Memórias de uma “boa ditadura”

Em razão dos 50 anos do golpe de estado de 1964 proliferam na internet textos atacando e defendendo a ditadura, que alguns chamam de ditabranda ou mesmo de “regime militar”. O próprio golpe é algumas vezes é chamado de “revolução de 1964”.

 

Não vou entrar no mérito desta discussão. Meu propósito aqui é apenas relatar o que vi e vivi durante aquele período.

 

Nasci em São Paulo no ano da graça de 1964, mais precisamente em 22 de novembro, filho de pai comunista e servidor público municipal. Morávamos então no Jaçanã. Em 1967 minha casa foi invadida várias vezes a chutes por policiais que procuravam o “comunista filho-da-puta”.  Este fato me foi contado por minhas irmãs mais velhas, pois não tenho lembrança pessoal daquelas “batidas policiais”. Tenho um grande sinal no lábio inferior que data desta época, o ferimento foi causado por uma vareta de guarda-chuva. Não lembro como o ferimento foi produzido.

 

Em 1967 minha mãe mudou-se para Eldorado-SP com minhas irmãs e comigo. A primeira lembrança infantil que tenho é do meu pai, que as vezes nos visitava no interior e me levava para passar férias em São Paulo. Eu tinha um misto de amor e ódio por ele. Amor quando ele aparecia, ódio quando ele desaparecia.

 

Certa vez passei uma temporada com ele em São Paulo, mas não lembro o ano. Meu pai me levou à prefeitura onde pela primeira vez na vida vi uma máquina de escrever. O Metrô estava em construção e fomos ver as feridas urbanas que estavam sendo abertas. Um dia meu pai me levou para andar de bonde e eu joguei casca de uva na careca de um cidadão. O tal correu atrás do bonde esbravejando e meu pai desceu do mesmo e avançou de punhos erguidos e aos gritos contra o mesmo: “Você não está vendo que ele é só uma criança?” Ele era perseguido político e eu não sabia nem mesmo o que significava a palavra política.

 

A política entrou em minha vida em 1974, quando meu avô materno foi candidato pelo MDB e apoiou a candidatura de Orestes Quércia. Colecionávamos “santinhos” sem saber que os candidatos da Arena não eram exatamente “santos”. Hoje sei que eles apoiavam uma ditadura que matou e torturou muita gente. Mas na época este fato ainda era por mim desconhecido.

 

Na Escola Primária entrei alfabetizado. Alguns dias depois de matriculado não queria mais ir às aulas. Eu sabia escrever e fazer contas e achava muito chato ficar fazendo cobrinhas no caderno. A professora veio me buscar em casa. Levei uma surra da minha mãe para voltar às aulas. Eu queria usar caneta, mas a professora me obrigava a usar lápis. Na verdade ela me dispensou de fazer aquelas cobrinhas no caderno, mas me proibia de usar caneta.

 

Um dia, no segundo ano se não me engano, briguei com o filho da diretora da Escola e fui expulso da mesma. Meu avô materno e meu tio-avô intercederam. O primeiro era vereador, vice-prefeito o outro. Voltei para escola muito a contra gosto da diretora. Caso isto não tivesse ocorrido eu provavelmente ficaria sem estudar. A ditadura, que certamente era boa para alguns,  não tinha Eldorado-SP nos seus planos. A cidade então tinha apenas uma Escola Primária.

 

Quando estava no terceiro ou no quarto ano, a cidade entrou nos planos da ditadura. Lembro-me bem dos fatos que vou narrar. Eu estava brincando na oficina de meu avô materno, mas ele não estava. Havia saído para fazer um serviço no sertão. Lá pelas tantas, minha mãe entrou correndo e chorosa na casa gritando “João Ribeiro levou um tiro, João Ribeiro levou um tiro.” Minha avó ficou apavorada e saiu para investigar o ocorrido. Minha mãe me levou para casa, me trancou lá e saiu para se informar.

 

No dia seguinte fiquei sabendo o que ocorrera. O “bando do Lamarca” havia atacado a cidade e trocara tiros com a polícia. Um policial chamado “João Ribeiro”, homônimo de meu avô maerno – João Ribeiro de Freitas – levou um tiro no pescoço. Meu avô paterno, Trajano, assistiu ao tiroteio na praça sentado numa cadeira em frente a sua casa. Ele estava picando fumo de corda para enrolar numa seda de palha quando a metralha começou. “São os meninos brincando de bombinha” disse para minha avó paterna quando ela tentou arrastá-lo para dentro.

 

Então, a “boa ditadura” enviou centenas de soldados para Eldorado. Eles ficaram acampados num pasto na entrada da cidade bem próximo à casa onde eu residia. Em pouco tempo passamos a trocar “comidinhas de soldado” por pratos de comida. Os fogareiros de campanha que nós, os moleques das redondezas, ganhávamos dos soldados eram tratados como se fossem coisas muito valiosas. Não valiam nada para eles, que faziam qualquer coisa para se livrar do rancho do Exército em troca de comida quentinha na vizinhança do acampamento. Os soldados também trocavam “banana liofilizada” da ração que recebiam por banana natural, que nós obviamente furtávamos dos extensos bananais que ainda existem em Eldorado-SP.

 

Naquela época havia uma guerra na televisão: a Guerra do Vietnã. Havia soldados ali no pasto há algumas dezenas de metros de nossa casa. Eles eram os inimigos dos amigos de meu pai, mas eu não conhecia estas tecnicalidades. As vezes eu me perguntava se a Guerra do Vietnã havia chegado a Eldorado-SP. De certa maneira a pergunta era pertinente, pois hoje sei que o anticomunismo havia alimentado tanto a guerra norte-americana no sudoeste da Ásia quanto a guerra suja do Exército contra os brasileiros. Houve tiroteio na mata, mas longe de onde estávamos. Lamarca e os seus vararam os sertões em direção ao litoral. Os soldados foram embora deixando nosso pasto mais ou menos limpo.

 

Uma nova estrada foi aberta para ligar Eldorado-SP a Jacupiranga. Eu adorava ir de bicicleta ver as máquinas fazendo terraplanagem e derrubando árvores centenárias cujos troncos tinhas vários metros de diâmetro. Na época eu não sabia que a “boa ditadura” só estava construindo a nova estrada porque ficou com medo de perder aquele território para o “bando do Lamarca”. Sem aquelas escaramuças na cidade provavelmente a estrada não teria sido construída, pois a “boa ditadura” não tinha dado muita atenção a Eldorado-SP até que surgisse um foco da guerrilha na região.

 

A Copa do Mundo é nossa, com brasileiro não há quem possa. Brasil ame-o ou deixe-o. Eram coisas que vi e ouvi na televisão. Havia também Jerry Adriani, Roberto Carlos, Irmãos Coragem e umas cantoras bonitinhas que hoje já devem ser avós se não morreram. Quase ninguém tinha carro, mas todos colecionavam figurinhas de carros. A ditadura garantia à todos o sagrado direito de colecionar figurinhas, inclusive dos artistas da televisão. A televisão também tinha Tarzan, minha série preferida. Tudo em preto e branco, é claro.

 

Em 1974 ou 1975 minha família mudou-se de Eldorado-SP para Osasco-SP. Em 1976 ou 1977 meu pai voltou a morar conosco e fomos todos infelizes para sempre. Ele sofria de “depressão aguda crônica” e foi aposentado por invalidez em 1978. Sempre falava dos “amigos que a ditadura matou”, mas nunca mencionava os nomes deles. Algumas vezes mencionava os nomes de “traidores” que entregaram camaradas ao DOPS, mas não mencionarei o nome dos tais.

 

Da 5ª à 8ª série estudei na EEPG do Jardim das Flores. Atualmente a escola se chama Escola Estadual Lucy A. C. Latorre. Conclui o 1º grau em 1978. Um ou dois anos antes disto, lembro-me bem, ocorreu uma greve de professores que durou várias semanas.  A “boa ditadura” começara a desmoronar. O desmoronamento da ditadura, porém, ocorria a olhos vistos na minha sala de aula. Junto com meus colegas (Cecílio, Carlos, Nelson, Salvador, Volney, Arnaldo etc…) compúnhamos versões dos hinos que éramos obrigados a cantar. As versões eram sempre jocosas e tinham palavrões. É óbvio que conseguirei lembrar  uma versão inteira composta naquela época, mas lembro-me bem de um fragmento do Hino do Exército.

 

A versão oficial do hino diz:

 

“Porém, se a Pátria amada

For um dia ultrajada.

Lutaremos sem temor”

 

A versão que cantávamos era:

 

“Porém, se a Pátria amada

For um dia ultrajada.

Puta merda que cagada.”

 

Hoje sabemos que o golpe de estado de 1964 foi fomentado pelos EUA, sabemos também que oficiais generais foram subornados para apoiar a deposição de João Goulart ou não defender o regime constitucional de 1946. Em meados da década de 1970 nem eu nem meus coleguinhas da na EEPG do Jardim das Flores teríamos condições de saber isto. E mesmo assim achincalhávamos o Exército com bastante propriedade.

 

Em 1964, ano em que eu nasci, “a Pátria amada foi ultrajada” pelos agentes da CIA  e da embaixada dos EUA no Brasil que fomentaram o golpe de estado. Mas os militares não defenderam o Brasil e sua constituição de 1946. Eles preferiram aderir ao movimento por amor à uma potência estrangeira ou porque foram subornados. O comportamento deles, meus caros, só pode ser descrito como uma “Puta merda que cagada.”

 

Hoje ainda posso cantar com orgulho aquele hino jocoso composto na infância  para humilhar este Exército que insiste em ultrajar a pátria amada defendendo a puta merda que cagada que foi feita pelos desonrados soldados brasileiros no passado.

 

Havia finalizado este texto há várias horas. Mesmo assim minha consciência continuou dolorosamente mergulhada no passado, projetando em mim imagens a muito vistas. A mais forte delas foi algo que ocorreu durante a abertura da estrada entre Jacupiranga e Eldorado.

 

Lá estava eu na minha bicicleta vendo a distancia os homens limpando o topo de um monte que seria devorado pelas máquinas até o nível em que eu estava. Uma boa clareira já havia sido aberta, mas uma imensa arvore centenária resistia. Ela era colossal, sua copa há dezenas de metros do chão fazia uma gigantesca sombra. O diametro dela era maior que a pá dianteira da escavadeira que seria usada para a derrubar. Homenzinhos com capacetes coloridos confabulam em volta da máquina. Ora eles levantam as cabeças para admirar o colosso vegetal que os desafia, ora observam o orgulho maquinal parado ao seu lado. Um deles sobe na máquina de esteiras e liga o motor. Posso ouvir o rugido da fera mecânica.

 

O mastodonte moderno anda de ré alguns metros. Então o motor ronca mais alto e uma coluna de fumaça escura sobe de sua chaminé. Não posso sentir o cheiro do combustível queimado. Fixo os olhos na cena. A máquina investe poderosa e lentamente contra o tronco da árvore. O barulho da colisão é curioso, um som surdo preenchido por farfalhar de folhas e ganidos de metal rangendo. No entanto, a árvore nem sai do lugar. A copa dela fica um pouco agitada. O tratorista acelera, o motor e a esteira da máquina gemem e algum tempo depois a árvore se inclina um pouco. Os homenzinhos de capacetes coloridos parecem felizes com o resultado. O tratorista desacelera a escavadeira e volta a acelerar. O motor e a esteira da escavadeira rangem novamente e então ocorre algo mágico. A esteira da máquina se rompe, uma ponta dela fica inerte no chão e a outra amontoada na frente da máquina. Os homenzinhos parecem furiosos. A máquina é desligada. Sento na bicicleta e vou embora, pois nada mais irá ocorrer naquele dia.

 

A natureza venceu uma batalha, mas eventualmente aquela árvore e muitas outras iguais perderam a guerra e foram derrubadas algum tempo depois. A estrada lá está envelhecida e bela, já não parece mais uma ferida cortada artificialmente na mata.

 

Esta lembrança me sugeriu duas coisas. A primeira foi uma reflexão sobre o ato de rememorar. Lembrar dói, esgota, pois as imagens do passado nunca vem de uma vez só e numa sequencia perfeitamente ordenada. Lembramos um fato, lembramos outro fato e mais outro, Depois voltamos a lembrar fatos dentro dos primeiros fatos e fatos dentro de fatos posteriores e anteriores. Neste ponto a memória já está trabalhando mais rápido do que nossa capacidade de ordenar conscientemente cada coisa no seu devido lugar e tempo. A organização dos fatos leva tempo, gasta energia e nos deixa fatigados. O que ocorreu com um homem, comigo, não deve ser diferente qualitativamente do que ocorre com uma sociedade. E isto explica o processo doloroso de recuperação da história feita pela Comissão Nacional da Verdade.

 

A segunda coisa que a imagem daquele conflito entre máquina e natureza me sugeriu é simbólica. De certa maneira aquele evento que vi pode ser comparado à todo processo histórico desencadeado pelo golpe de estado de 1964. A força bruta utilizada pelo Exército, Marinha e Aeronáutica para suprimir a política, limitar a soberania popular e revogar a constituição de 1946 é semelhante à ação da escavadeira que investiu contra a arvore centenária. Num primeiro momento, a sociedade brasileira resistiu ao golpe de estado como se fosse aquele colosso vegetal e produziu estragos na máquina de repressão como a árvore rompeu a esteira da escavadeira. A sociedade, porém, acabou sendo derrotada pelos soldados assim como a árvore foi inevitavelmente derrubada. As maquinas devoraram o monte para construir a estrada removendo todos os obstáculos, a ditadura devorou pessoas para pavimentar o novo regime. Mas hoje, depois de tanto tempo, tudo aquilo que foi feito a força parece muito “natural”. E somente quem viu a estrada sendo aberta com dificuldade e o regime sendo construído com brutalidade tem uma perspectiva correta do que foi feito e com que custo à natureza e à sociedade brasileira. Os ideólogos da ditadura, antigos e novos, porém, não querem ver nada mais do que sua própria ideologia.

 

Uma última lembrança, esta um pouco mais recente e que se refere àquele passado distante. Há uns quinze anos, eu estava tomando cerveja num bar em frente a Faculdade de Direito de Osasco. Na mesa ao lado se sentou um homem um pouco mais velho que eu. Em pouco tempo estávamos conversando. Papo vem, papo vai e a conversa saltou de mulher para política e desta para a ditadura. Contei a ele minha história infantil da guerra em Eldorado e ele ouviu tudo rindo. Depois ele fez uma reflexão sobre as sincronias da vida e me revelou um segredo militar.

 

Na época da guerrilha em Eldorado ele estava servindo o Exército. Ele foi um dos soldadinhos enviados para combater o “bando do Lamarca”. As noites no acampamento, disse ele, eram muito chatas. Os mosquitos, a falta do que fazer… Mas uma noite foi bem animada.

 

Lá pelas tantas um oficial visitou o grupo de barracas próximas de onde ele estava acampado trazendo um garrafão de pinga. A água que passarinho não bebe reuniu os soldados em volta de uma fogueira improvisada e os fez abrir o bico.  E então eles repassaram com o oficial que se fazia de desinformado todas as instruções que tinham recebido acerca do que seria feito nos próximos dias. O oficial ficou satisfeito com o que ouviu, felicitou os soldados pela sua organização, bateu continência e foi embora deixando o garrafão de pinga na roda. No dia seguinte os comandantes do acampamento souberam o que havia ocorrido na noite anterior. Rapidamente descobriram que nenhum dos oficiais do Exército havia participado daquela festinha. Pela descrição que os convivas deram do ilustre visitante noturno, os comandantes da tropa perceberam que o tal era Lamarca. O ousado capitão havia saído fardado do mato e se infiltrado no acampamento para coletar informações sigilosas. O comando ficou furioso, me assegurou o camarada de copo que nunca mais vi.  “Eles nos fizeram jurar que nunca contaríamos o que havia ocorrido.”

 

Não sei se o segredo militar que me foi contado há quinze anos é verdadeiro. Confesso que o recontei aqui por dois motivos. Em primeiro lugar esta história é boa demais para não ser recontada. Se foi inventada por quem originalmente a narrou o mérito do fabulista é grande, inclusive pelos detalhes que forneceu do fato que supostamente ocorreu com ele. Em segundo lugar, confesso que nunca perderia uma oportunidade de manchar a honra militar dos inimigos do amigo do meu pai. Lamarca os fez de palhaços em Eldorado e palhaços alguns deles continuam sendo até hoje ao tentar esconder do povo brasileiro histórias que vazarão de uma maneira ou de outra.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

12 Comentários

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  1. Era algo assim?

    Arroz queremos com feijão

    A pinga queremos com limão

    Porém, se a pátria amada

    Precisar da macacada

    Puta merda que cagada.

    1. Não, não era assim. As

      Não, não era assim. As mudanças que nós faziamos eram bem menores. A maioria dos versos originais dos hinos eram conservados para serem cantados normalmente com o resto dos alunos. Apenas algumas passagens dos mesmos eram modificadas. Quando cantados por nosso pequeno grupo durante as cerimonias na Escola os versos jocosos somente produziam risos nos alunos próximos de nós. A maioria dos alunos, porém, entoava o hino oficial e no geral era este (e não nossa versão) que era escutado. 

    2. Batata só com camarão

      Não, na minha memória o que aprendi com um sargento do Tiro de Guerra, por volta de 1972,  era algo assim:

      Arroz queremos com feijão,

      Batata só com camarão.

      Porém, se a pátria amada

      Precisar da macacada

      Puta merda, que cagada.

       

  2. Quando a cidade entrou nos planos da ditadura

    Um relato emocionante com a cadência e a sequência de uma temporalidade subjetiva, em que as lacunas e os silêncios vão sendo pouco a pouco substituidos pela informação e análise políticas. A dor, o emudecer de um pai, um processo de infelicidade ou de entristecimento mútuo que se instalou na família e na comunidade quando a cidade entrou nos planos da ditadura. E ao final:

    “E somente quem viu a estrada sendo aberta com dificuldade e o regime sendo construído à força tem uma perspectiva correta do que foi feito e com que custo à natureza e à sociedade brasileira. Os ideólogos da ditadura, antigos e novos, porém, não querem ver nada mais do que sua própria ideologia.”

     

    …um apelo corajoso a todos nós, para que nossas perdas não tenham sido em vão. Restauremos a capacidade de fazer política pelo bem público em respeito a todas as famílias que foram vítimas direta ou indiretamente da ditadura militar. Seu número é incalculável.

     

  3. Invasão de beleza
    Dos sentimentos de compaixão e fraternidade brotam palavras que flutuam levadas pela emoção do belo, invadindo o deserto incapaz do sublime

  4. Outra letra

    Ao ler sobre a parodia do hino, lembrei da paródia de “Máscara Negra”,tambem cantada pela rapaziada, não só nos bailes de carnaval, mas também em festinhas e noitadas: Vou gritar agora, não me leve a mal-FORA O MARECHAL!

  5. Eu vi um pouco disso


    Prestei serviço militar em 78 – num NPOR de artilharia – ano em que entrei na universidade. Só que desde os 16 anos, eu militava no setor jovem do MDB da cidade. Um dia, logo no início do ano letivo, estava eu panfleteando contra a ditadura na entrada da universidade, com cabelo raspado, corte militar, quando vi atrás de mim, o capitão-instrutor do NPOR, que também era professor de matemática na instituição. Ele me olhou e apenas disse: “amanhã, na minha sala antes da formatura”. Formatura, pra quem não sabe, na linguagem militar, é aquela formação matinal em filas e colunas, onde os oficiais e sargentos conferem se os soldados estão presentes e bem “apresentáveis”, coturnos limpos, barbas feitas, etc. Resultado: depois de 4 horas de discurso anticomunista, fui “condenado” a passar 4 fins de semana no quartel, detido. Alunos do CPOR e NPOR naõ podiam ser presos em celas, mas apenas detidos nas dependências do quartel. De todos os colegas, a maioria de classe média, alienados, eu contava com a solidariedade de um apenas, não por razões políticas, mas porque ele era meio hippie e não apreciava a hierarquia e a disciplina. Ficou detido comigo várias vezes. Essas detenções se repetiram durante todo o ano, o que me rendeu o “título” de “aluno mais detido” da história do quartel. Nessas detenções, como podia circular por toda a unidade, eu aproveitava pra distribuir exemplares dos jornais Pasquim, Movimento, Coojornal e outros, entre os soldados das 5 baterias. Também tínhamos um esquema que burlava a segurança do quartel e nos proporcionava cachaça da boa, entregue por cima de um muro num ponto combinado, por um pessoal de um bar perto dali. Também lembro que, durante as solenidades, cantava-se o hino do exército com toda a tropa reunida. Quem prestasse muita atençaõ, ou pudesse andar no meio do “coral” da soldadesca, podia ouvir a versão modificada, cantada por uma ou outra voz:

    Arroz, queremos com feijão

    Cachaça, tomamos com limão

    Porém se a patria amada

    Precisar da macacada

    Puta merda que cagada

  6. Diferença entre Revolução e Golpe Militar

    Caro Fabio,

    O ocorrido em 31 de Março de 1964 foi, sim, uma REVOLUÇÃO PUBLICA, apoiada pelos militares que foram conclamados a exercerem o poder de defender a PÁTRIA MÃE, pela maioria dos cidadãos brasileiros, em passeatas organizadas por diversos setores da sociedade, clamando para que não se instalesse no Brasil, o mesmo regime comunista que fora instalado em Cuba (financiado pela URSS).

    Do meu ponto de vista histórico (não me envolvovo em politica, por motivos óbvios)  o Golpe Militar se sucedeu com o advento do AI-5, quatro anos depois.

    Mais uma vez, ao meu ver, mais pela desordem instalada em todas asversivo esferas governamentais, tendenciosas à direita ou radicais por convicção, que pelo oportunismo da situação.

    Subversivo era todo ato que tentasse subverter o poder.

    Oras, qual a diferença de hoje?

    Só se ouve as práticas subversivas…..o povo contunua alheio às manobras de subversão….

    Tem um porem: nem as Forças Armadas, agora, podemos recorrer.

    Estão totalmente subjulgadas, inoperantes, obsoletas (perdem até para o trafico)

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