Maconha legal, apesar da ilegalidade

Este fim de semana fui convidado para um churrasco na casa de amigos. Lá estavam vários garotos na faixa dos 24 anos e alguns adultos na faixa dos 50 e 60 anos. Cerveja, vinho, carne assada e o jogo do Corinthians rolando na TV.

O papo oscilava entre política nacional e a decadência do Timão, que ficou sem poder de fogo depois que foi desmanchado. A única unanimidade entre os presentes era a excelência do frango temperado por um dos garotos e o absurdo do país estar sendo submetido a um golpe de estado paraguaio.

Os dois grupos estavam misturados, mas em certo momento os adultos ficaram na sala e os garotos se reuniram na varanda em frente a mesma. Notei algo diferente e fui conferir. Foi então que vi pela primeira vez um dos garotos girando as duas peças do equipamento juntas (foto acima). Curioso, perguntei para que servia e o rapaz abriu e me mostrou o conteúdo. O cheiro da erva que estava sendo macerada dentro do pequeno equipamento era de maconha.

Ainda curioso, perguntei onde o rapaz tinha comprado. Ele disse que ganhou de um dos colegas ali presentes. E o mesmo me informou que tinha um igual e que havia comprado ambos numa tabacaria em São Paulo. O equipamento também poderia ser comprado numa banca de jornais. Perguntei o preço e fui informado: em torno de 15 reais.

Após se macerada, a maconha foi espalhada numa seda, a mesma foi enrolada e colada com saliva. Das mãos do hábil rapas surgiu um perfeito “baseado” com as dimensões de um cigarro comum. Os garotos acenderam e compartilharam o cigarro. Na sala, há alguns metros, os pais de dois deles seguiram tomando cerveja e nem mesmo deram atenção à conduta dos filhos. O único garoto presente que não fez uma faculdade é efetivo das Forças Armadas. Ele também participou da “pagelança”.

Os dois grupos voltaram a se misturar. Não ouvi uma só recriminação feita pelos pais dos garotos que consumiram maconha. A naturalidade da cena – e, confesso, da fabricação e comercialização do macerador da droga – foi experimentada por mim com certo estranhamento. Aquilo seria impensável há duas décadas. Há três décadas produziria conflitos imensos entre pais e filhos.

Após fazer uma pesquisa no Google, descobri que o equipamento é vendido na internet como “dichavador/dechavador de temperos e ervas finas” e o preço médio varia entre 15 e 40 reais http://lista.mercadolivre.com.br/dichavador-de-ervas. Sem muito esforço também localizei um guia de como fazer um cigarro de maconha com uso do equipamento referido http://pt.wikihow.com/Fazer-um-Cigarro-de-Maconha.

Estudos indicam que existem 1,5 milhão de usuários de maconha no Brasil http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/08/estudo-diz-que-15-milhao-de-pessoas-usam-maconha-diariamente-no-pais.html. Portanto, estamos diante de um mercado potencial da ordem de 22,5 a 60 milhões de reais, uma verdadeira bolada de dinheiro. Onde são fabricados estes equipamentos? Qual o custo de produção por unidade? Qual o lucro dos industriais? Nenhuma destas perguntas pode ser respondida.

Uma coisa é certa: se a liberação da droga duplicar o número de usuários é previsível um crescimento imediato na produção e comercialização de dichavadores/dechavadores. Antes mesmo de ser liberada, contudo, a droga já é legal para aqueles que fabricam e vendem equipamentos associados ao seu uso.  

Fábio de Oliveira Ribeiro

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