Marina: remédio e veneno para o PSDB

 

Como dizia Paracelso, a dose certa diferencia o remédio do veneno. Um total de vinte milhões de doses de Marina inoculadas em todo o país talvez tenha sido alto demais para o futuro do tucanato.

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Sim. A candidatura agonizante de José Serra ganhou uma sobrevida. Marina tirou votos de Dilma e pôs o tucano no segundo turno, quando já não tinha mais esperanças de um fato novo.

O desânimo também já tomava conta da mídia aliada, que percebeu que não houve qualquer movimentação do eleitorado graças às denúncias.

É evidente que por conta do espelho de narciso, a mídia vai tentar capitalizar os feitos, mas as consciências mais críticas já admitem que não foi o denuncismo que moveu o eleitorado – o que mostra que os efeitos de escandalização já não afetam tanto a opinião pública, com no passado recente.

Desta forma, Marina foi o último remédio para evitar a morte da candidatura serrista. Mas a dose pode ter sido alta demais.

Isso porque, até horas antes do pleito Aécio (e o PSDB nacional) já assinava a condição de “líder isolado das oposições”. Em poucas horas, Aécio ganhou uma concorrente de peso.

Hoje o que parece remédio para o PSDB, pode ser veneno para suas pretensões presidenciais em 2014.

Primeiro, porque as chances dos tucanos chegarem ao poder agora são remotas. E isso é admitido até por aliados.

Segundo, porque num possível desgaste de Dilma até 2014, hoje Marina tem trunfos que não são compartilhados por Aécio e nem apareciam em nenhum candidato “visível” no cenário nacional até horas antes do resultado das eleições.

Vamos enumerar alguns

1. O fator Marina pode o sintoma do início da saturação da bipolaridade PT-PSDB. Bem arquitetada, sua campanha em 2014 (se quiser realmente dar continuidade ao projeto) pode evidenciar processo. Aécio, pelo contrário, terá que lutar contra esta saturação. O que é contraditório para quem a bandeira deve ser a renovação da política.

2. Marina já conquistou o apoio de parcelas jovens do eleitorado. Aécio ainda não tem este feedback

3. Numa estranha conjugação, Marina conseguiu seduzir parcelas progressistas e conservadoras da sociedade. O arco de Aécio não parece ser tão amplo.

4. Dentro disso, Marina terá mais facilidade para dialogar com os movimentos sociais do que Aécio.

5. Marina mostrou-se carismática em nível nacional; enquanto o carisma de Aécio se dá em nível estadual.

6. Aparentemente, pesa contra Marina o fato de não estar no Congresso. Mas isso pode ser favorável na medida em que também não haverá desgaste. Lula, por exemplo, se elegeu sem estar na vida pública parlamentar.

7. O eleitorado basicamente lulista, principalmente, no Nordeste, poderá migrar para Marina, por identificação de origem. Dificilmente isso aconteceria com Aécio.

8. A identificação explicitamente mineira de Aécio – assim como a identificação explicitamente paulista de Serra – pode gerar resistências em outros colégios eleitorais. Marina pode ser o desaguadouro deste anti-regionalismo.

9. Uma tentativa de Lula em retornar ao poder soa mais dramático para Aécio do que para Marina, por todos os motivos acima.

10. Aécio, com o PSDB, passa a ter gosto de passado (a memória de FHC, Serra etc); Marina projetou sua imagem, apesar das adesões ultraconservadoras, para o futuro.

Como dizia Paracelso, a dose certa diferencia o remédio do veneno. Um total de vinte milhões de doses de Marina inoculadas em todo o país talvez tenha sido alto demais para o futuro do tucanato.

Por razões diversas, o mesmo se aplicaria às pretensões do PT. Mas  não parece que este ficará fora do poder nacional até 2014.

Redação

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