O inferno de um ativista de esquerda na Guerra Fria é o tema de Philip Roth em Casei com um Comunista

 

 
original de: Mauricio Stycer

Na galeria de personagens trágicos do escritor americano Philip Roth, Ira Ringold, de Casei com um Comunista, é um dos tipos mais perturbadores. Criado num bairro de italianos pobres em Nova Jersey, é um garoto judeu revoltado contra tudo e todos. Abandona a família na adolescência, trabalha como estivador no Irã, carrega pedras numa mina de zinco e, aos poucos, vai adquirindo consciência de que é preciso fazer algo para diminuir a distância entre ricos e pobres nos Estados Unidos.

No final dos anos 40, Ira Ringold começa uma carreira como ator de rádio, em Nova York, onde interpreta peças panfletárias. Faz sucesso e casa-se com Eve Frame, uma atriz famosa nos tempos do cinema mudo, mas ainda ativa no teatro e no rádio. Ira é mais que um “liberal”, como os americanos chamam os ativistas de esquerda. É um radical. Para seu azar, os EUA estão vivendo a Guerra Fria, período em que a caça aos comunistas se tornou obsessão e milhares de vidas foram destroçadas por denúncias de colegas, vizinhos e até de amigos.

A história de Ira é contada por seu irmão mais velho, Murray, a Nathan Zuckerman, narrador e alter ego de Philip Roth em inúmeros livros. Professor de inglês, Murray foi o primeiro mentor de Zuckerman. Depois de cinco décadas, os dois se reencontram. As memórias de Murray sobre Ira emocionam; as lembranças de Zuckerman-Roth às vezes cansam. Para quem vai se aventurar, vale a pena saber que dois anos antes do lançamento de Casei com um Comunista, em 1996, a atriz Claire Bloom, ex-mulher de Roth, havia publicado um livro (Leaving a Doll’s House, ou “Deixando a casa das bonecas”) em que expunha detalhes de sua relação com o escritor. Em Casei com um Comunista há traços de Claire em Eve Frame – o que não chega a ser surpreendente num romance em que os temas centrais são traição e vingança.

Redação

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