No pior dos mundos, um Brasil marginalizado pelo marginal Michel Temer

A demência senil de José Serra, noticiada no GGN, confirmou minha hipótese. O tratamento humilhante dado a Michel Temer nos EUA (o golpista não teve direito a batedores como os demais chefes de Estado e foi obrigado a caminhar até a ONU para se livrar do transito) e na reunião dos BRICS (Vladimir Putin não se reuniu com o golpista que assaltou o poder no Brasil) também. A deriva, nosso país vai sofrer muito com o choque da realidade perversa que tem sido cuidadosamente escondida pela imprensa. Em 1964 a situação econômica do Brasil era muito pior do que aquela que existia antes da derrubada de Dilma Rousseff. Naquele tempo as vulnerabilidades eram maiores, pois não tínhamos vários parceiros comerciais nem reservas internacionais. Além disto, hoje temos o bonus do pré-sal, que poderia ter sido usado com sabedoria.

 

A tirania que chegou ao poder está consumindo nossas reservas internacionais e pretende entregar o pré-sal à sanha exploratória dos estrangeiros. Os indicativos econômicos estão se deteriorando mais e, para piorar, Michel Temer disse que se recusa a admitir a realidade. As cidades brasileiras apenas começaram a ser incendiadas pela reação ao golpe d estado e o tirano disse que o Brasil superou a instabilidade.

O regime democrático é, por sua própria natureza, instável. Mas ele tem uma vantagem: é capaz de se adaptar de maneira tranquila às vicissitudes impostas pelas novas realidades. Regimes ditatoriais que acreditam poder prescindir do voto popular ou do apoio da população geralmente pioram crises temporárias em razão de sua rigidez ideológica e metodológica.

Numa democracia a realidade se impõe através de eleições disputadas pelos partidos políticos que defendem distintas propostas econômicas. Numa tirania, a crença de que a realidade pode ser forçada à se ajustar aos esperançosos discursos oficiais provoca a ruína do regime. Democracias conseguem se reequilibrar, tiranias acabam sendo destruídas de maneira tranquila (revolução de veludo na Tchecoslováquia) ou violenta (destruição do regime Ceaușescu de na Romênia).

A derrubada de João Goulart foi imediatamente apoiada pelos EUA, país que se comprometeu a estabilizar economicamente a ditadura imposta ao país pelo golpe de 1964. Em razão de sua capivara* e das capivaras** de seus ministros, Michel Temer não conseguiu entusiasmar a Casa Branca. Além disto, na fase atual é duvidosa a capacidade econômica dos EUA de sustentar economicamente uma nova tirania brasileira.

Desemprego, sub-emprego, empobrecimento da população e até fome se tornaram realidades persistentes nos EUA. Além disto, os norte-americanos estão endividados em razão de suas aventuras militares no Oriente Médio. A insana crença na possibilidade de preservação da hegemonia do império branco dos olhos azuis na Ásia e na Europa transformaram a América Latina num quintal incapaz de despertar atenção dos EUA ou provocar novas despesas da Casa Branca.

Ignorado pelos norte-americanos, Michel Temer atravessou o planeta para implorar alguns tostões à China. Ele foi recebido de maneira cordial em Pequim, tirou fotos com o presidente chinês e nada mais. Temer não trouxe nenhum investimento novo na bagagem. A China também tem preocupações globais, está se aproximando da Rússia e cortejando a Alemanha. Os chineses sabem que não precisam dar atenção para um país marginal que se colocou voluntariamente à margem do processo de construção de uma nova ordem mundial.

Sob o comando de Dilma Rousseff, o Brasil poderia fazer parte da nova realidade geopolítica liderada por China, Russia e Alemanha. Com Michel Temer no poder o Brasil ficou à deriva, pois o novo regime não pode contar com o apoio efetivo dos EUA. E para piorar as coisas o chanceler José Serra (um péssimo administrador cuja única virtude tem sido conseguir elogios da imprensa) retirou o Brasil do BRICS no exato momento em que deveríamos consolidar nossa participação naquele bloco.

Resumindo: um governo de marginais conseguiu marginalizar totalmente o Brasil. Abandonado à própria sorte, nosso país só pode agora se tornar uma presa indefesa dos abutres europeus, ou seja, daqueles financistas que especulam com moedas e com títulos das dívidas públicas e que conseguiram destruir os empregos, as vidas e as esperanças de centenas de milhões de cidadãos na Itália, Espanha, Portugal, Grécia, Irlanda, etc…

Sobre estes abutres disse Wolfgang Streeck:

“O rentista, na sua procura de possibilidade de investimento seguro para as suas poupanças, considera muito bem-vindos Estados que dependem de financiamentos do crédito – sobretudo também devido ao seu sucesso na resistência aos impostos: a pobreza do Estado não só constitui a sua riqueza, como também lhe proporciona uma oportunidade ideal para investir a riqueza de forma a obter lucro.” (Tempo Comprado – A crise adiada do capitalismo democrático, Wolfgang Streeck, editora Actual, Coimbra – Portugal, 2013, p. 124)

Getúlio Vargas, estadista que modernizou as relações de trabalho no Brasil, oscilou entre a Alemanha nazista e os EUA para poder tirar o melhor proveito de uma situação de guerra iminente entre duas potências que estavam em rota de colisão. Michel Temer, mafioso que pretende reconduzir o Brasil à sua fase escravocrata, não conseguiu despertar interesse nem dos EUA nem do novo bloco de poder que está sendo construído pela China. O Brasil saiu da II Guerra Mundial fortalecido, em breve pode se transformar no restolho rejeitado dos despojos de uma nova guerra mundial. Não sem antes amargar um período de depressão econômica e de intensa instabilidade política. A história nunca se repete.

 

Este texto foi publicado no sábado pela manhã. A foto do G-20 divulgada no domingo já evidencia um processo de marginalização do Brasil. Numa foto anterior do bloco, Dilma Rousseff estava no centro simbolizando a importância do nosso país. Michel Temer foi colocado numa das pontas da foto quase fora do bloco.

 

capivara* capivaras** – gíria usada por policiais para se referir a ficha criminal de bandidos reincidentes.

Fábio de Oliveira Ribeiro

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador