O dever da imprensa no governo Bolsonaro, por Janio de Freitas

Defesa do Estado Democrático de Direito “exige ser proporcional à ameaça e ao ataque que sofram. Nada menos e, se necessário, mais”
 
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
 
Jornal GGN – A imprensa brasileira, incluindo Tv, rádio e revistas, deve assumir seu papel de defender os direitos democráticos conquistados no país ao largo de três décadas. Isso porque as demais instituições do Poder – Executivo, Legislativo e Judiciário – provaram nos últimos anos não serem capazes desse feito. A análise é de Janio de Freitas, na coluna desta quinta-feira (03), na Folha de S.Paulo.
 
“Tanto quanto dependerá de Jair Bolsonaro e sua trupe ideológica, o Brasil e seus anos vindouros passam a depender da imprensa (…) impõe-se a evidência: as instituições oficiais não estão em condições de defender as conquistas democráticas dos últimos três decênios”, pontua.
 
O articulista lembra, entretanto, que a história recente aponta para vícios da imprensa brasileira que, inclusive, levaram até o delicado cenário atual. Existe um “conflito vivido entre ética e conveniência por inúmeros jornalistas”, completa arrematando o exemplo da cobertura durante o governo Collor. 
 
“O plano econômico então imposto foi essencialmente inconstitucional, além de sua violência, e a corrupção regida por PC Farias era o tema do dia e da noite no poder econômico. Mas a imprensa, em geral, calou o quanto pôde”.
 
Janio também vê como negativa a aparente imparcialidade que a imprensa brasileira tenta exercer:
 
“Para compensar a crítica aos discursos inversos de Bolsonaro em sua posse, foi lugar-comum [na imprensa] o ataque aos partidos de esquerda por não irem às solenidades ouvir os discursos criticados. Até por caráter, se a razão política não bastava, os políticos de esquerda não tinham mesmo que prestigiar a posse de quem disse que vai exterminá-los”, recorda.
 
O papel central de jornalistas e empresas de comunicação deve ser “a defesa dos direitos, da liberdade e demais fundamentos da Constituição” o que, prossegue Janio, “exige ser proporcional à ameaça e ao ataque que sofram. Nada menos e, se necessário, mais. Fora disso, é conivência. Essa é decisão de comando empresarial, sim, mas não só”.
 
Entretanto, tudo indica que a imprensa brasileira, “ameaçada por Bolsonaro” continuará a se submetendo, como fez na cobertura da posse.
 
“Eram 1.500 jornalistas na cobertura da posse de Bolsonaro. Entre serem revistados ao menos duas vezes, obrigados a se apresentar 7 horas antes da posse, serem confinados em cercadinhos sem cadeira, sem alimento, sem direito de ter maçã, iogurte ou garrafa de água; com restrição de acesso a banheiro e bebedouro, o planejado para os jornalistas foi humilhação generalizada”.
 
Alguns jornalistas, todos da imprensa estrangeira, se retiraram e não fizeram a cobertura. Mas os meios de comunicação no Brasil, mantiveram seus funcionários, submetendo-se à humilhação.
 
“Se respeitada, com a reação proporcional levando à retirada geral, a ausência de cobertura reverteria para Bolsonaro a lição que seu general planejador quis para os repórteres”, salienta o colunista da Folha completando que agora é o momento da nossa imprensa repetir o exemplo do Washington Post, do New York Times, da CNN, meios de comunicação que “salvaram a liberdade de imprensa nos EUA e a si mesmos” ao bater de frente com os desatinos do governo Donald Trump.
 
“A imprensa brasileira talvez esteja condenada a algo parecido: o ódio à imprensa na trupe de Bolsonaro, militar e paisano, não quererá perder a oportunidade. Não é hipótese. É certeza”, conclui. Para ler a coluna de Janio de Freitas na íntegra, clique aqui.  
 
 
Redação

11 Comentários

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  1. A questão é que no Brasil

    A questão é que no Brasil quando fala-se em imprensa não se esta falando do jornalista que escreve, edita, organiza uma redação. Esta-se falando necessariamente de seus proprietarios que dirigem os meios de comunicação como se fosse patrão de algum mercadinho da esquinha. Pois a logica é a mesma: funcionario que antigamente chamava-mos de trabalhador deve fazer o que patrão manda e ponto. Por isso o tratamento de chiqueiro para os jornalistas brasileiros. E eles aceitaram. Se sentiram obrigados a aceitar o tratamento dado a porcos. 

  2. Meus amigos de blog, quer

    Meus amigos de blog, quer dizer que agora, pra democracia sobreviver, se é que já não morreu, nós dependemos da imprensa ??? Tamo tudo fu……  É o que eu digo, pior que estar no inferno, é saber que se está no inferno. Fôssemos nós um bolsominions alienados. comemoraríamos. Mas como optamos pelo outro lado….

  3. E o ódio à imprensa
     

    É homogêneo, merecido e compartilhado tanto quanto é homogênea, falsa e compartilhada a sua versão dos fatos.

    Devemos a ela a “grandiosidade” deste momento histórico.

  4. eles merecem
    “com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma” Pulitzer

    Serviço feito, agora aproveita.

    Pena que o câncer levou Otávio Frias e civita antes deles poderem ver a grande obra que ajudaram a criar.

    Fico imaginando se Miriam leitão et caterva estão curtindo estes tempos ?!

  5. eles merecem
    “com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma” Pulitzer

    Serviço feito, agora aproveita.

    Pena que o câncer levou Otávio Frias e civita antes deles poderem ver a grande obra que ajudaram a criar.

    Fico imaginando se Miriam leitão et caterva estão curtindo estes tempos ?!

  6. Quem pariu Mateus que o embale

    Gosto das frases de nossos antepassados lusitanos, sempre caluniados ou esquecidos. A mídia brasileira, de todas as formas, foi um dos pilares do golpe, que começou com as passeatas de 2013 e segue agora com a inacreditável posse de um obscuro deputado desconhecido até há pouco tempo. Se a imprensa tivesse cumprido o papel a que se arvora, de guardiã e arauto da verdade, não teria sido tão fácil derrubar uma presidente sem crime, nem manter o grupo judiciário-ditatorial do Paraná e RGS, com seus julgamentos tão bem cobertos, sem nenhuma crítica, a começar pela designação de um juiz de Curitiba para fatos supostamente acontecidos no estado de São Paulo e em Brasília. A mídia noticiou a seguida intromissão militar nos julgamentos como se fosse coisa normal, um puxãozinho de orelha democrático, que poderia ser seguido de uma machadada se necessário. Tudo normal. A intromissão eletrônica, milhões de mensagens pagas por dinheiro não declarado, os resultados estraníssimos das urnas em alguns estados e em Brasília, tudo normal. Um ou outro arreganho, logo controlado pela ameaça da dor de bolso, a mais sentida. Não se iludam, Bolsonaro não é o PT, que sustentou a imprensa golpista com quase toda a verba de propaganda do governo e estatais, sendo pago com mentiras, rumores, campanhas de difamação… Vocês fizeram o monstro, que, pior ainda, se reproduz em monstrinhos ainda mais feios. Aguentem ficar sem cadeira, água, etc. Vocês merecem. Mesmos os jornalistas individuais, que se curvam a seus patrões, estes curvados ao governo. Quem pariu Mateus que o embale.

  7. A TV GLOBO, humilhada pelo

    A TV GLOBO, humilhada pelo espaço inédito dado pelo Poder ao SBT, à Rede e a Record, se contenta e se dá por feliz em

    dar uma hora de GLOBONEWS á Ministra Damares, o “time” de bajuladores está cada vez mais patético e irrelevante.

  8. Sobre Jânio, que se alguém

    Sobre Jânio, que se alguém não o admirasse estaria classificado com uma besta-fera, eu queria dizer que fiquei alegríssima em ouvir de Bob Fernandes que vai ter um canal no Youtube com diversas personalidades do meio jornalístico, e que uma delas é ninguém menos que Jânio de Freitas. 

    É adorável ler as matérias dese monstro, que se lixa pra tudo e todos e manda vê nas suas convicções, e goste quem quiser.

    De minha parte, por mais que eu queira, basta ligar a CBN e lá está alguém torcendo pelo que não deve, e ainda esculhambando com Lula e Dilma. Aliás, ainda se fala muito mal de Lula, mas depois da prisão só se ouve mesmo falar em Dilma. Só falta Moro criar uma jogada para prender a mulher também. 

    No dia da possessão, no final do JN, quase não acreditei ao ver Bonner alegre, dizendo ter achado tudo maravilhoso, etc. Dá vontade de bater no homi pra ver se ele deixa um dia de ser tão ridículo. 

  9. Igualdade
    O antigo programa humoristico ironizou toda a mídia ao anunciar que trabalhava na Globo. A imprensa já não abre todas as portas, principalmente nas instituições de poder. E a Globo vem perdendo espaço para a concorrência; credibilidade junto a sociedade, e identidade junto ao poder.

  10. Dificuldade em perceber a realidade

    A dita “impressa” (termo embolorado), a grande mídia, já não tem a relevância do passado. O que restou são empresas controladas pelo capital financeiro. As pessoas comuns precisam ter meios materiais de manter a si e as suas famílias, em tempos de crescente precarização das relações de trabalho e das redes de proteção social. Os jornalistas são pessoas comuns,  que tem que se submeter à vontade de seus patrões. Talvez o Sr. Jânio possa ignorar tais realidades, mas outros profissionais não.

  11. Pergunta que não quer calar:
    Excetuando-se paladinos como o Janio de Freitas, quando será que os oligarcas da mídia empresarial e seus comissários irão fazer sua autocrítica?

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