O confronto no Egito

Da BBC Brasil

Acompanhe ao vivo: Manifestantes pró e contra Mubarak entram em confronto no Cairo

Tariq Saleh
Enviado especial da BBC Brasil ao Cairo

Confrontos violentos entre manifestantes pró e contra o governo do presidente egípcio Hosni Mubarak ocorrem nesta quarta-feira na Praça Tahrir, principal palco dos protestos que há nove dias tomaram conta do Cairo.

O conflito, que também tomou outros locais do centro da capital egípcia, envolve centenas de pessoas. Os grupos rivais jogam pedras, tijolos e pedaços de pau uns nos outros. Alguns manifestantes entraram na praça montados em cavalos e camelos.

Há relatos de diversas pessoas feridas no local, mas ainda não há uma estimativa do número de feridos.

CorreCorrespondentes da BBC relatam que o clima na Praça Tahrir mudou completamente em comparação com os dias anteriores. Segundo eles, pessoas quebraram o concreto das ruas para atirar pedaços contra adversários. O Exército não estaria intervindo nos confrontos, e não está claro como a situação será resolvida.

Há diversas pessoas com ferimentos na cabeça, e ao menos 40 pessoas ficaram feridas nas últimas duas horas. Um hospital improvisado foi montado no local para atendê-las.

Milhares de simpatizantes do presidente começaram a chegar durante a tarde à praça, onde já estavam concentrados há dias dezenas de milhares de manifestantes que pedem a renúncia de Mubarak – no poder há mais de 30 anos. 

Segundo testemunhas, grupos de manifestantes pró-Mubarak desmontaram barricadas que estavam no local. Houve então discussões e confrontos físicos, e a tensão no local aumentou muito.

Em um bairro próximo à praça, o comércio fechou as portas, com medo de gangues e de confrontos entre simpatizantes e opositores ao governo, e as pessoas começaram a montar barreiras nas ruas.

Um helicóptero do Exército sobrevoava constantes sobre Cairo, e é possível escutar tiros pelas ruas.

Os distúrbios já chegaram à cidade de Alexandria, onde apoiadores de Mubarak também saíram às ruas, relata o correspondente Wyre Davies.

Ao mesmo tempo, um porta-voz do governo reagiu às manifestações dizendo que o Egito rejeita os apelos internacionais por uma transferência imediata de poder. 

Manifestantes

Os manifestantes pró-Mubarak começaram a se reunir na manhã desta quarta-feira no bairro de Mohandeseen, relativamente próximo à Praça Tahrir. Segundo o correspondente da BBC Jon Leyne, vários disseram que representam o “Egito real”, e afirmaram que não estavam sendo pagos para apoiar o presidente, como afirmam membros da oposição.

Os simpatizantes de Mubarak defendem que ele realizou um bom trabalho nos últimos 30 anos. Enquanto alguns apoiam sua decisão de deixar o poder em setembro, outros querem que ele permaneça governando o país por mais um mandato.

Os choques na Praça Tahrir se seguem a um chamado do Exército para que a população deixasse as ruas, após nove dias de protestos.

Pronunciamento

Na terça-feira à noite, Mubarak disse em pronunciamento que não se candidataria à reeleição em setembro. O discurso se seguiu ao maior dia de protestos contra seu governo em todo o país, no ápice de mais de uma semana de manifestações, que deixaram cerca de 300 mortos, segundo estimativas da ONU. 

a madrugada desta quarta-feira, cerca de dois mil manifestantes anti-Mubarak acampavam na Praça Tahrir – epicentro dos protestos – dizendo que as promessas do presidente tinham sido insuficientes e gritando palavras de ordem como “não sairemos!”. Mas nesta quarta-feira, milhares de pessoas saíram às ruas para apoiar Mubarak.

Imagens de TV mostraram os grupos de manifestantes desafiando uns aos outros, gritando palavras de ordem na praça. Quando as brigas começaram, soldados entraram em ação para evitar que os confrontos fugissem ao controle.

No discurso de terça-feira, Mubarak prometeu sair do poder após as próximas eleições, afirmou que reformaria a Constituição e que dedicaria o restante de seu tempo no poder para garantir uma transição pacífica para seu sucessor.

“Esse é o meu país. Aqui é onde vivi, lutei e defendi esta terra, sua soberania e seus interesses, e morrerei em seu solo”, disse ele.

O presidente dos EUA, Barack Obama, reagiu afirmando que uma transição pacífica “deve começar agora”, enquanto o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que Mubarak deveria “dar um passo diferente”.

O serviço de internet foi reativado no país, após dias suspenso pelo governo. A TV estatal afirmou que o toque de recolher também havia sido relaxado – em vigor agora de 17h às 7h, em vez de 15h às 18h locais, como nos últimos dias.

A TV estatal egípcia também afirmou que o Parlamento havia sido suspenso até que os resultados das últimas eleições do país – contestadas pela oposição, fossem revisados. A TV acrescentou que o presidente do Parlamento pediu que as mudanças constitucionais propostas por Mubarak sejam implementadas dentro de dois meses e meio. 

Luis Nassif

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