Após superar diversos obstáculos diplomáticos em uma verdadeira saga aérea, o avião militar mexicano que transportava Evo Morales aterrissou, na tarde desta terça-feira (12), no aeroporto internacional da Cidade do México. Acompanhado de seu vice-presidente, Álvaro García Linera, e de sua ministra da Saúde, Gabriela Montaño, Evo Morales desceu da aeronave e foi direto ao microfone. Em pleno aeroporto, Evo já deu indicativo de qual será seu papel durante o asilo político: denunciar o golpe, coordenar a resistência e, vivo, dar continuidade à luta do povo boliviano por igualdade e justiça social.
Por Felipe Bianchi
“Lamentavelmente, a Polícia e as Forças Armadas se somaram ao golpe. Nos últimos dias, queimaram tribunais eleitorais, atas e documentos das eleições. Queimaram sedes sindicais e casas de líderes políticos e sociais. Saquearam e queimaram a casa de minha irmã. Saquearam minha casa em Cochabamba e tentaram saquear uma outra casa, pequena, que tenho – meus vizinhos a protegeram, o que agradeço”, relatou. Segundo o mandatário boliviano, que renunciou o cargo dois dias atrás (10/11), tudo ocorreu com a vista grossa de quem deveria assegurar a paz e a ordem, além de “mentiras” e “descaramento” de prefeitos e governadores da oposição. “Faço um novo apelo para que não haja mais derramamento de sangue e enfrentamento”, clama o líder índigena.
índigena.
Ao explicar a aceitação da oferta de asilo por parte do México, Evo fez grave denúncia sobre os bastidores da cruzada para capturá-lo: “Sábado, dia 9 de novembro, quando chegávamos à Cochabamba, um membro da equipe de segurança do Exército me informou, me mostrou, para que eu mesmo pudesse ler, mensagens que tentavam suborná-los, para que me entregassem por 50 mil dólares”. A direção do Movimiento Al Socialismo (MAS), força política liderada por Evo Morales e Álvaro García Linera, soltou um comunicado, também nesta terça (12), revelando que estava em curso um sofisticado plano de “magnicídio”, visando a captura e o assassinato de Evo. O documento deixa claro que a decisão de Evo não foi de cunho individual, tendo passado pelo crivo coletivo do partido, ciente do grave risco ao qual seu líder estava exposto.
“Enquanto eu estiver vivo, seguimos na política. Enquanto tivermos vida, seguimos na luta”, sentencia. “Estamos certos de que os povos do mundo têm todo o direito de lutar por sua libertação. Achei que tínhamos acabado com a discriminação, a opressão e a desigualdade, mas ressurgem grupos que não respeitam a vida e muito menos a pátria. Se algum delito cometi, é ser indígena. Se algum pecado cometi, ao ser presidente, foi termos implementado programas sociais para os mais humildes, buscando mais igualdade e mais justiça. Só haverá paz quando garantirmos a justiça social, disso estou mais convencido que nunca. Nosso delito, nosso pecado é sermos anti-imperialistas. Que o mundo inteiro fique sabendo: não é por este golpe que vou mudar ideologicamente”.
Evo voltou a destacar o fato de que seu governo alcançou resultados extra-ordinários na redução da extrema pobreza e que os ataques partem de quem não aceita o “processo de câmbio”, que tem como uma de suas principais bandeiras a distribuição de renda. “Isso que está passando em nosso país vai fortalecer a luta dos povos na Bolívia e, talvez, no mundo”, opina.
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