O juiz que saltou do trem da alegria, por Bernardo Mello Franco

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – O juiz Celso Fernando Karsburg não é benquisto entre seus pares. E isso por ter, há três anos, se recusado a participar do trem da alegria do auxílio-moradia. Ele afirmou que o penduricalho era ‘imoral, indecente e antiético’. E não aceitou por ter casa própria na cidade onde trabalha. A abordagem é de Bernardo Mello Franco, em O Globo, sobre o tema e seus personagens.
 
Bernardo faz um apanhado da vida do juiz Celso Karsburg e a contrapartida, isto é, as defesas feitas pelos beneficiários do penduricalho. 
 
Leia o artigo a seguir.

 
em O Globo
 
O juiz que saltou do trem da alegria
 
por Bernardo Mello Franco
 
Há três anos, o juiz Celso Fernando Karsburg enfrenta olhares de reprovação dos colegas. Quando o ministro Luiz Fux estendeu o auxílio-moradia a todos os magistrados do país, ele se recusou a embarcar no trem da alegria. Abriu mão do pagamento de R$ 4.300 mensais e escreveu que o penduricalho era “imoral, indecente e antiético”.
 
“Virei a Geni. Fui execrado e até xingado por colegas”, conta o titular da 1ª Vara do Trabalho de Santa Cruz do Sul (RS). Ele não se arrepende. Diz que não poderia aceitar o benefício, já que tem uma casa própria na cidade em que trabalha.
 
“Foi uma questão de consciência. O auxílio não está previsto na Constituição e foi transformado num legítimo fura-teto. Se isso não é desvio de finalidade, não sei o que mais poderia ser”, critica.
 
Nas últimas semanas, dirigentes de associações de magistrados foram ao Supremo para defender a manutenção do privilégio. A marcha dos com-teto envergonhou o doutor Karsburg.
 
Ele se constrangeu ainda mais ao ouvir as declarações a favor da regalia. Na semana passada, o juiz Sergio Moro afirmou que o auxílio é “discutível”, mas “compensa a falta de reajuste dos vencimentos”.
 
O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Manoel Calças, dispensou os eufemismos. Admitiu que o benefício virou “salário indireto” e disse que o valor ainda é “muito pouco”. “Eu recebo e tenho vários imóveis, não só um”, acrescentou.
 
“O que mais constrange é ver juízes e desembargadores admitindo que o auxílio virou complementação de renda”, diz Karsburg. Ele lembra que os colegas embolsam o benefício sem descontar Imposto de Renda e contribuição ao INSS.
 
O juiz considera que as entidades de classe erram ao abraçar a bandeira do auxílio para todos. “Estão menosprezando o bom senso ao olhar só para o próprio umbigo”, afirma. “Isso ainda gera uma injustiça com os milhares de juízes aposentados, que não recebem o auxílio e estão sem aumento nos subsídios”.
 
Dos quase 300 juízes do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, só 12 abriram mão do benefício. A situação se repete em Cortes espalhadas por todo o país. “A maioria dos colegas optou pelo silêncio. É cômodo não dizer nada e continuar recebendo”, critica Karsburg.
 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

14 Comentários

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  1. Honestidade punida…pelos próprios colegas

    É muito ruim a sensação de que o crime compensa e que o honesto é punido, como por exemplo, ser discriminado pelos seus colegas considerados mais calejados ou espertos. Ao querer falar a verdade (ou não mentir) na operação Lavajato, o delator honesto é punido, com mais anos de cadeia. O ambiente o obriga a mentir e, pior ainda, é premiado por isso. Da mesma forma, a associação de juízes promove um autobenefício e, nesse ambiente corporativo, qualquer Juiz que se manifeste em contrário será discriminado pelos os seus colegas. O Juiz honesto terá então mais medo de ir contra os seus colegas que da reação popular, assim como ocorreu com o TRF4, onde se limitaram a defender Moro mais do que acusar Lula.

  2. O ministro do mata no peito

    O ministro do mata no peito concedeu liminar  estendendo o auxílio moradia aos togados e congêneres quando? Ontem?

    Não! Faz quase quatro anos! E só agora parece que isso virou problema? Onde estava a mídia golpista quando isto ocorreu?

    Ah,sim!Nesta época toda a mídia estava muito ocupada querendo, primeiro derrotar a presidenta Dilma nas eleições e,depois,como não conseguiram seu intento,derrubá-la!

    Este custo absurdo e abusivo é só mais um,entre tantos,que deve ser atribuído ao golpe.

    É hora da revolução!

    1. Prezado Wladimir
      Bom

      Prezado Wladimir

      Bom dia 

      Peduricalhos é mais uma distração para enganar a patuleia e esconder as tramoias e bandalheiras do tucanistão!!!

      Afinal 2018 tem eleições e algumas pautas “progressistas” podem ser esta!!!

      Abração

  3. Mais uma “reportagem”

    Mais uma “reportagem” levantando a bola para cortada.

    De repente, não mais que de repente, não é que toda imprensa descobriu que existe uma coisa chamada Auxilio-Moradia e isso, com a não reforma da previdência vai quebrar o país?

    Com um Congresso com a qualidade do que temos é mamão com açucar.

    Levantam a bola e todas as siglas que representam o corporativismo do judiciário, empurrarão, digo, conseguirão com que a crasse (não se deve usar a designação adequada por motivos óbvios) tenha seus salários aumentados para R$73.328,77 MAS, sem o auxilio-moradia.

    Os outros penduricalhos, digo, auxílios continuarão até a próxima falta de assunto, falta de programa de governo, e a imprensa da classe terá editoriais de saneamento das imoralidades para mais um século.

    E, claro, sempre em ano eleitoral.

     

  4. Precisamos de uma queda da Bastilha no stf!

    Qual o sentido dessa fala desse juiz que ratificou (pela omissão e pela comissão) a condenação de réus pela literatura (ação 470) e sem provas, distorcendo a tal da teoria do domínio do fato?

    Algo como Hitler escrevendo sobre a necessidade de um estado judeu, logo depois decontar os que sobraram do forno…ficaria, de fato, mais fácil para arrumar espaço na Palestina, não?

    Então, o princípio da presunção da inocência não existe e “leva” sabe disso, ele sabe que a CRFB fala de ninguém será considerado CULPADO antesdo fim, ou seja, afastada a presunção de inocência com a inauguração do processo judicial, ao Estado caberá PROVAR a culpa que ele presumia quando o Parquet ofereceu a denúncia e o juiz (lato senso, o Estado-juiz) a aceitou…

    Como falar em presunção de inocência com ordenamento jurídico que prevê prisão cautelar no Inquérito (temporária) e no processo (preventiva) e agora, modernamente, com o stf ratificando atos de selvageria como divulgação de escutas e conduções coercitivas?

    Por onde quer que se olhe, política ou “juridicamente”, o texto é uma merda, tanto pelo teor, tanto pela incoerência entre quem fala e o que falou …

    Mas essa confusão, comum no meio jurídico, não foi cometida por esse juiz por acidente, é uma isca para atrair os incautos e para assanhar os penalistas, que dirão que a presunção de inocência não pode estar a serviço do crime… 

    Viu como se mata um princípio que diz querer defender, chamando-o pelo nome errado?

  5. Os juízes não entenderam a lógica do golpe!

    Parece claro, o público, certo ou errado, no caso dos fura tetos tremendamente errados tem que se ajoelhar ao CAPITAL.

    O que se quer com o golpe é a ausência do Estado e de preferência regimes medievais como o do DAESH.

    Primeiro o legislativo, após o executivo, em seguimento o judiciário e em penúltimo lugar as Forças Armadas, o gran-finale será a destruição econômica de todas as empresas jornalísticas, mesmo as de direito só deixando UMA.

    Este é o real plano do golpe a aniquilação do Estado e a divisão do Brasil em pequenas regiões comandadas por milícias.

  6. Ir contra a maioria é sempre dificil. Nos sabemos disso

    Como disse o ex-procurador e atual Secretario de Educação [!] de São Paulo de que tem juiz deprimido porque não pode comprar terno em Miami fiquei com doh. Vamos instituir o auxilio mil e uma utilidades para os magistrados que pensam que ganham pouco no Pais do Real.

  7. bom post

    Algo está muito errado quando somente 12 juizes em 300 não aceitaram o vergonhoso auxilio moradia.

    Como confiar num judiciário destes? 

    Isso é coisa não de terceiro mundo mas de quinto mundo!

    E ainda arrotam latinório aos montes.

    Vade retro satanás! 

  8. O juiz Celso Fernando
    O juiz Celso Fernando Karsburg não é benquisto entre seus pares, porque ele é um homen honrado e de consciência com entendimento da sua função e como exemplo de uma pessoa de respeito na sociedade. Os seus pares são claramente canalhas e ladrões comuns. Eles são imorais, indecentes e antiéticos. O juiz Karsburg é um exemplo raro de jurista que deveria estar servindo no Supremo Tribunal Brasileiro.

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