(texto originalmente publicado na Carta Capital – 10/11/2015)
http://www.cartacapital.com.br/economia/agro-negocio-de-verdade-3903.html
AGRO NEGÓCIO DE VERDADE
Na manhã seguinte foi. Parecia querer resolver de uma vez aquilo. Entrou na cozinha da casa grande, mas não queria ninguém ali. Nem era dali. Ela era da senzala. Seu negócio, seu agro negócio era o lavrador de café, suado, vermelho da testa à ponta do queixo. Era ele que ela queria.
Era uma mulher de 30 anos, cheia de graças e segredos. Ninguém ali a tivera nem para aquelas conversinhas de cerca- lourenço tão costumeiras por lá. Tinha a marra característica de quem sabe escolher. Era do campo. Quero isso, quero esse, faça assim, faça aqui, que aqui é bom. Pois é, Vilma era desse jeito.
Saíra da cidadezinha para estudar na universidade federal. Assim quis e continuou estudando … mas aquele gosto de terra e suor não saía de sua boca. Era prazer maiúsculo aquele negócio. Agro negócio – pensava sempre. Vou lá, vou voltar lá. Vai ser lá.
De lembranças da universidade na cidade do interior – nem tão pequena assim – havia uns três caras que lhe amansaram desejos, mas também lhe deixaram carências. Carências de quê? De terra molhada, de sujeira nas unhas, de cheiro de chuva e de pegada. Homem pra ela, que crescera por meio dos matos, tinha de ter pegada. E ela também tinha, que era broto do chão.
Josué fora nascido e criado na vereda, na estrada do sem culpa nenhuma, no ensinamento do sertão, sem conceber nem conceder o pecado original. Bebia pinga e ria. E depois levitava o diabo do homem. Sestroso, manhoso, marrento. Como Vilma.
Naquela noite de cavalgada, eram muitos os peões ali. Paramentados como para um culto cristão, eram poucos os de raiz, flores e frutos. Josué era. Espalhava um perfume de maracujá, ou seria um sabor de jabuticaba? Bom mesmo era ver aquela boca vermelha dele, pendurada no rosto, quase sem sorrir. Vilma tomou as rédeas e seguiu.
Cavalgadas contam sempre com encerramentos religiosos, sagrados. Mas nem sempre. Às vezes, profaníssimos.
Josué rezou suas orações, benzeu-se, beijou a medalhinha e entregou-se à volúpia daquele negócio com Vilma.
Agro negócio de verdade!
Odonir Oliveira
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Um brinde aos 30!
Viço, fome, urgência.
Escolhas feitas. Gosto da tua Vilma.
Sabe o que quer, pega com as mãos. Toma posse.
Mulher de verdade.
Redundância dizer o quanto é bem construído, limpo o teu texto!
CC sabe o que faz! Adorei.
Vamos te ter semanalmente?
Abc.
Prezada Vivi
(Em princípio, não postaria aqui no meu blog esse texto. Entretanto, por sugestão do jornalista Rui Daher de Carta Capital, fiz isso aqui e no facebook do Blog do Luís Nassif também, como ele o faz com os dele).
Este texto atendeu ao projeto, de algumas publicações, nomeado de #AGORAÉQUESÃOELAS, deve ter tido notícia disso, não é?
Quis escrever uma narrativa e não um texto argumentativo ou um ensaio, sobre a mulher de hoje, no campo.
Vilma, personagem, estudou graças à possibilidade atual de adentrar a uma Universidade Federal, talvez em outras épocas impossível de acontecer como agora; quis continuar a estudar, sem, como em geral as moças de sua cidadezinha, casar e ter logo 2 ou 3 filhos.
Trouxe de suas origens a vontade de fincar pé ali, onde nascera. E, com determinação, escolheu quem lhe aprouvera para ter com ele. Algo talvez pouco provável em tempos outros também.
O fugere urbem, aliado ao carpe diem , os “eternos retornos” da vida das pessoas foram eles que pulsaram e impulsionaram Vilma, aos 30, fazendo-a preferir esse AGRO NEGÓCIO DE VERDADE.
Abraço.
[video:https://www.youtube.com/watch?v=WidXlhgC0T0%5D
#AGORAÉQUESÃOELAS
Olá Odonir,
claro, soube do projeto. Conheço um pouco do trabalho do Rui e reputo da maior qualidade e seriedade. O teu também e acompanho – assim como o dele – neste GGN.
Qualquer hora dou um pulinho no FB – não frequento esta rede – para ver as “artes” de vocês.
Muito bacana; a iniciativa e o texto. A vida simples é um imperativo – nestes tempos doloridos que vivemos – para a saúde mental e física. Vilma me parece ser um “modelo” bem construído por você e uma meta a ser perseguida por mulheres que prezem esta qualidade de vida e claro, possam optar por ela.
Parabéns!
MÚÚÚ
Um brinde à poetisa das águas e aguardentes e cronista de marras de boi brabo
nascido e criado na vereda na estrada do sem culpa nenhuma, no ensinamento
do sertão, sem conceber nem conceder o pecado original.
Picasso
Quadros
Nossa que telas perfeitas, ótimas pinturas.
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no toque do pandeiro
[video:https://youtu.be/gKpmbd-v8Yw width:600]
Barco Abandonado
A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?
Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.
Morto corpo da ação sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.
Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha.
Fernando Pessoa, in ‘Cancioneiro’
[video:https://youtu.be/5uVrLuzhB2M width:600]
O título original do poema não é o inserido no “assunto” do post.
Tenho um canalzinho no youtube no qual escrevo umas coisas,
loisas e mariposas.
Não inseri ali nenhum vídeo meu, ainda. Mas logo o farei. Lendo uns versos de uns e de outros, apenas.
Mas tenho lá uma lista de canções que me encantam e faço delas meu “programa de rádio” pelos dias.
Por exemplo:
[video:https://www.youtube.com/watch?v=ZpH7YDrN_gc%5D
LUA CURIOSA
Zé Geraldo
Moro naquela casinha
na beirada da lagoa
lá no pé do cafezal
Onde o Criador na alvorada
ensaia a passarinhada
num grande coral
Quando é bem de tardezinha
eu mais a morena minha
dá de namorar
E é coisa tão maravilhosa
que a lua curiosa
vem logo espiar
Agronegócio
Parabéns pelo artigo!Conteúdo muito bom e de fácil entendimento!
Agronomia
Parabéns pelo artigo!