Multimídia do dia

As imagens e os vídeos selecionados.

Luis Nassif

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Torquatália

    TODO DIA É DIA D

    “Como Buda, Confúcio , Sócrates ou Jesus, Torquato não deixou livros” – Leminski. 

    Desde que saí de casa
    trouxe a viagem da volta
    gravada na minha mão
    e enterrada no umbigo 
    dentro e fora assim comigo
    minha própria condução

    Todo dia é o dia dela
    pode não ser pode ser
    abro a porta e a janela 
    todo dia é dia D

    Há urubus no telhado
    e a carne seca é servida
    um escorpião encravado
    na sua própria ferida
    não escapa só escapo
    pela porta da saída

    Todo dia é mesmo dia
    de amar-te e a morte morrer;
    todo dia é mais dia, menos dia
    é dia D.

    Torquato Poesia | Carlos Pinto Melodia | Gil Cantoria

    [video:http://youtu.be/LMH2wNSjraA%5D

    “… antes até da Tropicália ele já era tropicalista. Um poeta. Pronto, acabado, definitivo. E com a mesma fixação entre o fim e o começo. A vida e a morte. Como diria o Waly Salomão, um poeta no seu voo rasante de pássaro de fogo.” – George Mendes, publicitário

    [video:http://youtu.be/13389UquLZ0%5D

    1. Torquato, Bahia, 10/10/61

      TEMA

       

      “… E agora, José?”

      Perguntou o Carlos Drummond.

      E agora, José,

      Responde depressa ao Carlos Drummond.

      Responde, José; responde se és homem:

      “… e agora?”

       

      Anda:

      Ele é teu mestre,

      José;

      Ele é teu amo,

      José;

      José;

      Ele é teu pai.

      Responde-lhe: “… e agora?

       

      Pelo menos José do Carlos Drummond de Andrade

      Informa, depois de pensar:

      Quem é o culpado de eu não ser poeta?

       

      O Carlos Drummond?

      Meu pai?

      Minha mãe?

      Tu, José?

       

      Será que tiraste toda a poesia

      Que antes brotava,

      Jorrava de mim?

      Por que José?

      Por quê?

       

      José do Carlos Drummond:

      Tu és um ladrão.

      Roubaste a minha poesia.

      Deixaste-me só.

      Abandonado, nu.

      Sem poesia, sem nada.

    2. Tropicalismo Para Principiantes

      Desenho de Torquato Neto – (Acervo TN/UPJ Produções)

      Texto extraído de Os Últimos Dias de Paupéria
      Rio de Janeiro, Max Limonada, 1982
      Publicado originalmente em 1968

      Um filme, chamado “Bonnie and Clyde” está fazendo agora um tremendo sucesso na Europa. E com uma força tão grande que sua influência estendeu-se à moda, à música, à decoração, às comidas e aos menores hábitos das pessoas. São os anos trinta que estão sendo revividos. Bem por dentro dessa história e à procura de um movimento pop autenticamente brasileiro, um grupo de intelectuais reunidos no Rio – cineastas, jornalistas, compositores, poetas e artistas plásticos – resolveu lançar o Tropicalismo. O que é?

      Assumir completamente tudo o que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra, ainda desconhecido. Eis o que é.

      Porta-voz do tropicalismo, por enquanto. É o jornalista e compositor Nelson Motta, que divulgou essa semana, num vespertino carioca, o primeiro manifesto do movimento. E fazem parte dele, entre outros: Caetano Veloso, Rogério Duarte, Gilberto Gil, Nara Leão, Glauber Rocha, Carlos Diégues, Gustavo Dhal, Antônio Dias, Chico Buarque, Valter Lima Jr. e José Carlos Capinam. Muitas adesões estão sendo esperadas de São Paulo e é possível que Rogério Duprat, Júlio Medaglia e muita gente mais (os irmãos Haroldo e Augusto, Renato Borghi etc.) tenham suas inscrições efetuadas imediatamente. O papa do Tropicalismo – e não poderia faltar um – pode ser José Celso Martinez Correa. Um deus do movimento: Nelson Rodrigues. Uma musa: Vicente Celestino. Outra musa: Gilda de Abreu.

      O Tropicalismo, ou Cruzada Tropicalista, pode ser lançado qualquer dia desses numa grande festa no Copacabana Palace. A piscina estará repleta de vitórias-régias e a pérgula enfeitada com palmeiras de todos os tipos. Uma nova moda será lançada: para homens, ternos de linho acetinado branco, com golas bem largas e gravatas de rayon vermelho; as mulheres devem copiar antigos figurinos de Luiza Barreto Leite ou Iracema de Alencar. Em casa, nada de decorações moderninhas, rústicas ou coloniais. A pedida são móveis estofados em dourado e bordô, reproduções de Osvaldo Teixeira e Pedro Américo, bibelôs de louça e camurça, retratos de Vicente Celestino, Emilinha Borba e Cézar de Alencar. Nada de Beatles, nada de Rolling Stones. E muitos pufes, centenas de almofadas.

      O Dia das Mães, o Natal e o reveillon do jaguar serão as grandes festas do Tropicalismo, que exige eventos e efemérides. 25 de agosto é data importantíssima. E ninguém perderá uma parada de 7 de Setembro. Desfile de escolas de samba (em cadeiras numeradas) e o baile do Municipal são obrigatórios. Revistas de Gomes Leal, shows de Carlos Machado e filmes de Mazzaropi serão assuntos discutidíssimos. Cinerama também. Um ídolo: Wanderley Cardoso. Uma cantora: Marlene. Um intelectual: Alcino Diniz. Um poeta: J.G. de Araújo Jorge. Um programa de TV: Um Instante Maestro. Uma canção: “Coração Materno”. Um gênio: Chacrinha.

      E daí para a frente. Aliás, os líderes do Tropicalismo anunciam o movimento como super-pra-frente:

      – É brasileiro, mas é muito pop.

      O que, no fundo, é uma brincadeira total. A moda não deve pegar (nem parece estar sendo lançada para isso), os ídolos continuarão os mesmos – Beatles, Marilyn, Che, Sinatra. E o verdadeiro, grande Tropicalismo estará demonstrado. Isso, o que se pretende e o que se pergunta: como adorar Godard e Pierrot Le Fou e não aceitar “Superbacana”? Como achar Felinni genial e não gostar de Zé do Caixão? Porque o Mariaaschi Maeschi é mais místico do que Arigó?

      O Tropicalismo pode responder: porque somos um país assim mesmo. Porque detestamos o Tropicalismo e nos envergonhamos dele, do nosso subdesenvolvimento, de nossa mais autêntica e imperdoável cafonice. Com seriedade.

      Torquato Neto

    3. Torquato e Hendrix

      Texto de Torquato Neto, morto aos 28 sobre Hendrix, morto aos 27

      (14/10/1970)

      A Morte de Jimi Hendrix

      “onde, em mim, a morte de Jimi Hendrix repercutiu com mais violência? há mais de um ano, em Londres, eu havia dito com absoluta certeza: ele vai morrer. onde, em Jimi Hendrix, eu vi o espectro da morte? eu havia estado com ele, Carlo e Noel – mais uns três sujeitos – naquele enorme apartamento de Kensington e quase não falamos nada durante o tempo que fumamos haxixe e escutamos aquele álbum branco dos beatles e mais alguns discos que não me lembro – nem poderia lembrar. por que é que eu não sei, mesmo agora, escrever qualquer coisa mais sobre Hendrix, a não ser que, naquele dia, conferi a perfeita extensão de sua música em sua cara – obedecendo à ordem com que as duas coisas me foram apresentadas? eu sei que não posso escrever jamais qualquer coisa sobre o assunto, sobre a tremenda curtição daquela noite etc etc. agora o homem está morto, menos ainda. Eu não ousaria – como não ouso sequer contar esse fato aos poucos amigos que ainda tenho. Interessa agora saber o seguinte: por que, diante o impacto que o conhecimento pessoal, social com o homem produziu sobre mim, ao ponto de não conseguir, depois, pelo menos “recordar” o tempo aproximado que tivemos, eu e Carlo, naquele apartamento – por que – sabendo de antemão sobre Jimi Hendrix – por que ainda me surpreendi e me abalei com a notícia de sua morte, no dia dela? Ou seja, voltando ao início: onde, em mim, a notícia conseguiu repercutir ainda com violência, me pegando de “surpresa”? A gente sabe que toda morte nos comunica uma certa sensação de alívio, de descanso. não existe, pra mim, a menor “diferença” entre Hendrix que eu ouvia antes e o que posso ouvir depois, agora, de sua morte. ele sempre foi claro, limpo, preto. eu disse: o homem vai morrer, e não demora mais dois anos. Beneto e Ana ouviram, em Londres. Eu ouvia os discos, sabia o homem – e, por cima, ainda o conheci pessoalmente e juntos, numa noite gelada de Londres, curtimos o barato de queimar haxixe e escutar os beatles, com Carlo, Noel e mais uns três caras que estavam lá, criolos. torno a perguntar: onde? onde em mim? Jimi era “o homem que vai morrer” mas não havia datas em sua vida. por que então uma data de jornal ainda me espanta e fere? eu não sei (não posso, nem quero explicar por que eu, e muita gente mais, sabia de tudo desde muito tempo. posso, com simplicidade, dizer apenas que eu sabia ler a sua música).”

      ** Fonte: Krudu.blog

  2. TERRIR

    NOSFERATU NO BRASIL (1970, BRA, 27 min)

    Direção, fotografia, montagem e produção: Ivan Cardoso, SUPER 8 Color e PB

    Torquato Neto, Scarlet Moon, Daniel Más, Helena Lustosa, Cristiny Nazareth, Zé Português, Ciça Afonso Pena, Ricardo Horta, Marcelino, Ana Araújo, Martha Flaksman, Pety Marciano, Sidiny Gracia e outros

    O media-metragem rodado em 8 mm, uma comédia de terror dividida em duas partes, é fruto da união extraordinária e extravagante formada por Hélio Oiticica e Ivan Cardoso, que queriam fazer um filme de vampiro com alma brasileira.

    Os dois grandes desenvolveram uma visão tropicalista do mito Nosferatu, que é, sem dúvida nenhuma, um dos grandes momentos do cinema brasileiro marginal.

    Na primeiro parte, em preto e branco, na Europa do século XIX, Nosferatu seduz uma pobre donzela e é morto por um príncipe.

    Torsferatu e Scarlet Moon

    Na segunda parte, em cores, nos anos 70, o reencarnado Nosferato, curtindo férias no Brasil,  está em Copacabana, ‘comendo’ mais e mais mulheres.

    Nosferatu vai se adaptando ao jeitinho carioca, adquirindo malandragem e trejeitos até terminar num bacanal rodeado por suas vamps, mas, com a chegada do verão Nosferatu é obrigado a voltar para o velho mundo.

    Nada mais nada menos que sensacional: um filme marginal feito sem nenhum tostão só pelo prazer de fazer uma boa malandragem cinematográfica. 

    http://youtu.be/uWkSRdDSkXY

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador