O golpe da notícia falsa – dormindo com o golpista

Ainda que tardio, é benfazejo o reconhecimento da Ombudsman da Folha de que ”há um golpe novo na praça. O golpe da notícia falsa”.

A Ombudsman cita casos de boatos surgidos nas redes sociais que, apesar da argumentação tosca, acabam sendo tomados por verdades.Alguns exemplos de boatos surgidos nos últimos dias: da convocação das Forças Armadas para defender o governo Temer à saída de Lula do país – pediria asilo político, pelo que a mim chegou.

Vivemos a era da “pós-verdade” já praguejaram.

Um exemplo clássico e duradouro que a Ombudsman não cita, mas que é simbólico disso: Lula seria o dono oculto da Friboi. E da ESALQ – a “Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz” da USP de Piracicaba – SP. Na internet, há farta documentação fotográfica sobre isso.

Na categoria dos “toscos”, poderia ainda incluir a “ficha falsa de Dilma” e a manchete de que Lula é o dono das piscinas do Palácio da Alvorada ou de que o Estádio do Corinthians é um presente que Lula ganhou da Odebrecht. Todas foram manchete da própria Folha.

Embora, como “feio, sujo e malvado”, nada supere o “power-point de bolinhas” do Ministério Público Federal.

A não-notícia e o argumento falacioso.

O golpe, no entanto, é mais sofisticado do que a Ombudsman relata.

Há pelo menos mais dois poderosos, e pouco perceptíveis, meios de manipular a informação: os argumentos falaciosos e sua aparente coerência e a “não notícias”.

Esses são realmente perigosos.

Tente saber, lendo a Folha, quantas escolas estão ocupadas por estudantes que protestam contra o governo Temer. Busque notícias sobre quem seriam os proprietários da “Paraty House” – a mansão a beira mar construída em área de proteção ambiental permanente com envolvimento da lavanderia Mossak-Fonseca. Procure saber pela Folha que fim foi dado à meia tonelada de cocaína apreendida no helicóptero de um senador.

Não notícias.

A quantas anda o escândalo do CARF – Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, do Ministério da Fazenda? A operação da Polícia Federal chamava-se Zelotes e envolvia com sonegação de impostos alguns dos maiores empresários brasileiros, algo em torno de 19 bilhões de reais. Hoje, investiga o Lula.

Já, na categoria do argumento falacioso, como não lembrarmos das reportagens da Folha que consideravam como “desempregados” as donas de casa, os estudantes e os aposentados que nos governos do PT não precisavam trabalhar para complementar a renda familiar?

Era esse argumento que a Folha utilizava para “provar” que o índice de desemprego era maior do que o divulgado pelo governo. A Folha somava 2 + 2 e concluía tratar-se de 22.

E a pesquisa Datafolha apontando que 50% dos brasileiros apoiavam o governo Temer? Uma pergunta capciosa e um cálculo criativo aproveitando “informações espontâneas” obtidas durante a “pesquisa” fizeram sumir os 62% dos brasileiros que desejavam novas eleições.

Dormindo com o golpista

Como se vê, o golpe da falsa notícia é bastante antigo no Brasil e muito mais sofisticado e próximo de si do que supõem a Ombudsman. Que, aliás, comete uma imprudência ao final de seu artigo:

“Como recomendou editorial do “NYT”, a cura para o falso jornalismo é uma dose esmagadora de bom jornalismo. Para tal, os consumidores de notícias precisam estar mais dispostos à cura do que à enfermidade”. 

O que sugere a Ombudsman, que eu cancele minha assinatura da Folha?

 

PS: a Oficina de Concertos Gerais e Poesia informa à sua clientela que, devido à grande procura, não possui mais lanternas de Diógenes para pronta entrega. Aceita encomendas, sujeitas à espera de reposição do estoque.

Redação

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