O encontro do Papa com Lula

Conversaram por cerca de uma hora: desigualdade, o encontro de jovens economistas que o papa convocou para março, em Assis, e meio ambiente. Ponto. 

Foto Ricardo Stuckert

O papa recebeu a comitiva do Lula, da qual faziam parte Celso Amorim, Cristiano Zanin e o advogado de Curitiba Manoel Caetano. Também dois assessores de imprensa. Cumprimentou a todos. Zanin deu ao papa um exemplar do livro que publicou sobre lawfare e explicou do que se tratava em breves palavras.

Aí entraram para a audiência privada o papa, Lula e Celso Amorim. Conversaram por cerca de uma hora: desigualdade, o encontro de jovens economistas que o papa convocou para março, em Assis, e meio ambiente. Ponto.

Se contaram piadas ou fizeram outros comentários durante a audiência, Lula não contou. Mas saiu muito satisfeito e disse que Francisco é “uma pessoa extraordinária”.

Ao final da declaração do Lula à imprensa, o repórter brasileiro do Globo perguntou sobre a carta do papa sobre a Amazônia com críticas ao governo Bolsonaro (que eu sinceramente não vi nominado no documento). E o Lula respondeu que não foi ver o papa pra falar de Bolsonaro. 

Maias detalhes reais, na reportagem que saiu no site lula.com.br

Depois de ver o Papa, Lula diz que ganância aumenta desigualdade 

13 de fevereiro de 2020

Depois de ter se encontrado nesta quinta-feira(13/02) com o papa Francisco, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em Roma que “a ganância dos interesses empresariais e financeiros” é responsável pela revogação de conquistas dos trabalhadores e pelo aumento da desigualdade no mundo. Lula denunciou a “má vontade dos governantes” diante da questão ambiental e exortou os jovens a “lutar para garantir o seu espaço e o seu futuro no planeta terra”.

Lula foi recebido pelo papa em audiência privada na residência Santa Marta, no Vaticano, durante cerca de uma hora. Foi o primeiro encontro dos dois líderes, que haviam trocado correspondência em 2018, quando Lula cumpria prisão ilegal em Curitiba. Em entrevista, o ex-presidente destacou os pontos principais da audiência: o combate à desigualdade, que será tema em março de um encontro mundial de jovens economistas convocado pelo papa, e também a questão ambiental.

“O mundo está ficando mais desigual e maioria dos trabalhadores está perdendo direitos”, disse Lula. “Muitas das conquistas que tivemos no Século XX estão sendo derrubadas pela ganância dos interesses empresariais e financeiros”. Lula recordou ter participado de encontros do G-20 após a crise financeira global de 2008, mas sem resultados: “Todas as decisões que tomávamos envolvendo interesses dos trabalhadores, desenvolver os países mais pobres, nada disso aconteceu”.

“O que aconteceu é que o sistema financeiro saiu mais forte e a economia mundial está financeirizada”, afirmou. “Hoje se ganha dinheiro produzindo papéis e vendendo facilidades, ao invés ganhar fabricando produtos e gerando empregos”. Lula disse que é alentadora a iniciativa do papa de debater a desigualdade com jovens economistas, porque “toca num assunto vital para o futuro”. E indagou: “Quem é que vai oferecer trabalho aos trabalhadores? Quem vai pagar salários? Quem é que vai cuidar das pessoas pobres, que nem oportunidade de emprego têm?”

Lula disse ter ouvido do papa que este, aos 84 anos de idade, “quer fazer coisas que sejam irreversíveis, que fiquem para sempre no seio da sociedade”. Segundo o ex-presidente, a inciativa de estimular a juventude a discutir a nova economia do mundo é uma necessidade. “Isso deve servir de exemplo para o movimento sindical, para outras igrejas e para os partidos políticos do mundo inteiro”.

SER HUMANO EM EXTINÇAO

“Nós estamos percebendo que há uma má vontade, apesar dos discursos dos governantes, em se preocupar com a questão ambiental”, disse Lula ao abordar o segundo tema principal da audiência com o papa Francisco. “Muita gente deseja romper o protocolo de Kioto”, afirmou, referindo-se ao compromisso assinado em 1997 pelos países membros da ONU, de reduzir a emissão de gases relacionados ao aquecimento global.

“Muito se fala em energia alternativa, no degelo do pólo norte, mas pouco tem sido feito”, afirmou. “Enquanto a gasolina e o petróleo forem baratos, não há interesse em mudar a matriz energética da maioria dos países”. Lula recordou compromissos que nunca foram cumpridos, como a ampliação do uso de biocombustíveis na Europa. “É preciso levar muito a sério um novo modelo de produção energética”.

Lula voltou a defender o que disse na reunião da COP 15 em Copenhague, em 2009, da qual participou como presidente do Brasil, sobre a questão ambiental ser responsabilidade de todos. “Antes de culpar a China pela poluição atual, é preciso saber quem vai pagar pela poluição histórica do planeta Terra”. Ele disse que já naquela ocasião percebeu que muitos queriam deixar de cumprir o Protocolo de Kioto.

“Quero lembrar que, se a gente não cuidar da preservação do planeta, um dos principais animais em extinção é o ser humano, sobretudo os pobres, porque não existe nenhuma preocupação em cuidar deles”, afirmou Lula.

O ex-presidente disse ter ficado “muito satisfeito” pelo encontro com o papa. “Se todo ser humano, ao atingir 84 anos, tiver a força, a disposição e a garra que ele tem, de levantar temas instigantes para o debate, a gente poderá encontrar soluções mais fáceis”. Ao fim da declaração à imprensa, Lula afirmou: “Há dois setores que têm de lutar: nós, que temos mais de 70, aposentados e velhos, e os jovens, que na verdade têm muito o que lutar para garantir o seu espaço e o seu futuro no planeta Terra”.

ENCONTROS EM ROMA

Depois da audiência com o papa, Lula visitou a Fundação Lili e Lélio Basso, onde se encontrou com os juristas Luigi Ferrajoli e Franco Ipolitto, ex-presidente da Suprema Corte Italiana. Muito respeitado pela comunidade jurídica internacional, Ferrajoli denunciou os abusos da Lava Jato e disse que Sergio Moro fez uma “colaboração premiada” com Jair Bolsonaro. Em manifesto com outros 16 juristas de todo o mundo, afirmou que Lula “não foi julgado, foi vítima de uma perseguição política.”

Na quarta-feira, quando chegou a Roma, o ex-presidente Lula recebeu, em encontros individuais, o ministro de Economia e Finanças da Itália, Roberto Gualtieri, o ex-primeiro-ministro Massimo D’Alema e o sociólogo Domenico De Masi, que o haviam visitado na prisão em Curitiba. Também se encontrou com os organizadores do Comitê Lula Livre na Itália. A todos agradeceu pela solidariedade e pela defesa da democracia no Brasil.

O ex-chanceler Celso Amorim e os advogadosCristiano Zanin e Manoel Caetano viajaram com o ex-presidente. Celso Amorim acompanhou Lula na audiência com o papa. O ex-presidente também se encontrou com os organizadores do encontro “A Economia de Francisco”, que reunirá jovens economistas a convite do papa, em março, na cidade de Assis.

Luis Nassif

6 Comentários

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  1. É impressionante a agenda do Lula quando viaja ao exterior.
    As maiores autoridades e referências políticas e intelectuais do país que visita tem encontros com ele.

  2. Encontro dos dois papas, o da igreja e o da política. Para falar de dois assuntos capitais: desigualdade e meio ambiente. Lula, brasileiro, tem muito a falar sobre desigualdade. Papa, sobre meio ambiente, depois de sua encíclica. Sinceramente, querem minha opinião? Só com a mediação Divina. Deus precisa voltar para corrigir seus erros. Talvez melhorando a qualidade do barro.

  3. A Encíclica que trata do avanço do rentismo merece ser lida para entender o que o papa quer discutir em março em Assis, na Itália.
    Frase do papa: “Esse sistema econômico mata”.

  4. A capacidade política de Lula vai além da vã compreensão imediatista do fazer política. Parabéns Lula pelo seu compromisso político e humanista. Nosso presidente querido que entrou na história da nação brasileira.

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