Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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O novo Brasil, por Izaías Almada

Imagem Wikimedia

O novo Brasil

por Izaías Almada

Imagine o caro leitor a seguinte e hipotética cena, nada impossível, aliás.

No Palácio da Alvorada, o presidente golpista Mishell Temer com aquele seu sorriso de cirurgia plástica mal feita abraça o respeitável sonegador Neymarketing, o loiro, pela conquista do hexa campeonato mundial de futebol.

Como diria meu velho e saudoso pai, seria o encontro da fome com a vontade de comer ou, em outras palavras, a consagração da mediocridade nacional, cujo patriotismo explode com a vitória numa competição esportiva cada vez mais desmoralizada pela corrupção. Aquela mesma, que – dizem muitos ingênuos – está sendo combatida aqui no país por uma Operação Lava Chato, desculpem, Lava Jato. Ou seria Lava a Jato?

A três semanas do final da copa do mundo e sob a batuta de uma emissora de televisão, milhões de brasileiros, entre eles 14 milhões de desempregados e outros tantos milhões de subempregados, esquecem as agruras do seu dia a dia e gritam: Brazil, zil, zil!…

Futebol não se mistura com política, não é mesmo? Aliás, futebol, política e religião não se discutem. Enfim, quando a porca torce o rabo valemo-nos desses lugares comuns que não significam absolutamente nada, mas que nos protegem da falta de opinião a respeito de alguma coisa que não entendemos ou não conseguimos apreender.

O melhor do capitalismo é ser capitalista, já disse alguém. Com dinheiro tudo se compra. Quanto será que custou o golpe contra a presidente Dilma Rousseff em 2016? E a campanha contra o ex-presidente Lula até levá-lo à prisão?

Quem pode responder é o homem das mil caras (ou cara nenhuma): Mishell Temer. Envergonhou o país uma vez mais ao ouvir calado a conversa mole de vice-presidente norte americano Pence, nome que, segundo o dicionário do Aurélio quer dizer em português “pequena prega que vai afinando gradativamente , quer nos dois sentidos quer em um só e feita no avesso do tecido, para ajustar ou amoldar ao corpo as diferentes partes de um vestuário”.

Esse senhor, “pequena prega”, veio dizer em Brasília como nos subjugar ao poder do seu país. E o Mishell, mais uma vez com aquele sorriso descrito acima, ficou agradecido por receber uns caraminguás para o Brasil tratar bem os “refugiados” venezuelanos, pois com certeza eles estão impedidos de ir para os EUA.

Sobre as crianças brasileiras separadas dos pais e presas em tendas, nenhuma palavra. Humilhante. Tão humilhante quanto Fernando Henrique naquela foto antiga com a linguinha de fora e tendo atrás de si o então presidente Clinton com a mão em seus ombros. E o ex-motorista do Marighela também não deu uma palavra.

A que ponto chegamos, não?

O novo Brasil assassina a Marielle, prende um ex-presidente sem provas, agride a inteligência de Manuela D’Ávila, acha Neymar um gênio, adora Miami, vende a Petrobrás, faz justiça (sic) com um STF que joga ao lado dos poderosos de plantão, detesta pobre ou deles tem vergonha e, o que é lamentável, desconhece a sua própria história como nação.

Mas, quem sabe, iremos ganhar o hexa campeonato mundial de futebol e estufaremos o peito cheios de orgulho, não é mesmo?

BRAZIL, ZIL, ZIL…

 
Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

9 Comentários

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  1. Mais um.
    Mais um tentando

    Mais um.

    Mais um tentando dizer que o Neymar é o culpado pela desgraça brasileira.

    Diz o post:

    ” 14 milhões de desempregados e outros tantos milhões de subempregados, esquecem as agruras do seu dia a dia e gritam: Brazil, zil, zil!…”

    Graças a Deus que esses “14 milhões de desempregados e outros tantos milhões de subepregados” tenham, ao menos, alguns momentos de diversão e alegria para esquecer um pouco o inferno em suas vidas.

    O autor do post acha que nem isso eles deveriam ter.

    1. Circo, mas sem pão

      É sempre bom fugir da realidade. Na Roma Antiga, a fuga da realidade era regada a pão e circo. No Brasil, a fuga da realidade é regada apenas a circo.

      1. No meu ponto de vista, acho

        No meu ponto de vista, acho que pior seria se não tivesse, alem da falta do pão, alguns poucos momentos de circo para alegrar o cotidiano tão sofrido das pessoas.

        Não acredito que o circo seja capaz de fazer os que sofrem esquecerem sua dor.

        1. Sinto muito Antonio, mas isso

          Sinto muito Antonio, mas isso que você defende é indigência mental.

          Apesar de reconhecer que o futebol não passa de política de “pão e circo” no Brasil e entender o processo de alienação atrelado ao mesmo, você AINDA sim defende o esporte.

          A maioria não tem escolha, são alienados sem saber. Você está deliberadamente escolhendo a alienação conscientemente. Não existe desculpa para isso.

          1. Sinto muito Gilberto, mas que

            Sinto muito Gilberto, mas que “indigencia mental” tem brasileiros terem  alguns momentos, de quatro em quadro anos, para se divertir junto com outros bilhões de pessoas?

            Os homens precisam de trabalho, saude, educação, ginastica na escola, museus, ciencias, picole na praia, festa de São João,algodão doce, rede para namorar e uma infinidade de outras grandes e pequenas coisas para viver

            A maioria, diferentemente do que diz, não é alienada devido a alguns poucos momentos de diversão, mas por metodos muito mais complexos.

            Deixe o povo ter minutos de alegria, quando as pessoas pegarem o primeiro onibus ou trem para o trabalho ( ou para a busca deles ) voltarão a sua dura realidade e a compreenderão, talvez ate mais do que nos dois.

          2. Se futebol fosse só de quatro

            Se futebol fosse só de quatro em quatro anos no Brasil, você até poderia ter razão.

            Mas eu entendo: é melhor se alienar do que enfrentar a dura realidade. Coisa que o povo brasileiro faz todo dia.

  2. Precisa combinar com os Mexicanos

    Se o Brasil perdeu para a Alemanha e se a Alemanha perdeu para o México, então o Brasil vai perder para o México.

    E viva o Di Maria!

  3. “Ou seria Lava a Jato?”
    Para

    “Ou seria Lava a Jato?”

    Para mim é lava rato.

    Afinal todos os ratos estão soltos e limpos.

    Rato serra, rato fhc, rato aécio, rato alckmim, rato josé richa, rato perillo, rato rocha loures,  etc etc etc

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