Médicos relatam pressão para receitar medicamentos sem eficácia

48,9% dentre quase 2 mil médicos relataram pressões de pacientes ou de parentes para prescrição de remédios, segundo Associação Paulista de Medicina

Foto: Abinoam Jr – via Wikipedia

Jornal GGN – O debate político – muitas vezes liderado pelo presidente Jair Bolsonaro – sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no combate à covid-19 tem colocado médicos sob grande pressão, mesmo com a existência de diversas pesquisas científicas mostrando que tais medicamentos são ineficazes contra a doença.

Levantamento elaborado pela Associação Paulista de Medicina mostra que 48,9% de quase 2 mil profissionais entrevistados relataram pressões de pacientes ou de parentes para a prescrição de medicamentos sem comprovação científica. “Notícias falsas e informações sensacionalistas ou sem comprovação técnica são inimigos que os médicos enfrentam simultaneamente à covid-19”, diz o estudo.

A pesquisa divulgada pelo jornal O Estado de São Paulo diz ainda que 69,2% (dos médicos entrevistados) dizem que a propagação de notícias falsas interfere de maneira negativa, “pois levam algumas pessoas a minimizar (ou negar) o problema e, assim, a não observar as recomendações de isolamento social e higiene, ou a não procurar os serviços de saúde”. “Outros 48,9% falam que, em virtude das fake news, pacientes/familiares pressionam por tratamentos sem comprovação científica.”

A Organização Mundial de Saúde (OMS) suspendeu os testes com cloroquina e hidroxicloroquina há um mês, uma vez que todos os resultados apresentados até então apontavam que os medicamentos “não reduziam a mortalidade dos pacientes”. No Brasil, estudo elaborado em 55 hospitais confirmou que a cloroquina não funciona em quadros leves e moderados de covid-19.

Porém, Bolsonaro veio à público na última semana afirmando ter covid-19 e anunciou que tomava cloroquina, chegando a exibir as embalagens do medicamento. O posicionamento do presidente – e do Ministério da Saúde, ocupado por militares – levou à queda de dois ministros durante a pandemia (os médicos Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, contrários ao uso do remédio) e afetam diretamente o atendimento de pacientes.

 

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Redação

7 Comentários

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    1. Na verdade não existe a comprovação que a hidroxocloroquina não seja benéfica para doentes tratados com hidroxicloroquina no INICIO dos sintomas.

      Todos os testes que dizem o contrário, inclusive esse último brasileiro apenas testaram em paciente INTERNADOS, que apresentaram sintomas em média há mais de 7 até 14 dias, muitos deles já estavam nas UTIs 14% e até recebendo oxigenio por vias não invasivas. Não consigo imaginar que pacientes em UTI recebendo oxigenio não seja considerado graves.

      Inclusive no próprio estudo os pesquisadores fazem uma ressalva que é concebível que medicamentos que tem como objetivo conter a replicação viral sejam mais efetivos se tratados mais cedo: “it is conceivable that interventions that may limit viral replication (e.g., hydroxychloroquine) may be more effective earlier in the course of the disease.” (retirado do estudo em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2019014

      Para quem acha frescura essa estória de que quando se aplica um tratamento não tem importancia, vale lembrar que a doenca virotica mais letal conhecida, a Raiva, mata 100% dos doentes que apresentam os sintomas iniciais. Mas o índice de cura é também de 100% quando tratado precocemente.

      Portanto presta uma desinformação, uma Fake News quando se fala que a Hidroxicloroquina não tem nenhum efeito contra a COVID, pois induz a população a erro que pode culminar com muitas mortes perdidas inutilmente vitimas que são, de desinformação.

      O próprio estudo faz essa ressalva e nem poderia ser publicado pois reconhece as limitações e afirma que: “the trial cannot definitively rule out either a substantial benefit of the trial drugs or a substantial harm”.

      Mas todos os veículos de informações afirmam como uma verdade absoluta.

      Quem achar que eu estou inventando basta entrar no link do New England Journal of Medicine e ler com seus próprios olhos. Se precisar de tradução o Google tem um tradutor online de excelente qualidade. Vocês vão se surpreender com as limitações do estudo e da forma leviana com que divulgaram os resultados que, repito, nem poderiam ser publicados.

    2. Nassif, isso é importante.

      Encontrei um erro grosseiro na transcrição dos numeros da tabela referente à mortalidade dos pacientes nos 3 braços da pesquisa.

      nos comentários o estudo informa a morte de 6 pacientes no grupo de controle contra 7 no grupo que tomou HCL sozinha e 5 dos que tomaram HCL + Azitromicina. 6 x 7 x 5

      Mas os numeros reais foram 7 para o grupo de controle e apenas 4 para o grupo que tomou HCL + Azitromicina. 7 x 7 x 4

      Não acho que uma diferença de 7 mortes contra 4 seja uma diferença desprezível. Afinal é um incremento de 75% nas mortes de quem tomou o HCL combinada com azitromicina contra quem nada tomou, ou por outro lado uma redução da mortalidade de 42%.

      Será 75% ou 42% uma diferença desprezível?

  1. Previsível que isso iria acontecer
    Comentário ao post: “Coronavírus: Trump se supera e sugere injetar desinfetante para cura de vírus”, de 24.04.2020

    Luiz Fernando Juncal Gomes 24/04/2020 at 10:43
    Profissão de futuro: sommelier de hospital

    Histórias de quarentena. Uma delas, de um amigo virtual de longa data, e muito conhecido nas redes.

    O dito amigo trouxe a mãe para sua casa na quarentena. Por conta disso, se viu obrigado a entrar no zap no grupo da família pelo lado da mãe. Ele se dá e participa do grupo pelo lado do pai, por afinidades políticas e ideológicas. Do lado da mãe, zero. Mas é compelido a participar para fornecer notícias da mãe ao grupo.

    Em pouco tempo surge ela, a tia, que dispara uma ordem no grupo: “”caso seja infectado, exija cloroquina no início do tratamento”. Assim mesmo, no imperativo. E acrescenta que o medicamento já foi liberado pela Anvisa, relata o amigo.

    Fake News, claro. Ele contém o impulso de esculhambar, e por fim apela para a ironia, e agradece aos prestimosos conselhos da tia dra. Infectologista.

    Aguardem para os próximos dias pacientes dando entrada, caminhando ou de maca, em hospitais caóticos abarrotados, aos gritos, EXIGINDO a tal cloroquina, e xingando a enfermagem e médicos de comunistas. Chegamos ao cúmulo da insanidade de agora os pacientes escolherem como querem ser medicados ou que remédio tomar. Graças ao presidente genocida e o megafone da presidência.

    Como agora são os pacientes que decidem, não mais os médicos, em muito breve cada hospital terá o seu sommelier. Ele chega no quarto, trajando impecável terno branco, colete, gravata borboleta, em mãos várias cartas (menus) de medicamentos, que distribui ao paciente e familiares. E começa a tirar o pedido. Consultado, emitirá opiniões a respeito dos lançamentos do mercado ou daqueles que estão “saindo muito” ou que tem boas referências: este aqui está muito bem recomendado pelo presidente, combinado com a azitromicina. Já esse outro, é novidade, está bombando, vem com a grife Donald Trump, versões Kalipto (Bombril) ou Ypê (Química Amparo), nas fragrâncias Eucalipto, Pinho , Lavanda ou Capim Limão. Já esse outro aqui, é uma garrafada que está fazendo muito sucesso, recomendação da ministra Damares, já vem ungida.

    Lá (EUA) como cá (Banânia), paga-se o preço de se tratar urna eleitoral como latrina.

  2. Pra desovar cloroquina, tem que convencer a pessoa a tomar cloroquina. O presidente está com problema, aquele estoque “infinito”. Acontece que o paciente tem direito ao tipo de tratamento que deseja, mas ele deve ser informado e deve ter consentimento. Aí onde entra a roleta russa: se está desinformado, emburrecido ou algo semelhante, ele pode decidir?
    Esse é o liberalismo perverso e tosco para a patuleia (independente até mesmo de classe social): você é livre (até onde, não se diz), mas se você é um tolo ou idiota, ou um iludido, tem liberdade? Não há liberdade sem racionalidade e conhecimento; como você não sabe, melhor ser arrogante.

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