Moro chama defesa de Lula de “beligerante”, mas omite que já atacou advogado

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Ex-juiz admite que não trocava mensagens de Telegram com os advogados de Lula. Mas joga culpa pela relação ácida nos defensores, omitindo episódios em que atacou publicamente a banca que defende o ex-presidente

Uma das audiência ddo ex-presidente Lula com o ex-juiz Sergio Moro – Foto: Reprodução

Jornal GGN – O ex-juiz Sergio Moro disse nesta terça (2), durante audiência na Câmara dos Deputados, que não trocava mensagens de Telegram com a defesa de Lula porque ela adotou postura “beligerante” durante as oitivas do caso triplex. Mas o hoje ministro da Justiça omitiu que ele também já atacou duramente um dos advogados da banca.

Moro se manifestou sobre esse assunto após ser questionado por um dos parlamentares de oposição ao governo Bolsonaro, que quis saber se o ex-juiz conversava no Telegram com advogados de réus da Lava Jato, com a mesma intimidade que parecia ter com os procuradores de Curitiba.

Em referência especificamente aos advogados de Lula, Moro respondeu: “Não tinha relação com a defesa do cliente porque ela adotou atitude beligerante, (…) beirando a ofensa em praticamente todas as audiências.”

Moro negou também que conversar ou dar “dicas” aos procuradores prove sua “parcialidade” ou tendência em favor dos acusadores. Para sustentar esse argumento, ele lembrou de um episódio em que teria ajudado a defesa de Lula.

“Durante uma audiência, ele [advogado] quis contraditar um acusado, e isso é [um instrumento] exclusivo para testemunhas. Eu dei um toque nele. E ele percebeu que entrava num erro e recuou. Isso é quebra de imparcialidade?”, questionou Moro.

Moro só não mencionou que ele também adotou “atitude beligerante” contra advogados de Lula, durante as audiências em Curitiba.

Um dos episódios mais marcantes se deu quando Moro ironizou as atividades profissionais do advogado Roberto Teixeira.

O evento ocorreu numa das audiências do terceiro processo que tramita em Curitiba contra Lula, que versa sobre um terreno que a Odebrecht supostamente comprou para o Instituto Lula, e um apartamento que pertence a Glaucos da Costamarques, primo de José Carlos Bumlai, e que teria sido alugado à família do petista durante seus anos na Presidência.

Teixeira teria assessorado Glaucos na compra e venda do terreno que entrou na peça de acusação como propina da Odebrecht a Lula. Com a operação, conhecida como “flip” (quando um investidor faz uma compra abaixo de preço de mercado, e depois vende barato, mas com uma boa margem de lucro), Glaucos afirma ter lucrado cerca de R$ 800 mil, e pago R$ 234 mil em honorários para o advogado.

Foi quando Moro disparou, arrancado risos de parte da plateia: “O senhor não acha que recebeu 800 mil reais sem fazer nada? Quero um advogado desse pra mim.”

Roberto Teixeira é um dos principais nomes do escritório que defende Lula em todos os processos da Lava Jato e suas derivações. A força-tarefa arrastou o advogado para o banco dos réus, com essas acusações envolvendo a Odebrecht e Glaucos da Costamarques.

O GGN reportou o episódio em reportagem especial sobre como Glaucos – assim como Leo Pinheiro e Antonio Palocci – foi mudando seus depoimentos na Lava Jato até chegar numa versão que soava como música aos ouvidos dos procuradores. Leia aqui.

Os vazamentos do Intercept também denotam que Moro enxergava a defesa de Lula como opositora. Em um dos diálogos no Telegram, ele pediu expressamente que os procuradores providenciassem uma resposta ao “showzinho da defesa” após o primeiro depoimento do ex-presidente em Curitiba. Moro estava preocupado e queria que a grande mídia focasse nas “contradições” ditas por Lula. A turma de Deltan Dallagnol atendeu prontamente.

 

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. O fato de o moro negar-se a receber a defesa de Lula vem confirmar a sua prevaricação, eis que é direito do advogado ser recebido pelo juiz a qualquer momento que julgue necessário, devendo o magistrado, além de tudo, trata-lo com a urbanidade que a lei recomenda.
    Beligerante terá sido, portanto, o “douto magistrado” reforçando grandemente a sua antipatia pelo réu, fato que o torna legalmente suspeito.

  2. O ponto não é não ter mensagem afirmando que um inocente foi condenado, mas quem o condenou, que violou dispositivos legais, não importa se por descuido ou má fé $entença absolutamente nula, seu mula
    A lei não faz essa distinção

  3. O ponto não é se há, ou não, mensagem que diga que Lula é culpado ou inocente, é o impedimento do juiz que proferiu a sentenca, por ter violado, por descuido, dispositivo legal

  4. O novo álibi do $ Moro sâo mensagens inexistentes sobre a inocência do condenado
    Se existisse, essa mensagem seria autêntica?
    Ou sua autenticidade seria contestada?
    A mensagem sobre o repasse, por descuido, de testemunha disposta a depor é autêntica?
    Porque o próprio $ Moro nâo os ouviu como testemunhas do juízo?

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