Maria do Rosário x Bolsonaro: uma disputa de anões titânicos

A semana foi agitada pela controvertida disputa entre a petista humanitária e o eterno militar truculento e golpista. A ofensa feita por Bolsonaro a Maria do Rosário já lhe rendeu pelo menos 4 processos: pedido de cassação na Câmara dos Deputados; denúncia por incitação ao estupro no STF; ação de indenização por dano moral e; queixa crime por ofensa a honra da colega parlamentar.

Maria Rosário e Bolsonaro tem milhares de seguidores nas redes sociais. O confronto entre ambos na mídia se espalha pela internet com acusações mutuas engraçadas e desagradáveis. 

Os adeptos de Bolsonaro chamam os seguidores de Maria do Rosário de feminazis, de tiranos que querem implantar uma ditadura gayzista no Brasil. Os fiéis escudeiros da deputada ofendida chamam o adversário dela de nazista e divulgam fotomontagens dele como se fosse Hitler. Há exageros de ambos os lados.

Não se pode comparar o feminismo ao nazismo, movimento político-ideológico que cultuava a virilidade masculina e não tolerava a igualdade de gênero. Os nazistas certamente condenariam qualquer indício de pretensão feminina à superioridade das mulheres sobre os homens. Ao contrário de Hitler, que foi condecorado por bravura durante a I Guerra Mundial, Bolsonaro é um soldado sem experiência num campo de batalha. Portanto, a comparação entre ambos é um exagero histórico. O brasileiro pode, no máximo, ser comparado a um guarda de campo de concentração nazista.

O resultado das ações propostas contra Bolsonaro é incerto e, felizmente, não serei encarregado de julgá-las. Afinal, qualquer que seja o resultado haverá reações desagradáveis por parte do grupo que se sentir prejudicado. Em disputas desta natureza, que mobilizam a irracionalidade popular, os anões crescem até se tornarem titânicos. 

Não aprecio Bolsonaro, tampouco sou defensor de Maria do Rosário. Creio, porém, que o primeiro se excedeu e tem que pagar pelo excesso. Ele não foi moralmente ofendido, tampouco foi ameaçado. Sua conduta no plenário do Congresso foi antiética, injustificada e provavelmente criminosa. Mas isto não quer dizer que a petista seja uma vítima totalmente ingênua.

Maria do Rosário pertence ao PT, mesmo partido a que Fernando Haddad é filiado. O prefeito de São Paulo foi eleito com a ajuda de Paulo Maluf, aquele que um dia disse às redes de TV que não tolerava a violência dos criminosos e pediu aos estupradores que não matassem suas vítimas.

A companhia política de Maluf parece não ter incomodado Maria do Rosário até a presente data. Não me lembro de vê-la desqualificar publicamente Fernando Hadddad em razão do PT ter aceitado o apoio de alguém cujo discurso poderia ser interpretado como incentivo ao estupro não violento (muito embora a violência seja um elemento constitutivo deste tipo de crime; violência que, aliás, é presumida se a vítima for menor).

Bob Fernandes, sempre eloqüente, ridicularizou Bolsonaro no Jornal da Gazeta. Rachel Sheherazade saiu em defesa de seu amigo evangélico. Em razão dos discursos do deputado e da sua defensora jornalística, sou tentado a concluir que o principal dogma da religião de ambos é “Maria mãe de Jesus foi estuprada por Deus”. Somente formulado desta maneira o dogma explicaria a coesão entre a crença de ambos na divindade de Jesus e a estuprabilidade das mulheres odiadas por ambos.

Entre os primeiros mortos desta guerra de palavras estão: a lógica, a proporção e a coerência. Nesse sentido, os titânicos anões parlamentares não conseguiram mudar a principal característica do debate político brasileiro.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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