O mimetismo dos diários da região
Luciano Alvarenga
As ameaças sofridas pelo jornalista Rodrigo Lima, do Diário da Região, pelo vereador da Câmara de Rio Preto César Gelsi (PSDB) é o estopim para uma discussão que precisa amadurecer na cidade; o papel da Imprensa na cobertura da política local.
A credibilidade e aceitação dos políticos esta no nível mais baixo desde que se tem notícia sobre a medição dos ânimos da população em relação à classe política. Numa sociedade em que os problemas são crescentes e a certeza sobre a vida é cada vez menor, os políticos são vistos como privilegiados e acima do bem do mal.
Doutro lado, acoimados pelo desenvolvimento técnico das comunicações e a pulverização dos centros formadores de opinião numa miríade de arquipélagos na internet, os grandes e médios jornais impressos veem seu poder junto à sociedade diminuir rapidamente. Perdendo antigos leitores que migram para a rede e não conseguindo cativar os novos, o resultado é o sumiço dos anunciantes e o desaparecimento dos assinantes.
Pelo menos na última década tais transformações significaram não apenas a diminuição na força de antigos e tradicionais jornais, mas fundamentalmente o enfraquecimento do poder de pressão das poucas famílias donas da quase totalidade das mídias no Brasil. O que se viu a partir disso foi o desenvolvimento de um jornalismo rançoso, perseguidor, de destruição de reputações, e que visava mudar o rumo das coisas via mudança daqueles que estavam no poder. A Veja foi o padrão de jornalismo baixo, desonesto e partidário que uma infinidade de jornais menores e de menor expressão, ainda que importantes no contexto local, passaram a seguir. A corrosão da imprensa se deu na mesma velocidade em que ela partidarizou a cobertura jornalística. Partidarizada, a imprensa passou a morrer do mesmo mal que ela acusava na classe política.
O resultado foi o desenvolvimento diário de um jornalismo país afora que pouco estava interessado nos fatos, na notícia, mas sim, no que é possível fazer com os fatos. Nascia o jornalismo de escândalo, preferencialmente sobre a classe política eleita como o alvo a ser abatido. Tentando recuperar as vendagens, obrigados que tinham sido aos cortes de custos, dado o aumento exponencial da concorrência com a internet, assistimos nesta última década importantes jornais do interior praticando aqui o mesmo padrão de jornalismo precário, de escandalização de tudo, de destruição de reputações que se via e se fazia em larga escala pelos grandes jornalões nacionais com a revista Veja à frente.
Se os jornalões tinham razões políticas, além das econômicas, para a mudança de postura na cobertura jornalística nacional, os jornais do interior mudaram sem razão nenhuma senão por mimetismo. O fato é que os jornalões não lograram sucesso na mudança, não aumentaram suas vendas, senão pontualmente e de forma esporádica, e, os jornais locais além de continuarem perdendo leitores e importância, perderam com muito mais rapidez, credibilidade.
É claro que nada justifica a ameaça de morte feita ao jornalista Rodrigo Lima pelo vereador César Gelsi e, evidentemente, isso não pode ser aceito, mas é claro também que, provavelmente, esse absurdo é um desdobramento esperado de um tipo de subjornalismo praticado nestes últimos e fatídicos anos que vem agora cobrar seu preço.
Se a classe política é um alvo fácil para um jornalismo tradicional carente de manchetes que aumentem as vendas, o fato é que a má qualidade dos políticos se reflete agora na baixa qualidade dos jornais e da noticia que eles vendem.
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