Não queremos que o governo traga só projeto de morte, dizem Mulheres Munduruku

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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“Vamos sempre decidir por nós, pelo nosso território, pelo nosso rio!” Foto: Movimento Iperegayu

do CIMI

Em encontro, Mulheres Munduruku reafirmam autonomia dos povos e luta pelo território livre dos projetos de morte

“Não queremos que o governo traga só projeto de morte, queremos que valorizem a nossa vida, nosso trabalho e nossa produção”, afirma documento.

POR ASCOM CIMI

Em carta divulgada após terceiro Encontro das Mulheres Munduruku, organizações indígenas reafirmam  “seguir o caminho da autonomia do nosso povo para manter o nosso território livre para nossas futuras gerações”. Reunidas na aldeia Patauazal, Terra Indígena Munduruku, durante os dias 08 a 11 de julho, mulheres criticam políticas do Governo que desrespeita organização social e cultura dos povos.

“Não queremos que o governo traga só projeto de morte, queremos que valorizem a nossa vida, nosso trabalho e nossa produção. Não somos iguais vocês pariwat, que desmatam a floresta sem necessidade”, afirma a carta. “Somos guerreiras e guerreiros Munduruku e vamos continuar fazendo a autodemarcação dos nossos territórios, capacitação dos jovens, formação e encontro das mulheres e nossa Feiras Munduruku”.

“Vamos seguir o caminho da autonomia do nosso povo para manter o nosso território livre para nossas futuras gerações”

Segundo documento divulgado após encontro, iniciativa ocorreu para “discutir sobre as ameaças e discriminações que estamos sofrendo”. “Os projetos que o governo pariwat tenta impor para nosso território como as barragens, hidrovia, ferrovia, portos, mineração, concessão florestal (Flona Itaituba I e II e Flona Crepori) invasão de madeireiros e garimpos, que impactam a vida das mulheres, dos homens, dos jovens e das crianças Munduruku”.

Denúncia no FAMA

Durante o Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), ocorrido em Brasília no mês de maio, Alessandra Munduruku, coordenadora da Associação Pariri, dos Munduruku do médio Tapajós, denunciou as pressões que os Munduruku e outros povos indígenas e comunidades tradicionais do rio Tapajós vêm enfrentando nos últimos anos. Os povos do Tapajós lutam contra a pressão para a construção de hidrelétricas, a mineração, os portos e outros projetos de infraestrutura voltados a atender os interesses do capital na região.

Em 2016, os Munduruku conseguiram derrotar o projeto de construção da hidrelétrica São Luiz do Tapajós, iniciativa prioritária do governo federal que impactaria diretamente a terra indígena Sawre Muybu. Apesar da vitória, as violações sobre o território Munduruku e dos demais povos e comunidades da região ainda são graves e recorrentes, e passam, em grande parte, pela disputa do rio Tapajós e seus afluentes. Assista:

Leia documento divulgado no final do III Encontro das Mulheres Munduruku:

CARTA DO III ENCONTRO DAS MULLHERES MUNDURUKU

Nós, reunidos na aldeia Patauazal na Terra Indígena Munduruku, durante os dias 08 a 11 de julho de 2018,  nos encontramos para discutir sobre as ameaças e discriminações que estamos sofrendo e os projetos que o governo pariwat tenta impor para nosso território como as barragens, hidrovia, ferrovia, portos, mineração, concessão florestal (Flona Itaituba I e II e Flona Crepori) invasão de madeireiros e garimpos, que impactam a vida das mulheres, dos homens, dos jovens e das crianças Munduruku.

Estamos decididos continuar fortalecidos em aliança de luta com a Associação Wakoborun, Associação Pariri, Associação Da’uk e Movimento Munduruku Ipereg Ayu pois nunca vamos parar de lutar pelo nosso rio e pelo nosso território livre dos projetos de morte. Estamos defendendo o rio que é como nosso leite materno que damos todos dias para nossos filhos. A terra é nossa mãe, temos respeito (Ipi Wuyxi Ibuyxin Ikukap) e nunca vamos negociar.

Vamos continuar com o nosso Movimento Ipereg Ayu – com nossos grupos de guerreiras e guerreiros – e continuar lutando pela nossa terra, como deixou o nosso Deus Karosakaybu e nos orientou os nossos antepassados. Vamos seguir o caminho da autonomia do nosso povo para manter o nosso território livre para nossas futuras gerações.

Estamos caminhando na construção do nosso plano de vida, discutindo com as mulheres sobre o nosso bem viver, sobre a nossa educação própria, sobre a nossa autonomia. Nós mulheres mostramos nosso trabalho na prática. Nós sabemos seguir o nosso caminho sem veneno e sem ganância!

Não queremos que o governo traga só projeto de morte, queremos que valorizem a nossa vida, nosso trabalho e nossa produção. Não somos iguais vocês pariwat, que desmatam a floresta sem necessidade. Somos guerreiras e guerreiros Munduruku e vamos continuar fazendo a autodemarcação dos nossos territórios, capacitação dos jovens, formação e encontro das mulheres e nossa Feiras Munduruku.

Sabemos que não estamos só, temos nossas alianças com outros povos e comunidades ribeirinhas que sabem seguir o seu próprio caminho. Por isso, não vamos entregar nosso território para o governo.

Vamos sempre decidir por nós, pelo nosso território, pelo nosso rio!
Nós somos a semente da resistência Munduruku!

Associação das Mulheres Munduruku Wakoborun
Associação Pariri
Associação Da’uk
Movimento Munduruku Ipereg Ayu

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  1. Se índio fosse filho de jeová…

    14- Então, depois que Ló foi embora, prometeu o SENHOR Deus a Abrão: “Ergue teus olhos e observa bem, do lugar em que estás, para o norte e para o sul, para o oriente e para o ocidente.

    15– Toda a terra que vês, Eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre.

    16– Tornarei a tua posteridade como poeira da terra: quem tiver a capacidade de contar os grãos de poeira da terra poderá também contar o número dos teus descendentes!…

    Gênesis 13:15

      

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