Matrículas em escolas particulares subiram 14% de 2010 a 2013

Sugerido por Pedro Penido dos Anjos

Do O Globo

Rede pública perde alunos para escolas privadas, segundo Censo
 
Enquanto número de matrículas em unidades dos governos caiu 5,8% de 2010 a 2013, colégios particulares tiveram aumento de 14%
 
LEONARDO VIEIRA – O Globo
 
RIO – A educação pública no Brasil está encolhendo, enquanto a rede de ensino privada cresce ano após ano. Os dados do Censo da Educação Básica de 2013, divulgados anteontem, mostram que o número de alunos matriculados em escolas particulares subiu 14% de 2010 a 2013, passando de 7,5 milhões para 8,6 milhões. No mesmo período, a quantidade de estudantes em instituições públicas recuou 5,8%, caindo de 43,9 milhões para 41,4 milhões.
 
Em 2010, havia 51,5 milhões de estudantes no ensino básico. Desse total, 85,3% eram de matrículas na rede pública. Hoje, as escolas públicas ainda educam a grande maioria dos alunos, mas o percentual caiu para 82,8% das atuais 50 milhões de matrículas no ensino básico nacional.
 
Veja aqui os números do Censo da Educação Básica de 2013.

 
Para o o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, essa tendência é explicada pela ascensão da nova classe média, que, diante dos problemas da educação pública no país, matricula seus filhos em instituições particulares. De acordo com o especialista, esse fenômeno acaba por prejudicar ainda mais as famílias de menor renda, relegadas ao estudo no sistema público, esquecido e carente de investimentos.
 
— À medida que as famílias da classe C ganham renda, elas tiram seus filhos da escola pública, pensando que, em escolas particulares, o ensino estará garantido e terá melhor qualidade, o que nem sempre é verdade — explica Cara, que defende ainda o apoio técnico e financeiro do governo federal a estados e municípios.
 
Em quase todas as unidades da federação, a rede pública encolheu e a privada avançou. Em Roraima, por exemplo, o número de matrículas em escolas privadas aumentou 42,6%, enquanto o ensino público cresceu apenas 0,7%. Na Bahia, a quantidade de estudantes pagando mensalidades saltou 20,5%, ao passo que, nas instituições dos governos, a queda foi de 7,8%. O Rio de Janeiro é o estado onde se verifica a maior perda de matrículas no ensino público: 11,8% de 2010 para 2013. No mesmo período, a rede particular aumentou 21,3%. O Acre foi o único estado onde houve retração do ensino privado (2,1%).
 
De acordo com o coordenador, ainda falta mais cobrança por parte da população em geral para um ensino público de excelência:
 
— Somente quando a população em geral começar a cobrar por um ensino público de qualidade, ao invés de concentrar investimentos no setor privado, é que o Brasil terá escolas municipais estaduais de excelência. Se os filhos da classe média e da elite estivessem matriculados em uma escola pública, talvez essas unidades seriam um pouco melhores do que são hoje — resume Cara.
 
O Censo não forneceu os dados das diversas etapas do ensino divididos entre as redes públicas e privadas. Assim, não há como saber se há uma fase da formação puxando essa queda nas matrículas de escolas públicas. Segundo a pesquisa, de 2012 para 2013, o número total de estudantes subiu nas creches (7,5%) e na pré-escola (2,2%). Nos primeiros anos do ensino fundamental, houve queda de 1,5% e, nos anos finais, redução de 2,8%. Já no ensino médio, a retração foi de 0,7%.
 
Ensino médio preocupa
 
De acordo com o Ministério da Educação, os dados do ensino fundamental indicam estabilidade e queda nas taxas de reprovação. Entretanto, a diminuição de matrículas no ensino médio expõe um dos grandes problemas da educação nacional. Muitos alunos abandonam a escola nesse período, e as políticas públicas não estão surtindo o efeito desejado para evitar essa evasão.
 
De 2010 a 2013, houve queda de 0,5% no total de matrículas do ensino médio nacional. Analisando dados por estados, verifica-se que esse movimento varia muito. Enquanto Piauí e Pernambuco registraram as retrações mais acentuadas (11,5% e 10%, respectivamente), Roraima, Acre e Amazonas tiveram as maiores expansões nas matrículas do ensino médio, de 18,7%, 14,9% e 14,3% respectivamente.
 
Em quatro anos, o Rio teve queda de 4,3% nas matrículas do ensino médio. De acordo com o secretário Estadual de Educação, Wilson Risolia, o governo fluminense já vinha acompanhando a tendência. Segundo ele, o abandono das escolas por parte dos alunos explicam o declíno, o que levou o estado a adotar medidas pedagógicas e a investir em políticas assistenciais.
 
Risolia cita, por exemplo, que os alunos com chances de repetência vêm recebendo aulas de reforço. Se, no final de 2010, esse benfício atingia apenas 4% dos estudantes, hoje, alcança 25% dos alunos, de acordo com o secretário. Ele também menciona o programa Renda Melhor Jovem, que fornece uma espécie de poupança aos estudantes para que eles não deixem a escola a fim de buscar um emprego.
 
— Temos que tornar o ensino médio mais útil para a vida deles. Do contrário, com toda certeza, muitos vão abandonar — comenta Risolia.
 
Para Risolia, grande parte da explicação para o abandono da evasão na última etapa do ensino básico se deve ao currículo, que precisaria ser reformado. Segundo ele, uma das saídas para despertar o interesse dos jovens pelo estudo reside na ampliação da carga horária das aulas, além de uma abordagem pedagógica mais integrada com outras áreas do conhecimento. Ele lembrou que o estado do Rio tem como meta transformar 100% da rede estadual em ensino integrado, onde o aluno permanece na escola das 7h às 17h.
 
— Hoje nós temos que repassar um conteúdo de 13 disciplinas em apenas 4h horas diárias, cinco dias por semana. É impossível, Mas com a escola de tempo integral, o aluno não só estuda a matéria de Física, por exemplo, mas também tem tempo para aprender onde todos aqueles conceitos físicos são aplicados.
Redação

10 Comentários

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  1. Não é um dado para se surpreender, muito menos má notícia,

      pelo contrário, ganha-se duas vezes, foi pra particular quem tem convicção que vai para uma escola melhor, quem fica na pública conta com mais verba para cada aluno o que deve melhorar o ensino público.

        A questão é que o governo precisa ter consciência que com a melhora gradual dos serviços públicos vai chegar um momento de ruptura com esse modelo duplo onde ele terá que assumir todo o sistema, isso ocorrerá quando a qualidade das duas redes se igualarem e não terá sentido pagar por um serviço que o estado já disponibiliza satisfatoriamente,  isso não só na educação, na saúde também, é preciso ter um plano já pronto para quando esse momento chegar, esse desafio já foi estabelecido no momento em que se decidiu pela construção do tão buscado estado de bem estar social.

    1. Num certo sentido é má notícia sim, pq significa engano dos pais

      Pais que nao tinham como pagar escola particular antes e agora têm provavelmente nao têm tanto assim para pagar escolas realmente melhores. Vao pagar por arapucas, crentes que estao fazendo tudo o que é melhor para os filhos. E exatamente agora quando ter feito os anos escolares em escolas públicas dá vantagens no acesso a escolas técnicas e a universidades. Dá uma certa tristeza. Mas enfim, é errando que se aprende. 

  2. Espera um pouco…Em 2010

    Espera um pouco…
    Em 2010 eram 43,9+7,5 e em 2013 41,4+8,6?
    Em 3 anos o sistema de ensino do Brasil perdeu 1,4 milhões de matrícolas? A população já está declinando assim?

  3. Puxa vida!
    Cadê os

    Puxa vida!

    Cadê os comentários?

    Não há ninguem por aqui pagando escolas particulares para filhos, netos, e, em casos muito novamente particulares, até para bisnetos?

    Eu, que sempre estudei em escolas públicas, as vezes até reclamando bastante – reclamações aquelas que eu guardava de mim para mim – me livrei dessas há +/- uns 5 (cinco) anos.

    Graças às Universidades Federais.

    Agora, para essa turminha, estou dando uns 10 (dez) anos de carência.

    Depois disso vou querer o meu estorno, com correções monetárias,e , se possível, um jurinho módico e civilizado.

    Ora essa!

    Correção: jardim de infância, desde o primeiro período, fí-lo, pg carnezinho por carnezinho, no extinto Instituto Santa Helena em Belo Horizonte, a minha ex capital do mundo.

     

  4. Há provavelmente uma perda de

    Há provavelmente uma perda de alunos da rede pública para a rede privada, decorrente do aumento da renda das famílias e a estigmatização das escolas públicas (que têm muitos problemas, mas que são bastante exagerados. Por exemplo, o responsável pelo PISA, estudo internacional comparativo da educação dos países, mostra que, quando se “desconta” o peso do nível socioeconômico dos alunos, desaparecem mais ou menos 2/3 da diferença de desempenho entre escolas particulares e públicas no Brasil. Ou seja uma parte importante da vantagem das escolas particulares não está no que elas “entregam” aos estudantes, mas às condições familiares vantajosas das famílias. Esta não é uma boa notícia, pois tendem a ser justamente as famílias em melhores condições, com mais capital cultural e condições e meios de avaliar, acompanhar e exigir qualidade da educação que “fogem” da escola pública.

    Mas, mais importante aqui é notar que parte importante da redução nas matrículas na escola pública deve-se a uma melhoria do fluxo ou eficiência interna, geralmente expressa nas taxas de reprovação e de distorção idade/série. Como a reprovação é bem mais alta na rede pública e particularmente, nos anos finais do ensino fundamental e adiante, a redução no número de matrículas decorrente da melhoria do fluxo se expressará mais aí. O que é, isto sim, uma notícia boa.

  5. Coitado dos alunos. Q visao idiota do q é escola integral

    10 hs por dia? Ede aulas e/ou reforço? Aí é que vai virar prisao mesmo. Tem que diminuir o número de disciplinas, 13 é um escracho. E colocar atividades artísticas, esportivas, clubes de línguas, teatro, isso sim. E com possibilidade de ESCOLHA por parte dos alunos, nao como atividades obrigatórias. Inclusive com TEMPOS VAGOS, para os alunos escolherem o que querem fazer, ou só ir à discoteca, à biblioteca, à piscina, etc. 

  6. Mas isso só comprova a crise

    Mas isso só comprova a crise profunda que vivemos no Brasil. Como os pais estão tendo oportunidade de pagar escola particular, é claro que o numero de matriculas das escolas particulares vão aumentar,

    Crise igual a esta, qualquer país gostaria de ter.

  7. Quem ganha com isso são os sistemas de ensino

    Como comentado na reportagem, escola privada não é garantia de qualidade, ao contrário do que pensam 90% dos pais. Então, é preciso um “selo de qualidade”.

    É aí que entram as grandes marcas da educação: Objetivo, Abril, Anglo, Coc, Positivo e outras mais pelo Brasil. O pai vê aquela empresona está por trás do material que o filho usa e acha que isso é garantia de bom ensino. As empresas, por sua vez, têm que fazer materiais à prova de professor, para que os mal preparados não estraguem o nome do sistema. Então, temos milhões de alunos estudando com as apostilas mais burras e engessadas que existem.

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