Nós brasileiros: incapazes de resistir ao instinto animal

No filme “O Suspeito da Rua Arlington” o personagem principal, professor de História na universidade, dá uma aula sobre a canalização da vingança, e a consequente torpez gerada pela breve (e falsa)sensação de segurança quando se estabelece um nome, um culpado para um ato que tenha provocado catarse.

Essa passagem ilustra bem como vivemos em uma eterna corrida entre a necessidade inerente da autoenganação e a necessidade de criar mecanismos para contornar tal autoenganação. Criar mecanismos para que não nos autoenganemos, comumente utilizando jargões de imbecialidade coletiva, é tarefa árdua porque depende não apenas de hábitos de leitura e interesse pela história, mas da capacidade de aceitar os fatos do jeito que eles são.

Cabe também adicionar que o doutrinamento até agora vivido ainda é dominado pelo homocentrismo sem qualquer ligação com os chamados instintos animais, uma vez que o nível de civilidade, teoricamente, depende da capacidade de resistirmos a tais instintos.

Bem, se a premissa é verdadeira, ao que parece estamos caminhando no sentido contrário do que é preconizado pelo mainstream da civilização. Aqui, Brasil, estamos cada vez mais atônitos com a quantidade de atos e articulações que parecem tirados de quadrinhos de história medieval.

Tudo parece justificar a violência. Minto. Tudo não, mas até mesmo a menor das falhas tem levado à aceitação de teses e justificativas para a morte. Exemplo. Ontem o RJ TV do meio dia trouxe reportagem sobre a reconstituição da invasão da policia civil que acarretou a morte de um menino em uma favela carioca, onde moradores acusaram policiais de serem os responsáveis.

O comentarista de segurança estava explicando a situação até que veio com uma pérola: “o menino já tinha tantas passagens na polícia…”. Puxa, reconfortante, não é mesmo? Assim eu, cidadão de bem (como eu odeio essa denominação), posso utilizar isso para vomitar minhas sandices do tipo Direitos Humanos para Humanos Direitos.

Mesmo expediente ocorreu quando da morte do dançarino DG. Bastou que fosse revelado sua amizade com traficantes para que se justificasse seu assassinato cruel. Todos nós conhecemos gente assim, ou até mesmo já agiu assim. Infelizmente, todos esses atos expõem as nossas falhas no curso da evolução que deveria ser civilizatório, mas não é.

Hoje justificamos nossas falhas por meio de espantalhos como a falta de Estado, ou mesmo culpa do PT. Afinal, pode-se sempre copiar o ex menino maluquinho da Veja e dizer que o PT me tornou uma pessoa pior. Com esses dois fortes espantalhos podemos exercer nosso desvio de civilidade e falha como seres humanos sem mais delongas. Por isso, os avisos de que a sociedade brasileira está doente não são alarmistas, são percepções adiantadas que quem falhou não foi o Estado, mas nós mesmos, incapazes de resistir aos instintos animais.

Redação

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