O golpe de 2016: uma nova Confederação do Equador

A cada dia que passa duas coisas ficam mais evidentes: 54 milhões de eleitores brasileiros foram vítimas da imensa conspiração organizada para depor Dilma Rousseff; o envolvimento do governo dos EUA é auto-evidente. Desde a derrota eleitoral de Aécio Neves a CF/88 foi sendo lentamente rasgada por políticos corruptos, pastores evangélicos, empresas de comunicação que odeiam a soberania popular, empresários que desejam rasgar a CLT e juízes sequiosos de aumento salarial e de mais poder, prestígio e privilégios. O beneficiário do golpe, Michel Temer, agiu como espião da Embaixada dos EUA, o que comprova o envolvimento daquele país na conspiração.

Alguns analistas comparam o golpe de 2016 ao de 1964. Ambos foram patrocinados pelos EUA, mas há uma diferença importante entre os dois episódios. A conspiração que levou Michel Temer ao poder usou apenas violência simbólica. O novo regime ainda não está consolidado, mas já ganhou uma aparência de legalidade que foi conferida ao Impedimento pelo STF. A violência militar caracterizou o golpe de 1964. A brutalidade e o nacionalismo dos militares caracterizaram de tal forma o regime que eles criaram que em pouco tempo a Ditadura despertou a desconfiança e, depois, a oposição aberta dos norte-americanos.

Outros comparam o que está ocorrendo no Brasil ao que ocorreu na Ucrania. A comparação me parece abusiva. Ao contrário do que ocorre em nosso país, a Ucrania já era profundamente mercada por divisões étnicas, culturais e linguísticas. Numa parte do país os russos predominavam, na outra eram minoria. Isto facilitou a fragmentação do país. A violência militar sepultou qualquer possibilidade de reunificação. O interesse dos EUA na questão ucraniana parece não ter sido exclusivamente econômico (a Ucrânia compra petróleo e gás da Rússia).

Também estão equivocados aqueles que comparam o golpe de 2016 à Primavera Árabe. Todos os governos que foram depostos no Norte da África e no Oriente Médio com ajuda dos EUA eram tirânicos. O Brasil vivia sob uma democracia estável e o nosso regime político não tinha nenhuma semelhança com o de Muamar Kadafi na Líbia ou o de Ali Abdullah Saleh no Iemem.

No caso do Brasil, o interesse econômico norte-americano é evidente: os EUA querem sugar o petróleo brasileiro com maior facilidade e menor custo, impedindo – tanto quanto for possível – que a China tenha acesso ao mesmo. José Serra já vinha tentando proporcionar isto antes do golpe de 2016. Depois do mesmo o asqueroso representante dos EUA no Senado Brasileiro se transformou no garçom dos EUA no Ministério das Relações Exteriores. Nesse sentido, o golpe guarda alguma semelhança com outro episódio da história do Brasil.

Refiro-me à Confederação do Equador https://pt.wikipedia.org/wiki/Confedera%C3%A7%C3%A3o_do_Equador. Episódio sangrento da história brasileira, a conspiração separatista de 1824-1831 foi apoiada pelos EUA e resultou na prisão e execução de um norte-americano no Rio de Janeiro. Duas décadas depois, os EUA cogitaram roubar a Amazônia do Brasil http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/08/americanos-cogitaram-tomar-amazonia-no-seculo-xix-revela-livro.html.

No século XIX imensas massas de terra despovoadas ou pouco povoadas ainda despertavam a cupidez colonial da Inglaterra, da França e dos EUA. A 1a. Guerra Mundial colocou um fim à era dos impérios coloniais. Após a 2a. Guerra Mundial o planeta foi dividido em dois grandes blocos. Novas relações de submissão foram estabelecidas entre potências hegemônicas (EUA e URSS) e estados vassalos.

O colapso da URSS fortaleceu o ufanismo nos EUA e produziu três filhotes tenebrosos: a ideológica do Fim da História; o neoliberalismo que desmantelou o Estado de Bem Estar Social construído inclusive e principalmente para evitar novas revoluções comunistas no campo capitalista e; a crença numa hegemonia planetária norte-americana incontestável. O crescimento acelerado da China está restabelecendo, pelo menos no imaginário dos norte-americanos, a inevitabilidade de uma nova divisão entre dois polos dominantes. O fiel da nova balança é a Rússia, país que recuperou a saúde econômica e o poder militar após 15 anos de marasmo.

Apesar da crise, as possibilidades do Brasil eram boas. A descoberta do Pré-Sal e sua exploração em benefício dos brasileiros poderiam finalmente colocar nosso país no primeiro mundo.  A construção dos BRICS ajudaria a cimentar o novo  prestígio do nosso país, transformando-o finamente num Estado soberano capaz de amortecer e, eventualmente, mediar os conflitos entre EUA e China. O golpe de 2016 interrompeu o sonho e já começou a reverter o Brasil à condição de Estado vassalo dos EUA. Sob o comando de Michel Temer e José Serra nosso país concederá aos norte-americanos o privilégio de explorar o “nosso petróleo” em benefício das  ambições imperiais dos EUA.

Há, portanto, semelhança entre o golpe de 2016 e a Confederação do Equador. A única diferença é que desta vez não é apenas uma porção territorial do Brasil que está se entregando aos EUA. Nosso país inteiro e tudo o que ele tem de mais valor será dado aos norte-americanos e, em breve, os brasileiros serão estrangeiros em seu próprio território. As Forças Armadas do Brasil serão inevitavelmente sucateadas e transformadas em tropa de ocupação a serviço do Império norte-americano, com a finalidade de reprimir a população local.  Nós perdemos nossa autonomia política em 2016, em breve perderemos nossa soberania, “nosso petróleo” e nosso território. É isto o que desejamos?

Fábio de Oliveira Ribeiro

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