“O isolamento está sendo efetivo”, diz Marcus Suassuna [TV GGN]

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Brasil derrubou taxa de crescimento médio diário de 38% para 18%. Sem a mudança de hábitos, chegaríamos a 160.000 casos de COVID-19 no começo de abril

Jornal GGN – Marcus Suassuna, o entrevistado da TV GGN, é autor de um levantamento interessante. Ele aponta que as medidas de mitigação decretadas por governos e prefeituras para achatar a curva da epidemia de coronavírus no Brasil estão sendo efetivas.

Para afirmar isso, ele passou a investigar se o Brasil estava obedecendo ao crescimento exponencial da epidemia de coronavírus expressa em outras partes do mundo, ou se aqui existia um ritmo diferente.

Na pesquisa, ele utilizou os dados consolidados a partir de fevereiro pelas secretarias estaduais de saúde, divulgados no site Worldometer.

Marcus percebeu que nos primeiros 25 dias de propagação do vírus, a taxa média de crescimento diário era de 38%, maior do que nos Estados Unidos – que hoje amargam 190 mil casos positivos e 1,4 mil mortes por COVID-19. Quando os norte-americanos estavam com cerca de 6 mil casos, a taxa de crescimento diária naquele País era de 33%.

A partir de março, com os brasileiros começando a desacelerar em função das recomendações sanitárias da Organização Mundial da Saúde, do Ministério e das secretarias estaduais e municipais de Saúde, o cenário começou a mudar.

“Tem dois momentos bem claros. Nesses primeiros 24 dias foi o momento de expansão livre da epidemia. A partir do 24º dia, mais precisamente no dia 1º de março, houve uma mudança nessa série. A taxa média de mais ou menos 38% ao dia – que é uma taxa muito alta, porque o pessoal usa a taxa de 33% ao dia para falar em crescimento exponencial – essa taxa caiu bruscamente para 18%. Depois desse período, a média foi para 14%. Quando acontece algo assim é porque houve uma interferência externa. E o que mudou basicamente foi a entrada do isolamento proposto por governadores e prefeitos”, avaliou.

Considerando os novos casos de coronavírus divulgados em 31 de março, a média diária no Brasil voltou ao patamar dos 18%. Pelas projeções de Marcus, se o País tivesse mantido a taxa anterior de crescimento, de 38% ao dia, até o final da primeira semana de abril, haveria algo em torno de 160.000 casos de COVID-19 confirmados. No cenário atual, de 18% de crescimento ao dia, a projeção é de que cheguemos aos 12.000 ou 13.000 casos na primeira semana de abril.

“Os cenários que estamos projetando não estão fora da realidade. Comparando com os EUA: por volta dos dia 20 as curvas dos dois países eram praticamente iguais. Quando chega no dia 28, 29, você vê que a curva do Brasil se descola dos EUA [veja no gráfico abaixo]. A gente teve uns 10 dias antecipação em relação aos EUA. Esses 10 dias de antecedência podem fazer uma diferença enorme para a gente. São 10 dias em que os governadores foram enfáticos em tentar controlar a epidemia.”

“Essa é a notícia boa. O isolamento está sendo efetivo”, afirmou.

Nesta quarta (1/4/2020), dia em que Marcus Suassuna conversa com a jornalista Cintia Alves para a TV GGN, o Brasil acordou com 5,8 mil casos de coronavírus, de acordo com a base de dados do site Worldometer. “Não foge muito da projeção”, diz o engenheiro. Pela estimativa dele, se estivéssemos sob a taxa de 38%, o Brasil deveria ter chegado aos 17.600 casos em 30 de março.

Abaixo, o gráfico mostra um paralelo entre a taxa de crescimento médio do coronavírus nos Estados Unidos e no Brasil, evidenciando a mudança no desempenho dos dois países nos últimos 9 dias do mês de março.

 

BOOM EM SÃO PAULO 

Durante a entrevista, Marcus chama atenção para um boom de casos que houve no dia 31 de março em São Paulo.

Para o entrevistado, 3 hipóteses explicam a situação de São Paulo, que dobrou o número de casos confirmados em um único dia: (1) houve um aumento na divulgação dos resultados dos exames de COVID-19 que estavam prontos e ficaram represados por alguns dias, por causa da demora nos laboratórios; (2) com o aumento dos exames, reduziu-se a subnotificação ou (3) houve um crescimento no ritmo da epidemia.

“É preciso acompanhar o que acontece nos próximos dias para ver se São Paulo mantém esse ritmo de crescimento acelerado ou se volta ao padrão de antes.” O Estado hoje representa 40% dos casos de COVID-19 no País. “Ele tem um impacto significativa para os indicadores da epidemia no Brasil.”

Marcus Suassuna Santos é engenheiro civil, mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG e doutor em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos pela UnB.

Assista à entrevista:

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Não contestando os dados, mas será que foi levado em consideração que aqui os testes realizados são em número muito pequeno, enquanto nos Estados Unidos e outros países, a partir de um certo ponto, passaram a ser realizados em larga escala ? Há uma estimativa do número de testes realizados em cada país, e da população total, para que sejam feitas estatísticas com a mesma base ? Porque onde se testa mais, se chegam a mais confirmações. Muitos casos não são notificados, por não testados. Se o número de testes é pequeno, o número de confirmações também será. Reportagem no UOL hoje diz que cerca de 30 pessoas por dia são enterradas em São Paulo, provavelmente em razão do Covid, mas cuja causa da morte não pode ser atribuída ao vírus, por não ter sido feitos testes ou os resultados ainda não terem sido apresentados, e tais números não entram nas estatísticas da pandemia.

  2. Gente do céu…

    Esse estudo é cientificamente nulo, porque o dado na planilha vem do teste no mundo real. Para comparar os dados entre países, se teria que estabelecer uma taxa de testagem. Qual proporção da população é testada? Quais são os protocolos de teste? O dado da planilha deriva disso. Se um país testa 80% da população e outro testa 0,1%, é óbvio que os dados não são comparáveis.

    Pro país não ter nenhum caso, basta não testar ninguém. Se testa pouco, como é o caso do Brasil, tem poucos casos. Se testa muito, tem muitos casos. Ou seja, analisar a curva com dados consolidados sem questionar a realidade que dá origem a esses dados é pura besteira estatística.

    Insisto nisso porque no Brasil botaram muita ênfase no isolamento, mas praticamente nenhuma nos testes. E isolamento sem testes não significa nada, porque sem os testes NÓS NÃO SABEMOS O QUE ESTÁ ACONTECENDO!

    Quem pretende dizer o que está acontecendo, está se enganando e enganando aos demais. Não é opinião, é bê-a-bá estatístico. As pessoas estão querendo fazer estudos com base em dados de péssima qualidade. Para melhorar a qualidade dos dados, temos que multiplicar em muitas e muitas vezes a quantidade de testes!

    Conclusão: temos que testar! Só o isolamento não resolve nada!

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