comecei no movimento sindical. Fundei um partido político com companheiros de todo o nosso país e lutamos, junto com outras forças políticas na década de 1980, por uma Constituição democrática. Candidato a presidente, prometi, lutei e cumpri a promessa de que todo o brasileiro teria direito a três refeições por dia, para não passar fome que passei quando criança.

Governei uma das maiores economias do mundo e não aceitei pressões para apoiar a Guerra do Iraque e outras ações militares. Deixei claro que minha guerra era contra a fome e a miséria. Não submeti meu país aos interesses estrangeiros em nossas riquezas naturais.

Voltei depois do governo para o mesmo apartamento do qual saí, a menos de 1 quilômetro do Sindicato dos Metalúrgicos do da cidade de São Bernardo do Campo, onde iniciei minha vida política. Tenho honra e não irei, jamais, fazer concessões na minha luta por inocência e pela manutenção dos meus direitos políticos. Como presidente, promovi por todos os meios o combate à corrupção e não aceito que me imputem esse tipo de crime por meio de uma farsa judicial.

As eleições de outubro, que vão escolher um novo presidente, um novo congresso nacional e governadores de estado, são a chance do Brasil debater seus problemas e definir seu futuro de forma democrática, no voto, como uma nação civilizada. Mas elas só serão democráticas se todas as forças políticas puderem participar de forma livre e justa.

Eu já fui presidente e não estava nos meus planos voltar a me candidatar. Mas diante do desastre que se abate sobre  povo brasileiro, minha candidatura é uma proposta de reencontro do Brasil com o caminho de inclusão social, diálogo democrático, soberania nacional e crescimento econômico, para a construção de um país mais justo e solidário, que volte a ser uma referência no diálogo mundial em favor da paz e da cooperação entre os povos.

Artigo originalmente publicado pelo jornal francês Le Monde. Acesse a versão original.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

12 Comentários

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    1. Nâo nos enganemos…,…estão

      Nâo nos enganemos…,…estão nos enganando para nos deixar cordeiros…..o eleito entenderá que a força da liderança de Lula fará contraponto ao golpista de plantão…ou será que já se esqueceram dos tuites dos generais bufões….somente o povo organizado tem poder de arrancar Lula da Guatánamo do juiz de piso….

  1. BOM dia presidenteLULA LIVRE

    BOM dia presidente

    LULA LIVRE !!!

    Que o BRASIL a cada dia não se esqueça de que, NESTE MOMENTO, o MAIOR de todos os brasileiros se encontra preso INJUSTAMENTE em Curitiba  ..preso por NOSSAS faltas e pecados ao não termos conseguido desenvolver um sistema que respeitasse a vontade e a NECESSIDADE da ampla maioria dos que necessitam da ação dum Estado social e democrático 

    Presidente

    Sinto muito em lhe dizer, mas eles não deixarão o sr retornar  ..a menos se por pressão internacional e apoio das FORÇAS ARMADAS

    Hoje, infelizmente, seu retorno não significaria (assim como NÃO SIGNIFICARÁ o retorno de NENHUM outro) o apaziguamento e o reencontro do BRASIL com seu melhor destino  ..e sabe porque meu líder ?

    Porque dentre nós ainda existirão estes golpistas vagando livremente, trmando, conspirando, desestabilizando, eles que, NADA INDICA, nenhuma Instituição esta com disposição, ou forças, pra lidar ou conter..

     ..a começar pelo PODER JUDICIÀRIO, um Poder ASSIMÈTRICO, incontrolável, comandado por títeres, por nababos vitalícios, inimputáveis e intocáveis que puxaram pra si, ARBITRARIAMENTE, a tarefa de nos sufocar ao, hoje, ATÉ INVETAREM LEIS e regras que deformaram a Constuição de forma casuística, criminosa..

    ..e tudo isso só pra fazer com que os interesses duma minoria (inclusive de estrangeiros) se impusessem sobre a necessidade urgente das milhões de famílias que ainda esperam e vivem próximas, ou abaixo da linha de pobreza.

    Mas tenha certeza duma coisa dr Luiz Inacio  ..sua parte, COMO NUNCA NENHUM OUTRO, ninguém neste país, a sua parte o sr fez

    Meus respeitos e parabéns

  2. É só você querer

    Que amanhã assim será!

    Agora é Lula, agora é Lula, EU QUERO LULA!!!

    Mas sem conciliação de classes, nem aperto de mão com Paulo Maluf.

  3. Lula será Presidente

    Ele mesmo ou com outro nome, de quem ele indicar. Indultado ou inocentado e livre poderá ocupar o cargo que quiser no ministério e aplicar tudo o que achar melhor em favor do Brasil e os brasileiros. Todos seremos Lula, todos seremos presidentes, congressistas e fiscais de rua em favor do novo governo.

  4. Lula….

    Nossa saída após 88 anos. Mais Caudilhismo. Mais um ‘Pai dos Pobres’. Surpreendente Projeto de Nação !! Ninguém pensou nisto antes, na história da Am. Latina?!! Eleições Obrigatória com Biometria Obrigatória, consumindo somente neste pleito mais de 2 bilhões de reais. Fora os 180 milhões de reais gastos para exigir tal cabresto da biometria. O problema do Brasil é pobreza? 2 bilhões de reais não ajudaria na solução. E os 15 bilhões que são retirados da Sociedade nos pedágios das estradas brasileiras? E os outros 15 bilhões de reais arrecadados em Cartórios (esta excrecência e máfia feudal do judiciário tupiniquim)? É de um Novo Caudilho que precisamos? A Ditadura getulista acabou, para quem ainda não entendeu.  

  5. Eu vivo na parte light da

    Eu vivo na parte light da periferia paulistana, eu ouço o que o “povo” fala e pensa de Lula. Eu lamento que Lula se preocupe com o povo, porque o povo não faz por merecer quem se preocupe com ele. Deu vontade de meter o pé na lataria do carrinho 1.0, certamente comprado com financiamento a perder de vista, mas cujo proprietário colou adesivo do Lula presidiário no vidro. O povo de Lula o respeita e admira, mas o resto tem mais é que se ferrar nas mãos dos escravocratas e entreguistas. A gente, da classe média esclarecida, passa aperto, mas se vira pra viver; o povo burro e a classe média xucra que levem ferro, mas, infelizmente, isso não vai aprender nada com isso. Parafraseando Raulzito: “Ei, Luiz Inácio, abandone o palco agora, faça como fez Sinatra, compre um carro e vá embora. Ei, Luiz Inácio, o melhor que você faz: deixá o povo de lado, foge pra morrer em paz”

  6. Globo: inimiga do Brasil

    No décimo parágrafo Lula enfrenta o poder monopolista das Organizações Globo: manipuladora de consciências e promotora do golpe contra o Brasil.

    Assim que os democratas deixarem de lado as mesquinhas pretensões hegemônicas e estiverem unidos, penso que a primeira batalha estratégica para reconstruir a Democracia no Brasil é DESTRUIR o poder político da Globo.

  7. Quando eu vi a foto dos

    Quando eu vi a foto dos tabaréus e tabaroas em nio iorque ontem de imediato me veio a comparação com o casal Lula/Marisa quando presidente. Nenhum deslumbramento, apenas a decência, a dignidade e a responsabilidade de representar o país em eventos internacionais por direito e reconhecimento do trabalho decente e humanitário.  Nao por bajulação, por submissão como Moro/Dória e por isso tanto exibicionismo da dupla de jacús.

    O FHC deve estar se coçando de raiva e inveja. Só o que fez nos últimos anos foi conspirar e atuar para destruir o Lula e agora Lula publica artigo no Le Monde da terra onde ele tem apartamento na Avenue Foch. 

    PS1. E aí apedeutas do Jornalismo, da Procuradoria e do Judiciário brasileiro? Vocês conseguem emplacar um artigo no Le Monde como reconhecimento do trabalho de vocês?

    PS2 – E aí Carminha das farmacêuticas? O STF não poderia se apequenar mesmo. Como diminuir um Judiciário que foi exposto ao mundo pela falta de respeito a leis brasileiras e internacionais. Vão se arrastando que lugar de vermes é sob os dejetos de um país em ruinas.

    1. Como diria a própria Carmen Lúcia: “o escárnio venceu o cinismo”

      Como diria a própria Cármen Lúcia: “o escárnio venceu o cinismo”. Só não imaginava que a frase se relacionava a ela própria!

  8. Muito bom, Lula!

    A campanha para o Nobel da paz para Lula é importante porque abre o debate sobre sua condenação. Através desse movimento, esses presidentes e primeiros ministros, pela primeira vez, dizem alta voz que Lula é preso politico. A imprensa francesa tem levado em conta de que o Judiciario brasileiro seria um poder independente e que estaria fazendo um grande trabalho de limpeza ética. Seria bom um documentario sobre o que é Judiciario no Brasil. 

    Também espero que o filme “O processo” saia logo nas salas europeias. Acho que esse sera o grande momento onde a população de paises como França, Espanha, Italia, Inglaterra, tera consciência do que realmente aconteceu em nosso Pais. Porque a imprensa europeia tem sido cavalgada pelos editores da imprensa nacional e tem uma “armada de robôs” que, em qualquer entrevista, artigo ou editorial sobre Lula e Dilma, saem dizendo que eles roubaram milhões e que afundaram o Brasil. Esse pessoal do Bolsonaro na Internet tem provocado muita confusão e mentiras e quase nunca é desmentido onde propaga suas mentiras.

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