O jovem procurador e a velha hipocrisia

O procurador paranaense juvenil, um dos líderes da turma dos lava-jatos, ficou inconformado com a decisão do Supremo Tribunal Federal de fazer cumprir a lei, ou seja, deixar que José Dirceu aguarde, em liberdade, seu julgamento em segunda instância, como milhares de outros cidadãos brasileiros.

E escreveu, em sua página do Facebook, um longo texto, mezzo leviano (“A mudança do cenário, dos morros para gabinetes requintados, não muda a realidade sangrenta da corrupção. Gostaria de poder entender o tratamento diferenciado que recebeu José Dirceu…), mezzo arrogante e delirante (“Isso porque sua liberdade representa um risco real à sociedade. A prisão é um remédio amargo, mas necessário, para proteger a sociedade contra o risco de recidiva, ou mesmo avanço, da perigosa doença exposta pela Lava Jato”), mas sobretudo hipócrita, como explicitou nesse trecho:

“Diz-se que o tráfico de drogas gera mortes indiretas. Ora, a corrupção também. A grande corrupção e o tráfico matam igualmente. Enquanto o tráfico se associa à violência barulhenta, a corrupção mata pela falta de remédios, por buracos em estradas e pela pobreza.”

É compreensível que o jovem  procurador tenha esse entendimento dos males que causa a corrupção, e o seu exemplo, associando a prática ao tráfico de drogas, é bastante didático para os mais desinformados.

Pena que o autor do elucidativo exemplo, e do texto que repudia a libertação de alguém que, claramente, estava preso arbitrariamente, não seja a pessoa mais indicada para dar aulas de ética, moral e bons costumes.

Afinal, não foi o jovem procurador quem comprou dois imóveis subsidiados pelo programa Minha Casa, Minha Vida, não para fazer deles sua morada, mas para revendê-los com lucro, numa operação que, se não é ilegal, é moralmente condenável?  

Não teria o rapaz suposto que, ao adquirir os dois apartamentos, como forma de investimento, estaria prejudicando duas famílias que poderiam comprá-los por um preço mais acessível?

Certamente ele não fez as contas de quanto em remédios e alimentos, por exemplo, ele privou essas famílias por causa do bom negócio que concretizou. 

E o que falar de seu parceiro na cruzada anticorrupção, o juiz-celebridade, de sentenças implacáveis contra os réus de um determinado partido político, beneficiário dos indecentes supersalários dos servidores da Justiça?

É aquela velha história que o procurador juvenil deve conhecer muito bem, já que ele é um cristão fervoroso e provavelmente leitor incansável do livro sagrado de sua religião: aquele que não tiver pecado, que atire a primeira pedra.

E não queira dar lições de moral.

Redação

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