Mulheres e cinema, por Walnice Nogueira Galvão

Mulheres e cinema

por Walnice Nogueira Galvão

As mulheres têm ocupado as notícias de cinema. Começando pela sensacional manifestação na última cerimônia do Golden Globe, quando todas se vestiram de preto, secundadas pelos homens, para protestar contra o abuso sexual costumeiro na indústria. E disseram coisas notáveis.

Finalmente, veio à tona o horror que é considerado “natural” porque faz parte da escalada profissional. As posições de poder, como se sabe, são ocupadas por homens, que exercem os piores abusos. Nós, que felizmente temos a Lei Maria da Penha, sabemos o parentesco entre as diferentes formas de violência, exercidas por homens forçando as mulheres, e não o contrário. Só isso já dá uma boa ideia do continuum que vai do assobio ao feminicídio. O discurso de Oprah Winfrey, agraciada com o prêmio especial pela carreira, é um marco na caminhada, inclusive por associar machismo e racismo.

Por outro lado, o balanço das bilheterias de 2017 atribuiu o campeonato a três blockbusters encabeçados por mulheres. São eles Star Wars: Os últimos Jedi (Dasy Ridley), A bela e a fera (Emma Watson) e Mulher-Maravilha (Gal Gadot).

Neste último, entre os filmes inspirados em histórias em quadrinhos, surge esta superheroina, que, nascida há mais de meio século, tinha sobrado no baú, enquanto seus musculosos colegas homens subiam às alturas da glória. Nas páginas impressas, havia estupendas heroinas: afora a Mulher-Maravilha, também Nyoka, Miss América da família Marvel, e outras. Algumas eram frequentes nos seriados cinematográficos, usuais na matinê de fim-de-semana, que faziam as delícias da garotada. Mas tenderam a desaparecer, juntamente com os seriados. Agora ressurgem com toda a força nesses filmes, que no fundo são infanto-juvenis, cavalgando a nova onda feminista.

Mesmo nos clássicos do romance realista de Stendhal, Balzac, Flaubert, Tolstoi, o protagonista é sempre um homem. E quase sempre seu nome dá título ao romance. As duas únicas vezes em que mulheres têm essa honra, e apesar de toda a deferência com que os autores as tratam, nunca é demais lembrar que as aguarda o suicídio, chamem-se Ana Karênina ou Madame Bovary.

Ainda no capítulo Hollywood, as estatísticas são alarmantes. As fontes mais confiáveis em pesquisa oficial mostram que, apesar de tudo, quase não há mulheres diretoras, roteiristas, cinegrafistas, produtoras e assim por diante. Embora as houvesse, e em grande número, nos primórdios do cinema, quando a sétima arte era mais inventiva justamente por isso, e ainda não atraía grandes investimentos nem fornecia propriamente carreiras profissionais. Isso até a década de 40, quando se descobriram as duas coisas; e aí os homens, que traziam o grande capital e  um profissionalismo de convenção, foram expulsando as mulheres. Pouca gente se lembra que o primeiro filminho narrativo foi feito por uma mulher, a francesa Alice Guy-Blache, que escreveria e dirigiria cerca de 700 deles, portanto resolvendo em primeira mão os problemas estéticos e técnicos que iam surgindo na linguagem cinematográfica. E o famosíssimo Méliès, considerado o pai desse tipo de obra, veio em segundo lugar, depois dela. Quem procurar as pioneiras do cinema na internet vai-se surpreender com a existência e importância dessas mulheres, inclusive no Brasil: lembremos Carmen Santos e Gilda de Abreu.

Dados recentes indicam proporções irrisórias de mulheres diretoras de cinema, com 7 % americanas, 16 % europeias e 14 % brasileiras. Afora isso, até hoje o Oscar só premiou uma mulher como diretora (Kathryn Bigelow, Guerra ao terror) e o festival de Cannes  só duas (Jane Campion, O piano  e Sofia Coppola, O estranho que amamos).

Quanto aos papeis, atrizes inteligentíssimas e lúcidas como Meryl Streep estão sempre reclamando, dizendo como escasseiam bons papeis femininos, sobretudo para mulheres maduras, fora dos moldes da namoradinha. Se se trata de uma mulher negra, então, os números vão por água abaixo: só uma delas ganhou até hoje o Oscar (Halle Berry, A última ceia). Se quiser saber mais, e vale a pena, consulte o site mulhernocinema.com.  

 

Walnice Nogueira Galvão

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