O dia em que o Comentarista de Portal virou Sequestrador, por Arnóbio Rocha

Loucura pensada não é loucura.

Ele nada tem de louco, talvez um pouco desequilibrado emocionalmente devido às overdoses de Veja, Folha, Globo, Estadão… enfim, não usou arma e nem explosivos verdadeiros, logo, é inimputável da acusação de ameaça de morte. Pura encenação. Tudo pensado, o que nos faz aceitar hipótese de uma possível teoria da conspiração mesmo, uma ação que poderia evitar a vitória de Dilma no primeiro turno, mas que fracassa no seu objetivo de catarse social, perfeitamente sentido pela grande imprensa.

A arma era de brinquedo, os explosivos não eram de verdade

Uma coisa ridícula. Pura encenação para sair na mídia, que repercutiu o caso, falando do hotel em que Dirceu ganharia 20 mil reais. De quebra, o sequestro aconteceu a maior parte do tempo no 13º andar. Coisa ridícula.

Todo mundo viu que era armação.

BARRA MANSA

Barra Mansa é uma média cidade do Vale do Paraíba fluminense, outrora um importante entroncamente ferroviário entre o RJ, MG e SP. Comemora 182 anos no próximo dia 03 de Outubro.

Nos idos do século XIX, era cidade forte do circuito cafeeiro. Depois, cresceu e se expandiu no pós-guerra (2ª) com a implantação de diversas indústrias, sobretudo metalúrgicas e siderúrgicas, como Votorantin, Barbará (atual Saint Gobain) e a própria CSN, que traria grande impacto na vida do município, não fosse a emancipação do distrito na atual cidade de Volta Redonda, hoje muito mais rica e populosa que a antiga sede.

A presença da então estatal fez com que a distribuição de renda no novo município fosse muito mais equilibrada que em Barra Mansa, que parece uma versão micro da sociedade paulistana, ao meu ver: poucas famílias ditas tradicionais com muito dinheiro, outras famílias classe média ostentando o que não tem e muitas outras de poucas posses, expulsas para os bairros periféricos da cidade (alguns dependem apenas da Via Dutra como acesso). Neste último grupo ficam basicamente os descendentes dos trabalhadores braçais de Minas Gerais que migraram para a “importante” Barra Mansa no início da segunda metade do século passado e, “logicamente”, os “de cor”!

Embora com este perfil, Barra Mansa curiosamente ainda tem força no comércio. Apesar do crescimento econômico dos últimos 12 anos, a cidade perdeu muitos investimentos no setor produtivo, mas acabou “compensada” com o boom industrial ocorrido nas vizinhas Itatiaia, Resende e Porto Real, hoje polo automobilistico, tornando-se dormitório destas cidades adjacentes, além de sê-lo também do antigo distrito.

Politicamente, o maior expoente seja talvez um dos deputados flagrados dentre os Anões do Orçamento, cuja família controla(va) a única emissora de TV da cidade e várias rádios AM e FM. Familiares deste ex-deputado ainda são eleitos e reeleitos pleito após pleito e recebem sempre cumprimentos e tapinhas nas costas onde quer que vão. O mesmo acontece com o único dos prefeitos que deixou o cargo com salários atrasados nos últimos 30 anos! Parece o Paulo Maluf aqui em SP. 

É uma sociedade arcaica, com a maioria da elite e dos (frustrados, principalmente) aspirantes a ela estudando em colégios particulares, de administração católica, onde a grande pergunta a responder era: “quem é o seu pai?” ou “qual a sua família mesmo?”.

Eu mesmo escutei muito estes questionamentos, quando fui estudar, aos 16 anos, em um destes colégios – detalhe: curso técnico noturno, no “2º grau”, depois do expediente no trabalho de 8h às 18h, de segunda a sexta, e meio expediente no sábado, das 8h às 12p0, sem vale-refeição ou vale-transporte. 

E pior: esta pergunta me era feita não só pelos descendentes das famílias tradicionais, mas também dos aspirantes, que se mostravam as vezes mais seletisas do que aqueles.

Outra classe que sempre se mostrou muito esnobe é dos funcionários públicos e de empresas estatais, a CSN incluída, mas também – e principalmente – os funcionários da Caixa Econômica, do Banco do Brasil e do antigo Banespa (que possuía agências em Volta Redonda e Bananal, cidade paulista distante 30km de Barra Mansa.

Bastava o jovem conseguir vaga de “menor aprendiz” em um destes bancos que já se arrogava como um legítimo classe alta. Vagas que, em sua maioria, eram preenchidas pelos filhos das famílias abastadas ou das aspirantes, no melhor exemplo da “meritocracia” do QI (quem indicou). Claro que não eram todos, mas infelizmente a maioria era assim.

Atualmente, pouca coisa mudou, embora a economia tenha democratizado as oportunidades. Tenho dois filhos que estudam no outro colégio católico da cidade, um no 1º ano do ensino médio e outra no 6º ano. Nas respectivas classes ou em todo o colégio, posso contar os colegas negros deles em uma só mão. Isso no estado que tem a 2ª maior população negra do Brasil!