Mantras. Repita: mantras, por Mariana Nassif

Mantras. Repita: mantras

por Mariana Nassif

O candomblé tem cantigas normalmente pequenas, embora complexas, especialmente por serem em iorubá, no ketu. Daí que a repetição é algo importante para estimular a entrega, a dança, a naturalidade para que tudo – que não é pouco – aconteça.

Versos. Não necessariamente no plural. Posso ir por partes. Sim, posso. Uau, como é gostoso me permitir usar esta palavra. Vou até colocar na pessoa certa do singular: eu posso ir por partes.

E não que eu tenha escolhido logo esta parte, mas é a tal “parte que me toca”, e toca no que existe de mais íntimo, de mais “geminha” possível. Certo, comecei o ano com a meta oblíqua de resolver pendências, por mais dolorosas que fossem e sejam, e de certo marquei diversos pontos neste sentido. Alguns outros, essenciais que são, ainda estão em estado de alerta – o tempo, senhor de tantas razões, vai me levar a resolver estes também.
Mas eis que chega o momento de encarar o espelho. Ui. Medo. Muito medo do velho hábito desta parte. Me ver e recitar o mantra da mudança, tão curto, simples e pontual parece, à primeira vista, coisa corriqueira e dever acerca da inerente responsabilidade de cuidar do que é meu. E nada é mais meu que eu mesma, e acredito que tão somente eu seja parte do que é meu, num contexto terreno e carnal, vale explicar. Mas… ah! este mas… dá tanto tempo pra pensar em tanta coisa que penso em abolir do vocabulário presente e só voltar a usar quando souber fazer bom uso deste tempo que ele me dá. Então, sigo. Vamos lá… Mariana, repita comigo o tal mantra da mudança. Agora. Faça. Imperatividade há de funcionar… não, não, sem reticências no momento, pontue. Pontue corretamente e diga o mantra. O repita a cada olhar no espelho, mesmo que te sirva só pra arrumar o cabelo em fase de crescimento, o que tem atormentado um tanto – quase tão indomável quanto o tempo hábil pra pensar em tanta coisa que a palavra “mas” proporciona.

Vá. Fale. Repita. Incansável e solenemente, repita: é agora, e não depois. Comece. Não vai doer. Te prometo, não vai doer nem um milésimo se comparado ao que você sente desde sempre – opte por repetir o mantra e mude. Opte, Mariana.

Devaneios em diálogos comigo mesma, isto funciona. O texto mal acaba e já fui até o espelho repetir. Ora, são três palavras apenas. Simples, curto, vai funcionar. Sorria enquanto repete. Faça de si o que quer ser neste e em todos os momentos. Simples e feliz. Pronto. Ser feliz.

Estou feliz. Recolhida para minha mãe nascer em mim, e isso só pode ser muito bom.

 

 

Mariana A. Nassif

2 Comentários

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  1. Capoeira pode significar

    Capoeira pode significar dança, luta, resistência cultural ao opresor ou apenas o mato fechado. A mente fechada não percebe a sutileza de um discurso que considera diferente, estranho, desviante. O seu discurso, menina, também opera por desvios. Você fala de candomblé mas está jogando capoeira. Gira o mantra, gira o texto, gira o mundo pomba-gira. E de-reprente sem querer querendo você sentou o pé na moleira dos intolerantes indigentes que erguem muros de blééééééblia e praticam violências “em nome de jesuis”. Cruz credo. Vá-de-retro-satã. Iansã vai fazer uma tempestado nas pequenas igrejas grandes negócios para nos livrar destas cobras que querem voar lá para Brasília. 

  2. Novos Tempos?

    Nassif: mesmo negro confesso minha ignorância aos cultos das minhas raízes. Fui regado noutros mantras. Fui curtido noutra fé. Mas o som dos atabaques e dos bongôs despertam em mim sentimentos profundos, culturalmente ignorados. Quanto a liguagem do texto, confesso foi para mim um tanto ermético, sibilino. Parece feito para iniciados. Quem sabe um dia eu seja alcançado pelo “mantra da mudança”?

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