Mulher de Cabral tinha influência sobre escolhas do TJ-RJ

Advogada tinha bom trânsito na área jurídica e durante gestão do marido escritório em que atuava aumentou receita em quase 150% 
 
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Jornal GGN – A advogada e ex-primeira dama do estado do Rio de Janeiro, Adriana Ancelmo, tinha forte influência na composição de desembargadores Tribunal de Justiça do Rio, dado seu trânsito na área jurídica, como mostra à seguir a matéria da Folha de S.Paulo. Pelas regras constitucionais, de fato é o governador do Estado que nomeia os desembargadores dos tribunais de justiça. Adriana teria atuado indicando para seu marido, o então governador Sérgio Cabral, os nomes mais apropriados para assumir as cadeiras do TJ-RJ. 
 
A questão complica porque a primeira dama mantinha um escritório de advocacia que, no período de gestão do marido, teve um salto na receita de R$ 3,9 milhões em 2006 para R$ 13,2 milhões em 2008. O contato próximo de Adriana com desembargadores do Tribunal teria chamado a atenção de clientes, enquanto os escritórios concorrentes tinham dificuldades em marcar uma audiência com esses magistrados.
 
Folha de S.Paulo
 
Advogada, mulher de Sérgio Cabral influenciou nomeações em tribunais
 
No início da campanha pela vaga de desembargador no Tribunal de Justiça do Rio em 2010, o então promotor Paulo Rangel dizia não ter apoio de ninguém. Ao procurar uma autoridade, afirmou contar com “Deus apoiando e guiando os passos”. Ouviu como resposta: “Meu filho, Deus não vota no Órgão Especial”.
 
“Fui embora chocado com o que acabava de ouvir. Não tardou muito veio a resposta divina: ‘Rangel, a primeira-dama está recebendo os candidatos que a estão procurando e receberá você com prazer'”, relatou o magistrado em seu discurso de posse.
 
A advogada Adriana Ancelmo, 46, estava em seu quarto ano como primeira-dama. Rangel seria o quarto nomeado a passar em seu escritório para pedir apoio junto ao então governador Sérgio Cabral (PMDB). Uma indicação decisiva, segundo relatos ouvidos pela Folha.
 
Até o marido chegar ao governo do Estado, Ancelmo era uma advogada de pouco destaque, sócia do ex-marido Sérgio Coelho num escritório de médio porte. “Braço jurídico” do casal, ganhou a atribuição de avalizar nomes para o tribunal. Segundo pessoas próximas do casal, era uma forma de Cabral prestigiá-la.
 
A ex-primeira-dama, alvo de quatro ações penais da Lava Jato, teve uma infância de classe média baixa em Copacabana, onde estudou em escolas públicas. Morava num apartamento de dois quartos, mas por vezes dividia o mesmo cômodo com a mãe e a irmã para que o outro fosse alugado.
 
Aos 16, trabalhou como vendedora em lojas. De formação católica, participava do grupo jovem da paróquia da Ressurreição.
 
Formou-se em Direito na PUC-Rio, onde conheceu Regis Fichtner, que viria a ser secretário da Casa Civil de Cabral. Foi ele quem levou Ancelmo para trabalhar na procuradoria da Assembleia Legislativa, onde ela conheceu Cabral num encontro casual no elevador. Os dois se casaram em 2004.
 
No início do governo, por ciúmes, ela vetou assessoras que trabalhariam diretamente com o governador. Buscou também ter presença pública. Apoiou, por exemplo, a ONG Pró-Criança Cardíaca para arrecadação de fundos para a construção de um hospital.
 
“A presença dela fazia diferença. Mandava e-mails para empresários mostrando a seriedade do projeto”, disse a médica Rosa Célia, fundadora da ONG.
 
A placa de agradecimento ao casal está até hoje no saguão do hospital. Na parede oposta, a lista de doadores inclui alvos da Lava Jato, como a Carioca Engenharia e Arthur Menezes de Soares, ex-dono do grupo Facility.
 
Prestigiar a primeira-dama era uma forma de agradar Cabral. Além do apoio às suas iniciativas públicas, o escritório dela despertou interesses.
 
Fundada em 1997, a banca tinha como especialidade até a posse de Cabral causas cíveis no setor de saúde. Depois, se diversificou.
 
A receita subiu, em valores atualizados, de R$ 3,9 milhões em 2006 para R$ 13,2 milhões em 2008. Concessionárias de serviços públicos, bancos e o setor imobiliário aderiram à cartela de clientes.
 
“Quando a Adriana se torna primeira-dama do Estado, ela gerou uma grande atratividade. O escritório cresceu bastante por ela”, disse o ex-sócio Coelho à Justiça.
 
Relatos indicam que o acesso de Ancelmo a desembargadores do TJ-RJ impressionava os clientes. Enquanto concorrentes tinham dificuldade em marcar uma audiência com magistrados, ela os contactava pelo celular na frente de potenciais contratantes.
 
Agora, executivos da OAS prometem delatar atuação dela junto ao Judiciário para favorecer a empreiteira.
 
INFLUÊNCIA
 
A chance de influenciar na composição do TJ surgiu a Ancelmo por acaso. Em 2006, semanas antes da posse do já eleito Cabral, o então defensor público Marco Aurélio Bezerra de Mello bateu na porta de seu escritório.
 
“Busquei todas as autoridades. Um amigo em comum me disse: ‘A futura primeira-dama é advogada. Por que você não procura ela?’. Fui lá e apresentei meu currículo”, disse.
 
Todos os TJs reservam 20% das vagas para membros do Ministério Público e da OAB “”o chamado quinto constitucional. Os candidatos buscam apoiadores capazes de influenciar o governador, que escolhe um nome da lista tríplice enviada pelo TJ.
 
Por acordos previamente firmados, Mello não foi nomeado em 2006. Ganhou a vaga seguinte da OAB, em 2008. Desde então, a ex-primeira-dama compareceu à cerimônia da maioria dos desembargadores nomeados pelo quinto. Passou a ser chamada de “madrinha” por alguns.
 
A influência de Ancelmo chegou ao Superior Tribunal de Justiça. Os ministros Bendito Gonçalves, Luis Felipe Salomão e Marco Belizze pediram à advogada o endosso do governador em suas campanhas.
 
A nomeação do último, em 2011, culminou numa briga do casal, origem da sucessão de fatos que provocaram a queda de popularidade de Cabral. Embora tenha recebido Belizze em seu escritório, Ancelmo defendeu a nomeação de seu sócio Rodrigo Cândido de Oliveira.
 
Ao ter a indicação recusada, Ancelmo se separou de Cabral. Foi quando Fernando Cavendish, ex-dono da Delta Construções, convidou o governador para seu aniversário na Bahia. Um helicóptero caiu, matando sete pessoas e revelando a relação próxima entre os dois.
 
Meses depois, Ancelmo e Cabral reataram o casamento. Amigos relatam que o episódio agravou um problema crônico dela: a depressão que há anos lhe acometia.
 
RECONCILIAÇÃO
 
Curiosamente, quase todas as acusações contra a ex-primeira-dama referem-se a fatos ocorridos após a reconciliação com Cabral.
 
Foi quando teria recebido e comprado as joias mais valiosas –usadas, segundo a procuradoria, para ocultar patrimônio. É também o período em que seu escritório é acusado de receber quase todos os pagamentos sem a prestação de serviço, meio pelo qual teria lavado dinheiro de propina.
 
A maioria dos repasses suspeitos à firma ocorre após 2013, quando a sociedade dela com Coelho foi desfeita. O escritório passou a ter metade do número de advogados e de área ocupada. Apesar disso, deu um salto real de 24% no faturamento em 2014, recebendo R$ 17,5 milhões.
 
A defesa de Ancelmo afirma que ela prestou serviços para todos os pagamentos recebidos. E nega que ela tenha adquirido joias de forma ilegal.
 
A ex-primeira-dama foi presa em dezembro de 2016 e, desde março deste ano, aguarda julgamento em regime de prisão domiciliar.
Redação

3 Comentários

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  1. Ok. Mas ela ignorava que o salário do Cabral era incompatível

    Tudo bem. Mas ela não sabia nem que a renda do seu marido era incompatível com suas gastanças absurdas. Foi o que o Rato-Moro sentiu e sentenciou.

     

  2. mulher….

    TJ / RJ de uma Justiça que não existe, apesar  de 30 anos de uma Constituição Cidadã? TJ / RJ de Desembargadores com salários e pensões nababescas que chegam a 1 milhão de reais? TJ / RJ de Desembargadores mancomunados com a máfia do futebol de CBF/RGT através de STJD? TJ / RJ do Desembargador que negou proteção policial à Juiza Patricia Acciolli, fuzilada na porta da casa? O Brasil se explica. 

  3. Tá chovendo no molhado. É
    Tá chovendo no molhado. É evidente que sendo casada com o governador e da área jurídica ela teria influência nas decisões do Cabral. Ademais era notório que madame Cabral não se limitava ao papel de primeira dama. Junto com o marido formava mais que um casal, eram sócios políticos. A atividade profissional de um era articulada com a do outro. Batiam bola o tempo todo.

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