O não desenvolvimento de partidos baseados em redes sociais, a rede e outras experiências.

Por que a Rede como partido ou como proposta política não se desenvolve? Da mesma forma pode-se pensando em outros grandes movimentos de mobilização de massa que procuraram a mobilização de longo parzo através das redes sociais, como Occupy Wall Street, o Syriza e o Podemos não evoluíram? Pois o mais difícil de tudo é definir como funciona não só a Rede mas como a rede, pois simplesmente ela segue a mesma lógica dos diversos movimentos “digitais” que na sua maioria não apresentam nenhuma consistência de ação e são mais uma série de palavras de ordem desbaratadas entre si sem elos fortes de ligação entre elas.

A Rede é mais um dos famosos partidos ou movimentos virtuais que são criados via redes sociais e conseguem um crescimento espantoso e rápido, enquanto a participação depende mais de um grande número de cliques (likes) do que de uma participação a presença efetiva das pessoas. Após este grande número de participantes ou amigos, que também são amigos e adeptos de grupos sobre cãezinhos ou de culinária nativa, a efetividade do engajamento decai só restando nos núcleos somente os iniciados mais antigos ou os adeptos mais fanáticos, pois num momento posterior este momento os movimentos ou partidos começam a reduzir o seu número de simpatizantes entrando num processo de estagnação ou decadência e muitas vezes de extinção.

Muitas explicações são dadas por esta característica efêmera de grupos políticos que se originam de grandes comunidades digitais, todas as explicações procuram razões ideológicas para a falência da estrutura, entretanto poucos procuram raciocinar em termos das deficiências dos próprios meios de comunicação na manutenção e crescimento dos mesmos, explicações estas que talvez se ache em velhas teorias do passado.

Podemos lançar mão de teorias do velho, já falecido e agora pouco conhecido Marchall Macluran, que introduziu alguns conceitos clássicos que permanecem até hoje> conceitos como a expressão “os meios são as mensagens” e as definições de “meios frios e quentes”. Estes conceitos foram criados no boom da chamada teoria da comunicação de massa e lá pela década de 90 foram meio deixado somente para especialistas da área.

Talvez as pessoas por minimizarem seus conceitos por procurem colocar a rede universal de computadores num único e grande meio (particularmente as chamadas redes sociais), não entendam do porquê da rapidez da vida e morte de dados movimentos políticos baseados em redes digitais.

Macluran propôs que os próprio meio induz a mudança da percepção do realidade pelo homem, porém esta relação entre mídia e homem não podem simplesmente serem tomadas de forma linear, mecânica e válida para qualquer situação, pois algo que influência na definição da ação do meio digital sobre o homem não é meramente a mídia física, mas sim o aplicativo que roda sobre este meio.

Este autor canadense também postulou que existem os chamados “meios quentes e meios frios”, uma bela discussão sobre a diferenciação dos meios quentes e meios frios na TV e no cinema é feita por Wilson Ferreira em “Meios “Quentes” e Meios “Frios” – paradoxos das produções midiáticas”.

Tomando a própria definição de Marshall McLuhan no seu livro “Os meios de comunicação: como extensões do homem” tem-se: “Um meio quente é aquele que prolonga um único dos nossos sentidos e em “alta definição”. Alta definição se refere a um estado de alta saturação de dados.

Ele dá por exemplo de meios quentes a fotografia, enquanto caricaturas e um desenho animado são de “baixa definição”.

Por outro lado o conceito que mais nos interessa é da diferença entre necessidade da atenção de quem está seguindo estes meios para preencher as lacunas por eles nos são apresentadas, ou seja, um meio frio por possuir baixa definição ou fraca eficiência representativa não exigem grande atenção do receptor. Também nos interessa o que foi colocado no artigo do Wilson o paradoxo entre meios quentes e frios que é denominado o paradoxo da fascinação que é resolvido, conforme o autor por:

O paradoxo poderia ser explicado a partir deste princípio das mídias: a identificação do receptor com um veículo de comunicação varia na relação inversa da sua eficiência representativa. Ou seja, quanto mais frio for o veículo maior a participação do imaginário (envolvimento emocional e prazer) e, no oposto, quanto mais quente tendencialmente temos um menor envolvimento emocional.”

Agora voltando ao nosso caso, a utilização dos mídias sociais para a política, tem que ser levado em conta a forma das mesmas, que num mesmo aparelho eletrônico podem ser completamente diferenciadas.

A maior parte da comunicação de massa dos partidos e dos políticos poderão ser feitas por quatro fórmulas distintas, os blogs, os vlogs, as mídias de mensagens curtas tipo twiter e por fim a  mais famosa formade comunicação o Facebook.

O meio tipo “Twiter” é mais um meio de comunicação de opiniões curtas que servem somente para atualizar os “seguidores” da opinião do proprietário e através das respostas fazer objeções a estas, que só terão validade se forem feitas em massa na mesma direção em sentido contrário a opinião do seguido. Servem somente como um mecanismo de retorno a uma opinião, seria o equivalente a vaia numa apresentação musical. A inclusão no mesmo de imagens dinâmicas, pequenos vídeos, poderiam no limite transformar a influência do meio mais aplicativo no receptor, mas como isto é pouco usual poderemos despreza-la na análise.

Já no Facebook, que devido a sua estrutura, além de ter mais condições de transformar-se num meio mais quente, a maior parte de informação é fragmentada e não necessita uma imersão como num meio mais quente. Porém como limitação para um meio de transmissão de uma mensagem mais fechada e mais longa se o gerenciador da rede pode suprimir e não garantir uma análise da história da opinião.

Já os blogs e comunidades virtuais é possível um diálogo mais concreto entre quem a gerencia e quem opina, porém, esta interação também pode sofrer mecanismos de bloqueio pelo titular.

Os Vlogs que conforme a edição e dinâmica dos mesmos, pode se transformar num perfeito meio quente, que envolve o receptor e mas não cria o envolvimento emocional e prazer dos meios mais frios. A comunicação entre o receptor e o proprietário é feita de forma assimétrica, pois enquanto um possui a palavra e a imagem o outro que poderia critica-lo tem somente a palavras escritas.

Conforme se vê, todas estas redes de comunicação são em última instância assimétricas e não tem característica de permitir um debate político de proposições. Visto isto se pode simplesmente dizer que redes sociais são semelhantes ao domínio de máquinas partidárias sobre a opinião da maioria, e se esta máquina partidária adota a omissão como uma forma de impor uma plataforma minimalista, esconde-se os pontos obscuros e não se desenvolve novidades através do funcionamento em rede.

Chama-se a atenção que o mecanismo de transmissão mais doutrinária do que qualquer coisa, mais utilizado principalmente por representantes de uma direita obscurantista é exatamente os vlogs, pois devido a imersão que muitas vezes pode estar submetido o receptor, a capacidade de crítica é reduzida.

Poderíamos dizer que as redes sociais, da forma que estão estruturadas, não permitem a um desenvolvimento de um novo caminho como não criam laços mais sólidos, servindo somente para FORTALECER e RADICALIZAR o discurso da forma que o proprietário deseja com receptores que estejam dispostos a isto.

Em resumo, atrás de uma aparente democracia de massas as redes servem somente para a propaganda de ideologias preconizadas pelo proprietário, ou mesmo pela radicalização desta ideologia, algo que contrariaria algumas das teorias do próprio McLuhan, mas isto é outra discussão.

Devido a estas observações se vê claramente o porquê da limitação destas como um instrumento de desenvolvimento de qualquer nova proposta política que não seja de seus proprietários e administradores, e se estes exitarem de ir adiante, rapidamente verão esvaziadas suas comunidades.

As redes por si só não têm capacidade de mobilização, pois o receptor é treinado mais para ser um recebedor de informações do que alguém que participa na sua criação e desenvolvimento. Para que ocorra uma mobilização é necessário um apoio de outros meios de comunicação de massa ou que assumam grupos políticos organizados por meios convencionais e utilizem os meios digitais como mero meio de convite a mobilização.

Os eventos de 2013 no Brasil são um exemplo típico do comentado, um grupo assume a vanguarda de uma mobilização para dada reinvindicação, outros grupos organizados com apoio da mídia convencional assumem o movimento e enquanto este não se esgota por si mesmo segue as mobilizações sem o surgimento de nenhuma proposta fora das pré-programadas.

Pergunta-se muito nos dias atuais sobre o motivo de não haver manifestações contra o governo Temer apesar da imensa impopularidade do mesmo. Podemos interpretar a ausência devido à falta de um agente aglutinador fora das próprias redes sociais.

A discussão pode ir longe e sofrer reparos na suas conclusões, mas pelo menos é uma tentativa de explicar a falta de mobilidade real que pode criar a Internet sem que haja a priori um impulso criado por outras vias.

Redação

2 Comentários

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    1. Observe com cuidado, foi um erro não generalizado, porém….

      Observe com cuidado, foi um erro não generalizado, porém o própio McLuhan não acharia muito errado adotar uma grafia se aproximando da fonética.

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