O ônibus petista

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07/02/2012

PT/Kassab: qual é o limite do “ônibus” petista?

O que define a abrangência de uma frente política? Até onde é possível ampliá-la sem reduzir diferenças históricas a uma simples marca de fantasia? O dilema não é novo na trajetória da esquerda e já rendeu frutos desastrosos em um extremo e outro, na forma de rendição ou isolamento.

O assunto volta com força na campanha municipal de São Paulo, onde o PT debate a hipótese de uma aliança com o PSD, do atual prefeito Gilberto Kassab, que indicaria o vice na chapa encabeçada pelo ex-ministro Fernando Haddad. Até junho, quando o congresso municipal do partido oficializa a candidatura, a decisão deve estar amadurecida.

Kassab, desgastado pela administração gelatinosa – mais de 40% dos eleitores não votariam em candidato apoiado por ele – tem folha corrida coerente na política nacional. Egresso do PFL, moveu-se sempre nos bastidores da direita paulista, cuja liderança disputa agora, gerando desconforto no establishment tucano. Em 2004 emergiu do biombo conservador como servidor fiel de José Serra, de quem foi vice e herdeiro na prefeitura de São Paulo.

Higienismo social e factóides urbanísticos e ambientais, inicialmente aplaudidos pela mídia conservadora, como o “cidade limpa” (pero inundada), compõem a sua marca na maior metrópole do país. O que levaria o PT a cogitar de ‘aliado’ dessa cepa? As respostas variam, mas convergem a uma mesma base argumentativa. São Paulo (a cidade e o Estado) forma o bunker do conservadorismo tupiniquim; não se muda o país sem alterar a relação de forças na sua principal usina irradiadora de riqueza, ideologia e prestígio; nela, o PT tem um teto de votos em torno de 30% e resistências calcificadas no eleitorado de classe média.

Arrebanhar Kassab e o que ele adensa seria como seccionar uma alça desse círculo de ferro, em que o PSD trincou um espaço antes repartido entre demos e tucanos. Alianças do tipo ‘catch-all’ – ônibus ideológico onde cabe de tudo – devem ser avaliadas não pela diversidade, argumenta-se, mas por aquilo que importa em política: quem dirige o veículo, a hegemonia do processo. O motorneiro em São Paulo seria o PT.

Um olhar sereno de fora do trânsito recordaria que Fernando Henrique Cardoso disse o mesmo quando o PSDB dobrou à direta, aliando-se ao PFL. “Derrotar o PSDB em São Paulo é uma meta importante”, observa esse ponto de vista. “O problema, de fato, não é tanto com quem se faz aliança, mas sim para onde aponta o processo”. Ou seja, qual programa o PT propõe para a cidade e, por extensão, para o país, no pós-crise do neoliberalismo? Como a natureza desse projeto será influenciada pela lotação do ‘veículo’ aliancista?

Postado por Saul Leblon às 09:12

Redação

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