Não há direito ao silêncio capaz de esconder o tamanho da capivara revelada pela CPI

Jornal GGN – Já sabemos há algumas semanas, graças à CPI da Pandemia, que o Ministério da Saúde do governo Bolsonaro, no curso da maior pandemia mundial do século, quase fechou um negócio escabroso com a Precisa Medicamentos para a compra da vacina indiana Covaxin. Quem daria lastro financeiro ao contrato bilionário seria a empresa FIB Bank, que não é banco, mas um fundo garantidor de crédito cujo suposto Manda-Chuva, Marcos Tolentino, na condição de “sócio oculto”, depôs no Senado nesta terça-feira (14).

O advogado e empresário Marcos Tolentino – que confirmou ser, há anos, amigo pessoal de Ricardo Barros, ex-ministro da Saúde do governo Temer e líder do governo Bolsonaro na Câmara – foi obrigado a comparecer à CPI, acompanhado de um defensor e amparado por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal. Exerceu não só seu direito constitucional ao silêncio para não se auto incriminar, mas tangenciou também todas as questões relacionadas às empresas para as quais advoga.

Mas não houve direito ao silêncio capaz de esconder o tamanho da capivara que a CPI da Covid colocou no meio do plenário hoje. Os senadores já haviam feito a lição de casa. Uma devassa nas empresas relacionadas ao FIB Bank, que têm as digitais de Tolentino. E o empresário, mesmo negando ser dono do FIB Bank, acabou confirmando, com suas informações iniciais, que têm relações diretas ou indiretas com as empresas que são sócias administradoras do fundo.

Tudo começou décadas atrás, quando Tolentino tornou-se sócio de Edson Benetti em várias companhias. Uma delas é a MB Guaçu. Quando Edson faleceu, o filho Ricardo Benetti herdou metade das empresas e franqueou a outra parte a Tolentino. Os senadores Omar Aziz e Renan Calheiros mataram a charada: na prática, Tolentino continuou exercendo influência sobre todas as empresas. Ele é dono de metade e, daquelas que pertencem oficialmente a Ricardo Benetti, recebeu procuração para representá-las como advogado, com “amplos poderes” e sem nenhuma obrigação de “prestar contas”.

Desde 2016, a empresa Benetti, de prestação de serviços, é dona da empresa Pico do Juazeiro, que é uma das duas sócias majoritárias do FIB Bank. Tolentino é advogado com “amplos poderes” da Pico, que destinou mais de 200 milhões de reais para integralizar o capital do FIB Bank.

Os outros 7,2 bilhões de reais que compõem o patrimônio do fundo garantidor de crédito pertencem à MB Guaçu. Os donos da MB Guaçu já morreram, mas continuaram fazendo movimentações em nome da empresa.

Mais: os proprietários, no papel, do FIB Bank, são trabalhadores humildes que foram usados como laranjas e negam qualquer participação na empresa. Um deles até precisou recorrer à Justiça para retirar seu nome do quadro societário. Por causa disso, ele não conseguiu receber auxílio-emergencial na pandemia nem conseguiu sacar seu FGTS.

O que mais chocou a CPI, além do emaranhado de empresas ligadas a Tolentino, e dos indícios gritantes de que o FIB Bank não passa de uma “fraude” – um “lorota banco” – é que o fundo ainda hoje assina quase quatro dezenas de cartas de fianças em diversos contratos firmados por várias empresas junto à União, somando mais de 600 milhões de reais. A informação foi relevada pela senadora Simone Tebet hoje, a partir do trabalho do jornalista Andre Spigariol, do The Brazilian Report.

“Nós já temos elementos suficientes para que essa empresa deixe de transacionar com o setor público”, disse Humberto Costa.

Nem mesmo o senador governista Eduardo Girão pôde deixar de reconhecer que o caso FIB Bank é um escândalo para o governo federal, assim como os negócios da Precisa Medicamentos também precisam ser investigados.

A Precisa faz parte do Grupo Global, que pertence ao empresário – e também conhecido de Ricardo Barros – Francisco Maximiano, que já representado por Tolentino em ações judiciais. Ainda hoje, a Precisa detém um contrato com o governo federal para fornecimento de preservativos femininos.

No passado também foi favorecida em contratos envolvendo entrega de medicamentos pela gestão Barros e deu calote à União. Tolentino não quis comentar suas relações com Barros ou Maximiano, de quem já foi advogado.

Tolentino admitiu que conhece a família presidencial, com exceção de Renan Bolsonaro, embora não detenha “amizade” com nenhum deles. Reconheceu também que conhece Karina Kufa, advogada de Jair Bolsonaro em ações eleitorais. Se negou a dizer como foi que o FIB Bank conseguiu driblar os órgãos de controle e continuar dando carta de fiança a contratos da União com todos os indícios de irregularidades.

A CPI está pronta para encerrar os trabalhos na última semana de setembro, mas alguns senadores já deram sinais de que há vasto material a ser explorado ainda, ingredientes para mais algumas CPIs que devem arrepiar os cabelos dos governo Bolsonaro.

Redação

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