O confronto de índios na fronteira do Acre

Guerra entre índios? Sim, é o que pode acontecer em solo brasileiro e a Funai está monitorando o possível encontro de índios isolados que foram fotografados em 2008 com índios  nômades peruanos que se aproximam da área dos isolados, buscando a caça e a pesca que ficaram raras em suas áreas originais devido à extração de madeira e plantio de coca.

Por nunca terem tido contato com outros índios ou a chamada sociedade civilizada, qualquer estranho a esse ambiente poderá gerar reações naturais de defesa de território. Os índios peruanos (que não saberei se mantêm ou não sua cultura relativamente inalterada, ainda mais se pensarmos que falamos de Peru, cuja relação entre o branco e o índio foi diferente da aqui ocorrida) poderão gerar choque no meio da selva, uma vez que o conceito de mundo para os isolados é muito mais restrito. Lembremos que os isolados também não se veem como índios, uma vez que tal conceito não existe em suas mentes. Portanto, os nômades do país vizinho correm o risco de serem vistos como estrangeiros tanto quanto seriam vistos um sueco e um togolês. Há a possibilidade de haver encontro amistoso (assim como houve em outras ocasiões com outras tribos), mas todo cuidado é pouco.

Vale lembrar que a atual postura da Funai para com isolados é evitar o contato, mas proteger a área em que vivem e observar de longe. A possível grande guerra indígena que ocorra se os nômades atingirem a área dos isolados será um daqueles momentos de teste da eficiência ou não dessa política. Se por um lado pode ajudar a mantê-los longe de vícios da civilização, seja captados diretamente dela ou de índios contatados, por outro poderá prejudicar sobremaneira a solução de conflitos que possam ocorrer com a tribo vinda de outro país.

Já foram registrados conflitos menores entre índios, o que fazem pensar sobre se vale a pena manter o isolamento das tribos hoje só conhecidas pelo céu. Ainda que a Funai tenha experiência acumulada, sempre fica a dúvida sobre como transplantar alguém diretamente da pré-história para a era da informação sem que haja um impacto que corresponda ao de uma bola de demolição atingindo um homem adulto. E, claro, como evitar outros tristes episódios como alcoolismo em massa, suicídios, prostituição e por aí vai.

Segue a notícia:

Da Folha.com

Funai diz que pode haver confronto com índios isolados

ELIDA OLIVEIRA
DE SÃO PAULO

A Funai (Fundação Nacional do Índio) está monitorando grupos indígenas que vivem isolados perto da fronteira do Acre com o Peru.

A migração de grupos do país vizinho para o Brasil pode causar um confronto entre índios “como não se via há mais de 500 anos”, diz o indigenista da Funai Artur Figueiredo Meirelles, coordenador da frente de proteção etnoambiental de Envira (AC).

Na região de Envira, há pelo menos três etnias que nunca tiveram contato entre si ou com a sociedade.

Com a extração de madeira na Amazônia peruana e a exploração de coca, os índios nômades do Peru fogem em busca de caça e alimentos para coleta, diz o ex-coordenador da frente de proteção José Carlos dos Reis Meirelles.

De acordo com Figueiredo, é possível deduzir pela observação feita em sobrevoos que os nômades estão se aproximando dos isolados.

Caso se encontrem, a reação natural dos índios isolados é defender o território pelo combate, diz Figueiredo.

NOVAS IMAGENS

Gleison Miranda/Funai/Survival

A ONG de proteção aos índios Survival Internacional divulgou nesta segunda-feira (31) fotos de um dos três grupos de índios isolados no Acre.

Nas imagens, feitas pela Funai em março de 2010, eles aparecem com o corpo coberto de urucum, empunhando arcos e flechas. Nos cestos é possível identificar mamão e mandioca.

O mesmo grupo já foi fotografado em 2008 e é monitorado há 23 anos, de acordo com José Carlos dos Reis Meirelles. As observações são feitas à distância (por terra) ou por sobrevoos a cada um ou dois anos.

Os índios das outras duas tribos nunca foram vistos — eles fogem para o mato quando escutem o barulho das aeronaves, diz o indigenista.

Segundo estimativas de Meirelles, há pelo menos 600 índios vivendo nos três grupos isolados –somente na comunidade fotografada são cerca de 300 índios. O número não é preciso porque é obtido com base no tamanho do território ocupado pelas tribos, no número de ocas e na área plantada.

A Funai estima que existam no Brasil 67 grupos de índios isolados nas diversas regiões do país.

Gleison Miranda/Funai/Survival

Luis Nassif

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