O ‘ceteris paribus’ dos economistas, comentário de Valério Carvalho

No mundo real, entretanto, não existe a possibilidade de outros fatores econômicos ficarem inertes e bem comportadinhos só para confirmar as assertivas categóricas

Por Valério Carvalho
comentário no post Os cabeças de planilha e a celebração do conhecimento irrelevante, por Luis Nassif

“Ceteris paribus”

Essa é a expressão favorita de muitos economistas que acreditam piamente na ideia de ser a Economia uma ciência infalível (tipo lógico/cartesiana); nunca a atividade humana, empírica, incompleta e falha que é.

A esses, ocorre frequentemente divulgarem suas “previsões” omitindo motivos escusos; típica desonestidade intelectual e reprodução do adestramento coletivo. Claro, isso também pode ser relacionado a limitações que tenham a ver com falhas de caráter e/ou deficiência cognitiva. Ao mesmo tempo consideram que segui-los é a coisa certa, pois augurada numa espécie de Oráculo de Delfos pós-moderno.

Seriam ‘revelações’ infalíveis e cercadas por mistérios alcançados apenas pelo seu acólito grêmio esotérico e incompreensível ao restante, o lúmpen social composto por supostos e espontâneos áulicos: nós, o seu rebanho.

Nada além de uma pretensão quase sempre corrigida pela experiência que cura muitos e muita coisa; mas nem todos e nem tudo, evidentemente. Existe uma categoria impermeável à corrigenda do tempo: os que veem a si próprios como sábios incontestes. Esses creem que a invocação do seu credo teria o venerável poder de lhes cobrir as falhas.

Acima estou me referindo aos recalcitrantes que por terem suas ‘análises’ e previsões negadas pelos fatos, sempre terão como ‘recurso’ a seguinte ‘explicação científica’ a lhes socorrer como um mantra: — “ceteris paribus”.

No mundo real, entretanto, não existe a possibilidade de outros fatores econômicos ficarem inertes e bem comportadinhos só para confirmar as assertivas categóricas, e presumivelmente infalíveis, dessa magma ‘plêiade’ apenas porque foram oriundas das suas conclusões pseudo- magníficas.

Evidentemente é a Política que deve arrogar a si as decisões econômicas, o que significa que não se deve ficar a reboque das ‘leis’ da Economia. Mas subsiste um lamentável equívoco diuturnamente divulgado e repetido, cuja única explicação reside no inconfessado objetivo de anulação da soberania em prol do deus ‘Mercado’, entidade máxima de muitos tentáculos espalhados e de muitos agentes servidores, sempre prontos a lhe prestar reverência e alimentar sua fome de corações propensos ao misticismo e de mentes dóceis aos desígnios sofismados.

As grandes lideranças políticas balanceiam tais pressões e mantêm os economistas na conta de auxiliares de valor; nunca como protagonistas a ser seguidos como ícones num altar de devoção mística.

Mais do que isso sobra somente ‘choro e ranger de dentes’; um discurso vazio “cheio de som e fúria” ensaiado por cândidos néscios desconsolados pelo papel de coadjuvantes que lhes sobra nesse palco. Ou ainda o murmurar da má fé dos ‘iniciados’ que tentam se fazer de imprescindíveis e que, ao seu entendimento, não deveriam ser ‘afrontados’ jamais.

Porém os/as economistas mais sérios sabem que suas análises são produto da visão retrospectiva dos fatos econômicos, e é isso que pode servir como uma espécie de bússola para então melhor aconselhar um planejamento político/econômico. Isso já é mais do que suficiente.

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Valério Carvalho

Redação

2 Comentários

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  1. excelente análise. o economista de Cambridge Ha Joon Chang (livros traduzidos “Maus Samaritanos”, “23 coisas que não lhe contam sobre o Capitalismo”, “Economia: modo de usar” e “Chutando a Escada”) insiste e documenta exaustivamente a tese do presente artigo. Somente pessoas ou oportunistas, ou limitadas intelectualmente ou muito desinformadas podem engolir a gororoba pseudo-científica dos “luminares” de economia,que pontificam nas tvs, revistas e jornais. Piketty também é um crítico – sempre baseado em dados empíricos – dessa empulhação chamada “neoliberalismo”.
    As pessoas têm de ler, e com espírito crítico, livros como o desses autores. As “explicacões” simplistas e/ou mal-intencionadas dos tais “especialiatas” da tv servem apenas como cortina de fumaça para encobrir a real dinâmica geopolítica e econômica.

  2. As teorias dos economistas pró-capitalistas não explicam a realidade econômica, ao contrário, é a realidade econômica que explica as teorias dos economistas capitalistas.

    Para a Miriam Leitão, por exemplo, a causa da inflação depende das conveniências momentâneas. Em 2006, ela afirmava que a causa da inflação era a reposição das perdas salariais dos trabalhadores. Em sendo assim, segundo a Miriam Leitão, para manter a estabilidade da moeda, os trabalhadores não deveriam ter suas perdas salariais repostas.

    Na Campanha Presidencial de 2006, a Heloisa Helena foi entrevistada no Bom Dia Brasil. A Miriam Leitão lhe fez a seguinte pergunta:

    “O programa do P-SOL, seu partido, defende a reposição salarial mensal da inflação. A inflação foi sempre um fantasma que perseguiu os brasileiros durante 40 anos, e essa reposição, nós já vimos, é um processo inflacionário. A senhora não defende a estabilidade da moeda?”

    Já em 2011, a Miriam Leitão mudou de idéia. A causa da inflação não era mais a reposição das perdas salariais dos trabalhadores, era a redução da taxa de juros:

    “A presidente Dilma Rousseff defendeu juros menores e o ministro da Fazenda também. E o controle da inflação, como fica?”

    Quando os fatos contrariaram as teorias inflacionárias da Miriam Leitão, ela ajustou os fatos às suas teorias:

    “O consenso é que os juros vão parar de subir na reunião do Copom esta semana e, se olharmos para trás, de fato, o período de aperto monetário foi longo. Durante um ano a Selic subiu, numa alta acumulada de 3,75 pontos percentuais. O problema é que, apesar disso, o impacto na inflação foi mínimo, qualquer que seja a forma que se olhe. Ela permanece alta e perto do teto da meta.

    Isso não quer dizer que os juros não fizeram efeito. O risco era de que taxa fugisse ao controle se nada fosse feito naquela época. O acumulado em 12 meses estava subindo e havia risco de que ficasse cada vez maior. Nem só de ação do BC vive a política contra a inflação. Outras medidas poderiam ter sido tomadas. Mas o risco maior era espalhar-se a convicção de que a autoridade monetária estava impedida de agir.”

    Para ela, a taxa de juros alta não controlou a inflação, mas ela consola a si mesma afirmando que se a taxa de juros não tivesse sido elevada, o descontrole da inflação seria ainda maior. Não é uma questão de sazonalidade.

    Constatando o recuo da inflação não por causa dos juros altos mas apesar deles, a Miriam Leitão tenta salvar sua teoria com outros argumentos:

    “A interrupção do ciclo de aperto monetário neste momento, -diz ela-, pode ser defendido por vários argumentos. Primeiro, a alta acumulada em todo esse tempo continuará fazendo efeito no futuro; segundo, esse é o começo de um período de redução da pressão inflacionária vindo dos alimentos; terceiro, há vários sinais de que o nível de atividade está em desaceleração.”

    Na verdade, a elevação da Taxa Selic não faz diminuir a inflação, o que essa elevação provoca é o aumento da dívida pública. Assim, a pergunta apropriada deveria ser: A presidente Dilma Rousseff defendeu juros menores e o ministro da Fazenda também. E a dívida pública, como fica?

    O aumento da dívida pública força o governo a gastar mais para pagar os juros dos Rentistas. Aí a Miriam Leitão reclama do aumento dos gastos:

    “Ao mesmo tempo, o governo continuou ampliando gastos e passando a informação de que havia apenas uma frente verdadeira de luta contra a inflação: a da política monetária. Nas outras frentes, o que o governo tem feito é manter preços artificiais de energia e de combustíveis, que acabam alimentando a expectativa de alta futura da inflação.”

    Veja que a Miriam Leitão ainda acha que num país como o Brasil, que apesar de ter o maior potencial hidrelétrico do mundo, paga uma das energias mais caras do Planeta, o preço da energia está baixo. Ela tá de brincadeira. Para não alimentar a expectativa de alta futura da inflação, o governo deve aumentar a inflação agora, aumentando os preços da energia e dos combustíveis, logo agora que pobre pode comprar um carrinho. Que paradoxo, o governo teria que elevar o preço da energia e dos combustíveis para combater a inflação.

    De acordo com o Karl Marx:

    “No campo da economia política, a investigação livre e científica encontra muito mais inimigos do que nos outros campos. A natureza particular do assunto de que trata ergue contra ela e leva para o campo de batalha as paixões mais vivas, mais mesquinhas e mais odiosas do coração humano, todas as fúrias do interesse privado. A Igreja de Inglaterra, por exemplo, perdoará muito mais facilmente um ataque a 38 dos seus 39 artigos de fé do que a 1/39 dos seus rendimentos. Comparado à crítica da velha propriedade, o próprio ateísmo é hoje uma culpa levis”.

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