Mensagem

Prezado cidadão brasileiro, meu nome é Túlio Carvalho, professor de matemática da UEL. Você recebe este e-mail porque está na minha lista de contatos. Vou explicar para você porque voto Dilma 13 em 31 de outubro, e o faço com dois motivos: deixar clara minha posição sobre vários temas, polêmicos ou não, e também conquistar seu voto para o projeto que esta escolha representa.

Eu poderia ficar na minha, pensar que “não é comigo”, e de fato não tenho filiação partidária. Ocorre que o candidato Serra introduziu com vigor o envio de mensagens pela internet como instrumento de campanha. Apenas reajo, como a dizer, aceito o convite de produzir mensagens (esta eu assino). Digo isto a vocês, a maioria paranaense, e alguns podem dizer: como é possível ainda não ter sido convencido a votar em Serra, ou não votar em Dilma?

A primeira questão delicada enfrentada no período do governo Lula foi a da governabilidade. As casas legislativas representam interesses mais difusos, mas as maiorias são necessárias para aprovar mudanças estruturantes. As negociações políticas foram centradas na Casa Civil, com José Dirceu, no início do governo. O chamado Mensalão, nome atribuído pelo deputado Roberto Jefferson, que denunciou o suposto esquema, é de longe o escândalo mais repercutido na história recente da imprensa. As responsabilidades e possíveis compras de apoio ainda estão sendo investigadas no STF. Como vejo esta história?

A maioria no Congresso é conseguida, no sistema político presidencialista, através do atendimento de interesses dos deputados e senadores, supondo que eles se disponham a negociar. Os partidos com grande número de representantes no primeiro mandato de 2002 a 2006 eram de oposição. Em vez de tentar a aproximação com o PSDB, que obviamente tinha intenção de voltar ao governo, a estratégia foi converter em apoiadores os partidos menores, como o PL (extinto), PTB, PDT, etc. Admito que há grande chance de ter havido malfeitos ali. E peço que considere que, do mesmo modo, há registros sobre compra de votos para a aprovação da emenda da re-eleição, que permitiu a Fernando Henrique se manter presidente por mais 4 anos. Em matéria de escândalos políticos, tivemos nestes anos os funcionários fantasmas da Assembleia Legislativa do Paraná, também constatado na Câmara Municipal de Londrina. Teve ainda o mensalão da Assembleia de MG, sob Azeredo/PSDB, e no DF, do governador cassado José Roberto Arruda/ex-DEM e inicialmente o candidato mais forte a vice na chapa de Serra.

Qual a grande diferença entre estes casos? Não houve uma CPI sequer instalada na Assembleia Legislativa de SP nos últimos 4 anos. Se você pensa que é porque a corrupção lá é menor, devo dizer que não concordo. Não concordo que o governo federal tem hoje mais roubalheira que tempos atrás. O que percebo é uma investigação implacável da imprensa a desvios, e mesmo um avanço de sinal vermelho vira notícia, se for do carro de alguém associado a Lula ou Dilma. Ao contrário, isto me deixa tranquilo na minha opção, porque não encontraram nada que pudesse desabonar o mandato de Dilma na Casa Civil.

Nós temos um problema crônico do sistema de financiamento de campanhas, e da relação dos governantes com a imprensa. Eu vejo quem é mais investigado e denunciado como o lado que tem maior credibilidade. Manter a atenção sobre os eleitos e ocupantes de cargos públicos é a única alternativa para combater e inibir a corrupção. O que acontece a Serra? Um repórter lhe pergunta sobre o suposto desvio de 4 milhões de reais de dinheiro de campanha por Paulo Preto. Ele cancela a entrevista, diz que a pauta é petista, e pergunta de qual veículo é o jornalista. Não responde, não precisa responder e ainda faz uma ameaça velada ao jornal e ao jornalista. Esta truculência só pode ser explicada porque o pessoal do PSDB, que se diz “do bem”, “íntegro”, e por aí vai, tem uma relação intestina com a imprensa.

Isto é um fato que está documentado no diário oficial do estado de São Paulo. Há um sem número de contratos sem licitação com a Editora Abril, que edita a revista Veja. O governo de SP comprou assinaturas da revista Nova Escola (editada pela Abril) para todos os professores da rede estadual de ensino de SP, sem que eles tivessem pedido. Sem falar no apoio declarado do jornal “O Estado de São Paulo” à candidatura Serra (que não me escandaliza). Sem falar no apoio velado dos jornais Folha de São Paulo e O Globo ao Serra, que me escandalizam. Você deve precisar de um esforço imenso para se lembrar que houve um bairro da cidade de São Paulo que ficou quase um mês alagado neste verão. E o buraco do metrô (promessa de campanha) é um erro de engenharia ou administração? São fatos importantes que são ignorados, não são investigados.

Optar por não questionar estes e outros erros (como no enfrentamento – e não negociação –  das greves da USP e dos policiais civis de SP) do candidato Serra me dá razões suficientes para desconfiar da isenção da imprensa. Os problemas são inflacionados do lado do PT e minimizados do lado do PSDB. Afinal, se o projeto do PSDB fosse tão melhor, eles não teriam sucumbido às crises externas no segundo mandato de FHC. E aí está a outra diferença favorável a Dilma: ter escolhido acelerar os investimentos no ano passado, apesar da crise externa. Fortalecer o consumo foi a opção do governo, não colocar o pé no freio, como sugeriram as hostes do PSDB. A maior crise econômica no mundo em tantos anos foi capitaneada com maestria por este governo, mas não se quer ver que Dilma representa a continuação desta agenda.

Como é possível que você não veja isto? A resposta está nos e-mails que difamam Dilma. Um especialmente chocante para mim tinha uma foto (se é genuína, não sei) dela fumando um charuto, vestida com uniforme do exército. Chocou-me por ter sido enviado por minha sobrinha! Parte do texto: “Dilma não tem parceiro fixo.” Valha-me Deus!

A questão do aborto foi trazida às primeiras páginas. É questão delicada, porque envolve crenças religiosas. A autorização para aborto em casos de estupro é atualmente garantida em lei no Brasil. Promover a descriminalização, como na Itália católica, tem como fórum de discussão e decisão o Congresso Nacional, que é laico, apesar de ter representantes de todas as religiões. Na Itália, o aborto é legal desde 1978 em algumas situações. Até 90 dias de gravidez, a mulher pode interrompê-la se trouxer perigo a sua saúde física, psíquica ou problemas a sua condição econômica, social ou familiar. O aborto também pode ser feito quando se prevêem anomalias ou malformações do feto.

O que significa o crime de aborto? Na prática, uma mulher que fez um aborto ilegal é presa? Ela merece atendimento médico? Onde ela pode obter este atendimento? O debate sobre se o SUS deve acolher pessoas que tenham sintomas consequentes de aborto era o tema inicial, redirecionado pelas candidaturas de oposição para opções religiosas. Marina Silva se aproveitou disto. Mas o partido para o qual se transferiu, o PV, defende em seu programa a descriminalização. E é provável que você não saiba disto.

Trazer o debate para temas como estes é, evidentemente, um direito do candidato Serra. Ele tem que tentar trazer a luta pelo voto para onde possa ganhar. Desconsiderar isto é tolice. As mensagens difamatórias, que você pode verificar que não são usadas na TV, porque gerariam processo, têm no entanto gerado um clima de medo na vitória de Dilma. O medo será o último tema deste meu longo texto.

A última eleição decidida com votos do medo foi em 1989, quando Collor foi eleito. Foi dito textualmente que Lula mexeria na poupança e nas posses das pessoas. Collor congelou e bloqueou as poupanças logo ao tomar posse. Lula fez a carta aos Brasileiros e cumpriu os contratos, como aqueles relacionados às privatizações.

Quando se fala em voto consciente, é fundamental retirarmos as emoções que podem obscurecer nossa decisão. É com isto que quero concluir. Pense e repense seu voto, verifique se o fundamento dele é real. Optar pela forma de governar do Serra (que para mim é arrogante, intolerante e mimado) pode ser justificado em outras bases: privatizar é importante, o ensino melhor é o apostilado, etc, etc. Eu não concordo com as opções do PSDB/DEM/Serra (repare que não falei de pedágios). E apoio a inclusão das pessoas no mercado de trabalho e consumo, e a agenda de desenvolvimento do próximo governo, que terá desafios importantes na educação – área em que atuo diretamente. Por isto, voto Dilma.
Vote você também.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador