O pacto nacional, a Ponte para o Futuro, e a resistência de Lula, por Luis Nassif

Para que o grande pacto se concretize, Rodrigo Maia precisaria dar provas robustas de que, qualquer proposta de reforma, tenha participação de sindicatos e movimentos sociais. E, do lado do PT e Lula, demonstrações de que não se furtarão a discutir reformas necessárias, modernizantes, mas sem perder o foco na proteção social e na garantia dos direitos fundamentais.

Vamos tentar colocar didaticamente:

  • A Lava Jato foi uma operação com clara conotação ideológica. Investiu contra o PT, não contra o PSDB. Quebrou as empreiteiras, não as instituições financeiras envolvidas em corrupção – como o BTG, com participação mais intensa que a própria Odebrecht. As empreiteiras eram as beneficiárias da visão desenvolvimentista de Dilma; as instituições beneficiárias da visão financeira de país. Foi esse viés político que determinou o destino de ambas as empresas. Os porta-vozes da Lava Jato sempre prestaram reverência ao mercado e à abertura total da economia.
  • O impeachment teve como objetivo não apenas tirar Dilma Rousseff, mas principalmente revogar os direitos previstos na Constituição de 1988. Michel Temer e Eduardo Cunha assumiram cavalgando a tal “Ponte para o Futuro”, com a missão principal de quebrar as pernas dos sindicatos. Antes do impeachment, acenou-se para a própria Dilma salvar o mandato endossando os princípios da Ponte. A Ponte foi o grande guarda-chuva divisor: quem se abrigou debaixo dela foi poupado; quem ficou de fora, se ensopou.
  • No Supremo Tribunal Federal (STF), os Ministros mais ideológicos – como Luis Roberto Barroso – empunharam a bandeira da financeirização selvagem e saíram rodando a baiana em palestras para empresas e instituições financeiras endossando as barbaridades estatísticas de Flávio Rocha. Ou seja, aceitaram os chefes do esquema político mais corrupto da época – Temer e Cunha – em nome da Ponte para o Futuro. Seguraram Cunha até que as reformas estivessem sob controle. Só então mandaram para a cadeia. A denúncia da JBS foi um acidente de percurso. Passado o momento, a releitura da mídia é que os diálogos gravados não indicavam intenção de crime, mesmo com a menção de Temer a seu intermediário, e o intermediário saindo do encontro com uma maleta de dinheiro. Foi o único caso que mereceu a indulgência do conterrâneo Luiz Edson Fachin.
  • Depois, endossaram a candidatura de Jair Bolsonaro, mediante o aval Paulo Guedes, da continuidade da desmontagem selvagem dos direitos sociais e trabalhistas.

Por tudo isso, qualquer iniciativa de pacto social tem que contemplar, se for politicamente honesta, os setores sociais e trabalhistas.

É evidente que mudanças no mercado de trabalho e nas formas de produção exigem uma revisão da legislação trabalhista e da própria função dos sindicatos. Assim como a questão da Previdência pública impõe-se não apenas na União, mas principalmente nos Estados.

Mas é evidente também que, com as tecnologias eliminadoras de emprego, tirar as centrais sindicais e as associações representativas dos funcionários públicos das discussões será um fator de desequilíbrio com profundas implicações sobre a paz social e o próprio mercado de consumo – como, aliás, ficou exposto de maneira dramática pela pandemia. Assim como ficou exposta a irracionalidade dos cortes indiscriminados de gastos públicos e da demonização generalizante do funcionário público. A Ponte para o Futuro foi de uma simplificação irresponsável.

Critique-se Lula pela dificuldade em se posicionar no atual jogo político e definir uma estratégia mais abrangente de resistência a Bolsonaro. Mas pretender que assine um cheque em branco para propostas genéricas de pacto social seria uma prova de ingenuidade inédita.

Para que o grande pacto se concretize, Rodrigo Maia precisaria dar provas robustas de que, qualquer proposta de reforma, tenha participação de sindicatos e movimentos sociais. E, do lado do PT e Lula, demonstrações de que não se furtarão a discutir reformas necessárias, modernizantes, mas sem perder o foco na proteção social e na garantia dos direitos fundamentais.

Luis Nassif

38 Comentários

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  1. Quem faz pacto com escorpiões será sempre picado pelas costas. A patética “elite” brasileira é o escorpião, e ela SEMPRE irá tratar empregados como escravos e SEMPRE irá tratar o estado como propriedade pessoal. Modelos medievais de comportamento não se corrigem com “pactos”.

    1. Perfeito, esse negócio de “pacto” é a velha ladainha que visa manter o status quo da elite em momento de crise do capitalismo. Ao final, sempre “o de cima sobe e o de baixo desce”, como diz a música do saudoso Chico Science.

    2. O tal do manifesto #Juntos é patrocinado por Paulo Lemann (o rei das privatizações do lado privado) e Maria Alice Setúbal (Itaú). Bela dupla para atrair os trabalhadores. E para os demais cidadãos que não são ingênuos, também.

  2. Para Rodrigo Maia basta aceitar a participação dos sindicatos e movimentos populares, para o presidente Lula e o PT, não se furtar a discutir reformas NECESSÁRIAS modernidades.
    A questão não é essa. O PT e o presidente Lula sempre buscaram atualizar a legislação a realidade.
    A questão é política. O presidente Lula, após aparentemente ter aceitado um fora com o sujeito que ocupa a presidência da República, viu -se obrigado o retroagir diante das pressões da base que não aceitam nada sem as desculpas públicas pelo golpe e a restituição dos direitos políticos do presidente Lula. Sem isso não há início de discussão possível.
    A mágoa, que sempre cega,é grande e Boa parte da base petista prefere aceitar o sujeito que está na presidência da República a um outro golpista enrustido.

  3. Sobre um ponto fundamental ignorado no artigo, deve ser observado o seguinte.

    Celso de Mello – que, agora, pressente, contra si e até fisicamente, o perigo nazista naquele que ajudou a eleger, atuando como figura de proa na criminalização e demonização do PT e de Lula – e Gilmar Mendes, outra figura nefasta no mesmo sentido, são, de fato e de direito, não somente os ditadores que permitiram a cassação dos direitos políticos do ex-presidente, abrindo o campo para a ascensão do fascismo.

    São também, agora e pior ainda, os ditadores que mantêm cassados os direitos de Lula. Agindo desta forma criminosa, devem estar se considerando ainda ‘vitoriosos’ nessa ditadura judicial, ao contrário da ditadura dos gorilas estrelados, que, derrotados, assentiram com a ‘anistia’ dos presos e perseguidos políticos daquela época em troca das próprias impunidades, como estupradores, torturadores, assassinos e criminosos de lesa-humanidade.

    Assim, é uma piada de mau gosto ver os togas Celso de Mello e Gilmar Mendes virarem heróis de grandes frações da esquerda, enquanto, como ditadores de fato, cassam os direitos políticos de Luis Inácio Lula da Silva.

    Se querem, de fato, derrotar a ditadura milico-policial-miliciana que se avizinha, em vez de – posando de ‘democratas’ -emitirem tantas notas de repúdio, discursos e manifestos vazios, onde não entram os direitos concretos do povo, deveriam abdicar urgentemente deste veto ditatorial, restaurando os direitos político de Lula como um passo real para uma mudança efetiva na luta popular contra o projeto nazifascista do Genocida e dos militares delinquentes por trás deste monstro.

    1. Querem normalizar o sujeito, tão sabujo ou mais que o tchutchuka só rentismo podre….. é farinha do mesmo saco, e não essa patética estorinha furada que é a voz do bom senso no congresso…..
      E Lula está certíssimo…..os interesses dos trabalhadores não são os mesmos dos banqueiros e empresários abutres-carniceiros-podres….

  4. Todo apoio a Lula. E quem não conhece certos elementos que pretendem liderar o suposto pacto que os compre. Por exemplo, que credibilidade tem Rodrigo Maia, um dos líderes da usurpação dos direitos trabalhistas e do adiamento das aposentadorias (só dos trabalhadores, claro – militares, MF e judiciário não, para garantirem o esbulho para as calendas e fanático das privatizações na bacia das almas? E o golpista FHC? Para ficar só nos mais destacados.

  5. O Brasil que ainda existe conhece os atores canastrões , globo lava jato fhc e quanto mais, pela voz dos seus coerentes jornalista políticos juristas, não mais se encanta com os cantos das sereias.
    Nada de oba oba, aos fatos.

  6. O PT não foi alvo destes bandidos que agora se dizem surpreendidos com o bolsonaro mas adoram o guedes atôa.
    A desgraça atual só mostra o acerto do PT.
    Gente muito boa atacou a dilma para conseguir uma beiradinha na ponte para o futuro que do outro lado indicava o bolsonaro.
    O PT, pode ainda ser vítima deste pessoal, mas fica cada dia mais claro sua grandeza e que era um empecilho para a desgraça que vivemos por culpa destes que querem, AINDA, “ensinar” ao PT.

  7. ágora percebe-se que toda aquela contemporização de maia com relação aos estopins autoritários de boçalnaro não passaram apenas de uma forma de diálogo via mídia: até que o capetão cedesse às investidas do chamado centrão. ágora, se for para e centrão restabelecer a ordem civil, e não servil, como costumam ser dos militares ( aqui as forças armadas são um poder com voz, assim como a mídia oligarca e o ministério pudico, mas que não constam na Constituição), menos mal. a elite do Brasil já conspurcou a imagem de um patrimônio político da estirpe de Lula (um deputado constituinte, diga-se, assim como foi fhc, itamar franco) e de uma economista como Dilma, que conseguiu fazer o desemprego chegar a 4%, com um pib de +1%, com sisternas, mais médicos e a fantástica engenharia legal para distribuição do pré-sal para educação e saúde(e foi execrada pelos jornalistas, a maioria do sexo masculino, assim como parlamentares e o judiciário) tenta condicionar as pautas sociais sem o aval dos trabalhadores e do povo, como sempre. tristes trópicos. toda a delenda PT iniciou-se com a famigerada ação penal 470…

    https://www.youtube.com/watch?v=nN7WMffBl7Q

  8. 1) Trecho do comentário de 21.05.2020, ao post “Youtuber bombou no campo progressista porque não ameaça a fragmentação crônica, por Carolina Maria Ruy”

    “Espaço Selvagem é uma livraria que fica em Taubaté, o dono é o amigo santareno Nicodemos Sena. Naquele exíguo espaço de 30 m2 ele promove saraus, encontros, debates, lançamentos de livros. Em 24.10.2019, trouxe o Frei Betto. Bombou, caixa de som pra fora, na calçada, consegui sentar porque cheguei cedo. Após 40 minutos de palestra, a pergunta da noite: frei Betto, uma Frente ampla é possível no Brasil? Antes de terminar a pergunta frei Betto fulminou: “Impossível, sem chance, esqueça, não conte com isso”. Nossa, mas por que o frei Betto disse isso? Porque ele conhece as entranhas da “impossibilidade”, sabe onde está o nó.”

    Frei Betto conhece as “entranhas da impossibilidade”, o nó da questão há 40 anos, mais precisamente desde 10.02.1980. Por isso foi categórico lá em 24 de outubro do ano passado. Eis aí.

    2) Manchete de capa da Folha de 01.06.2020: “Manifestos pró-democracia buscam clima de Diretas Já após ataques de Bolsonaro”

    Abril/1984. Trabalhava no BB de Guia Lopes da Laguna (MS), e o banco me manda, ó glória, fazer um curso de 30 dias em …São Paulo, no CEFOR da Líberó Badaró, o olho do furacão. Véspera do comício das Diretas Já, a coordenação do curso avisa que a turma de 24 participantes de todo canto do país seria dispensada ao meio-dia, porque o Anhangabaú seria fechado para o evento que iria começar no início da noite de 16/04.

    No dia, antes das 11, o coordenador entra na sala e avisa que é pra todo mundo picar a mula, o vale já estava tomado e fechado, e o Metrô podia fechar a qualquer momento. 23 colegas foram embora quase que correndo, bilhete na mão, em quase desespero. Calmamente fui ao banheiro, botei a camiseta do Henfil com o Teotônio Vilela e a bengala para ao alto gritando Diretas Já, troquei a calça social por um agasalho e fui testemunhar a História que iria passar ali, debaixo do meu nariz.

    No palanque (passarela) do comício das Diretas Já do Anhangabaú, em 16.04.1984, estavam Montoro, Quércia, Brizola, Lula, etc, etc, etc. Não era uma pauta de negociação salarial da data-base, com 157 itens reivindicatórios, era PAUTA ÚNICA, Diretas Já. Não havia quizilas partidárias, condicionantes, cara feia, beicinho, muxoxos, e quetais.

    Daí “as entranhas da impossibilidade”, não se está montando governo, mas destituindo um governo, não dá para abrir negociação, senão cada partido vai querer incluir a sua pauta, e lá por 2025 ainda se estará discutindo isso. Não dá para colocar isso na mesa AGORA.

    Alimenta-se a ilusão de que sairemos dessa pela esquerda/centro esquerda. A saída, a transição será “por cima”, como sempre foi a tradição brasileira. O processo será conduzido e controlado, como foi em 1985/eleição indireta/Tancredo. A emenda Dante de Oliveira aprovada significaria a perda do controle por parte dos militares. O que torna uma eleição direta em 2020 em caso de cassação da chapa altamente improvável, o mais seguro é uma indireta, pelo Congresso, em 2021, mantendo o controle do processo. De um governo de extrema direita para um de centro direita. Transição por cima, mais uma vez, como manda a tradição a ser mantida.

    Frente ampla é um bebê natimorto. Frei Betto sabe das coisas.

    1. Caro Luis, também fui do BB e estava em 1984 na sede em Brasília e participei do movimento diretas já, fui mordido pelos cachorros do General Nilton Cruz e te garanto uma coisa, a lição que tive após a eleição indireta do Tancredo e a Constituinte sem ser exclusiva como deveria ter sido em 1988, só me faz aumentar a certeza de que não cabe mais, para o povo, os acordos por cima como sempre ocorreu no Brasil. Chega uma hora que a panela de pressão está pronta para explodir…infelizmente essa hora parece ter chegado. Prefiro uma explosão social com tudo de ruim que possa acontecer do que mais um acordo por cima.

      1. Prezado, particularmente também prefiro essa alternativa. E a explosão social deve ocorrer não por opção, mas por falta de opção, por desespero mesmo, a situação é desesperadora. Reduzir a ajuda emergencial, por exemplo, vai ser o estopim, parece que é o que querem. E estaremos, enfim, rompendo uma longa tradição de apatia e passividade.

        Reunir os maiores nomes possíveis da sociedade civil no emblemático auditório da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, fazer discursos inflamados e lacradores, e depois cantar Apesar de Você e Mordaça não dá mais.

  9. O texto revela claramente por que NÃO é possível nem desejável esse pacto. O que deveria ser uma união para impedir o fascismo (ou seja, em torno do único ponto de consenso hoje existente entre os opositores ao bolsonarismo) é misturado com propostas de governo e das eternas “reformas modernizantes”. Ora, essas questões devem ser decididas pelo povo em eleições livres após a restauração plena da democracia.

  10. Não ligo em me aliar a Rodrigo Maia, FHC, Huck ou Hang, que foram golpistas. Vingança não é construtiva na política. Tampouco ingenuidade.
    O pacto posto sobre a mesa é conduzido pela elite. Consiste em tirar Bolsonaro e só. A construção de Guedes restaria de pé. Macacos me mordam, se não é mais um truque da elite. Ela, que deu o golpe para voltar ao poder e saquear o patrimônio público e os trabalhadores, viu seu plano meio que fracassar e foi obrigada a engolir Bolsonaro. Agora que a bousta está fedendo no meio da sala, ela quer usar a classe trabalhadora de papel higiênico para limpar o derièrre. Com isso, conserva os ganhos obtidos com a perda de direitos trabalhistas e limpa seu nome, passando-se como o herói que matou o dragão.
    Derrubar Bolsonaro é obrigação da elite. Foi ela quem o pôs lá. A classe trabalhadora deve colocar suas condições para compor qualquer pacto. Essas condições passam pela recuperação dos direitos perdidos. Somente a partir daí, pode-se discutir reformar a legislação trabalhista e previdenciária.
    A classe trabalhadora não pode participar como passageira do ônibus. Ela também tem que conduzir. Menos do que isso é armadilha. E o custo será cobrado principalmente aos partidos aliados à classe trabalhadora por ter apoiado um pacto que só a prejudicou.
    O fato é que o tempo corre contra o Brasil, mas corre mais rápido contra a elite responsável por eleger Bolsonaro e contra as forças armadas que o sustenta. A tragédia que se avizinha pode enfraquecer sua posição de mando em benefício de seus adversários. Se necessário, devemos ser pacientes e aguardar a água chagar na altura do nariz. E não estou sendo cruel com as vítimas da tragédia sanitária e econômica, pois vantagens ainda maiores podem ser obtidas se a tragédia se concretizar. E isso está fora de cogitação.

  11. Você escreve: “Mas pretender que assine um cheque em branco para propostas genéricas de pacto social seria uma prova de ingenuidade inédita.” Não entendi. Todos os segmentos que assinam manifestos de repúdio a Jair Bolsonaro e pedem seu impeachment não estão propondo um projeto de país, seja ele qual for. Eu ouvi da sua boa no Jornal GGN: “é preciso unir todos contra o inimigo comum”. Trata-se de uma emergência nacional para que, quiçá, as oposições não sejam encarceradas!! Você está propondo, de forma irresponsável, que se discuta o apoio de Lula e do PT ao impeachment de Bolsonaro, com a devida negociação sobre temas que devem ser objeto de disputa nas eleições, nos fóruns da sociedade civil (que foram perdidos pela burocracia petista/sindical muito antes da reforma trabalhista) e pelas instituições de forma geral. Decepcionado com você. Te vejo registrando todos os movimentos rumo ao autoritarismo, conclamando todos os setores democráticos a reagir e aí… legitima o desejo do Lula e do PT de tentar exigir reparação num momento desses? E mais: muita coincidência o seu artigo ser publicado no mesmo dia em que Leonardo Attuch publica texto “na mesma linha” no 247… Muito estranho mesmo…

  12. Quando uma presidenta foi derrubada sem provas, não vi nenhum desses que hoje querem pacto falar em nome de um bem maior esquecendo as diferenças.

  13. Copio texto de Requião:
    Sempre a mesma coisa,
    a mesma merda, sempre.

    Não me desculpo pela palavra pouco elegante no título. Não é a quarentena que me irrita. É a peculiaríssima propensão dos brasileiros -especialmente os que habitam o espaço politico à esquerda- de recaírem sempre, e sempre na mesma esparrela que me tira do sério.
    Aproveitando os dias em casa para organizar arquivos, deu-se me à mão um texto que publiquei, em um dos jornais de Curitiba, no dia 18 de julho de 1984. Há 36 anos! Derrotada a emenda constitucional que restabeleceria as eleições diretas para presidente da República, discutia-se o que fazer. E aí se revelava o embuste tão costumeiro em nossa história.
    No artigo, deplorava que, na sofreguidão de se buscar o próximo passo, sacassem o rançoso apelo “à união de todos”, mesmo que isso pudesse significar um passo atrás na luta para dar o golpe final no regime militar. Enfim, propunha-se enfiar no mesmo bornal toda sorte de felinos; ou seja: uma frente sem propostas e sem princípios. Já uma outra vertente queria simplesmente chutar o pau da barraca.
    Diante do impasse, eu perguntava e respondia: “Estamos, então, sem saída? Não. Temos saídas ética e politicamente corretas”. E lembrava os conceitos de Aristóteles de ato meio e atos extremos.
    No caso, o ato extremo de covardia era a conciliação com os conservadores, abrindo mão da possibilidade de vitória, por medo ou por conluio com a ditadura. O ato extremo de temeridade era a irresponsabilidade de se propor uma radicalização extemporânea, inconsequente.
    Já o ato meio significava avançar, consolidar o avanço, retomar a marcha e conquistar o próximo objetivo. Para tanto, eu propunha um programa mínimo, em torno do qual deveriam se reunir os brasileiros comprometidos com a soberania e o desenvolvimento nacional, com a renegociação da dívida externa, com o direito dos trabalhadores, com uma política de emergência para a geração de empregos, com as liberdades democráticas, com a reforma tributária, com a reforma política e assim por diante.
    Enfim, deixava claro naquele artigo de 36 anos atrás que uma frente sem projeto, sem princípios, sem um programa mínimo, sem uma clara linha econômica nacionalista, democrática e popular, não era uma frente.
    Assim como hoje a reunião de políticos frouxos, pusilânimes, disponíveis e desfrutáveis com um amontoado de oportunistas, com as madalenas hipoteticamente arrependidas, com os assassinos de reputações, com os ditos liberais, com os mercadores e rentistas, com banqueiros e ex-banqueiros, com animadores de auditório, com ex-presidentes e ex-ministros que atentaram contra o Estado Nacional e alienaram a nossa soberania, não é uma frente. É uma súcia que, mais uma vez, se aproveita de uma situação dada para fazer com que tudo permaneça como sempre foi.
    Há quem diga: não seja tão radical, nesse balaio tem muita gente boa, gente bem intencionada, ingênuos, mas puros de alma e de intenções.
    Pode ser, conceda-se. Mas, para que serve a história, então? Para que servem as experiências passadas? Ou seria a tal da ignorância córnea que impede se inculque na cabeça dos “bem intencionados” um mínimo de lógica e racionalidade?
    Sob que guarda-chuva os defensores dessa frente ampla, irrestrita querem abrigar os brasileiros? Sob o guarda-chuva da defesa da democracia.
    Que democracia? A democracia do mercado? A democracia da prevalência do capital financeiro sobre os interesses nacionais e populares, sobre a produção, o emprego, o salário, os direitos trabalhistas e a previdência social?
    Pergunto, sufocado pela angústia de ver mais uma vez desperdiçada uma oportunidade histórica, pergunto: o ministro da economia de vocês, em um hipotético governo de união nacional, seria o Guedes mesmo? Ou, para não escandalizar tanto os seus acompanhantes que se dizem à esquerda, vocês se contentariam com o Armínio Fraga, o Lara Rezende, alguém do Itaú ou do Bradesco?
    Precisamos de propostas, não de um discurso vazio repleto de assinaturas. Precisamos de um projeto nacional, que se comprometa com um programa mínimo, como este e que promova:
    . no campo econômico, um câmbio competitivo e controlado, uma nova política monetária que traga os juros aos níveis internacionais e a troca da lógica da atração da poupança externa pela enorme poupança interna, que será liberada pela conversão da dívida pública em investimentos;
    . no campo trabalhista, a promoção constante do fator trabalho no processo produtivo, através de uma política que valorize o emprego, o salário mínimo e as relações trabalhistas;
    . no campo educacional, a construção de um sistema educacional que garanta, no mínimo, uma década e meia de bancos escolares à população, a reformulação de currículos, a valorização do magistério e o fomento à pesquisa científica;
    . no campo fundiário, a elaboração de um plano de ocupação do território, que valorize a agricultura e preserve o meio ambiente e envolva desde ações de ordenamento territorial até políticas de ocupação dos espaços;
    . no campo da infraestrutura, o planejamento de longo prazo e a elaboração detalhada de projetos de engenharia;
    . no campo industrial, a implantação dos setores tecnológicos de ponta, lembrando que o mundo pós pandemia exigirá autonomia industrial em quatro complexos produtivos: agroindústria, energia, saúde e defesa, para ser realmente um país soberano;
    . no campo externo, uma estratégia geopolítica que preserve a nossa soberania e ações diplomáticas que afirmem nossa liderança no mundo latino;
    . no campo da cultura e da arte, a retomada, a renovação e a ampliação de programas de apoio e incentivo ao setor, assim como o resgate e o fortalecimento das estruturas pública que lhe dão suporte. A cultura, como o cimento da nacionalidade, a linha que nos une, eleva e promove, é tão essencial quanto a economia e a política;
    . combate à corrupção como política Estado, implacável, mas justa; que tenha como preceitos a defesa da soberania nacional, a garantia dos direitos e interesses dos brasileiros;
    . referendo revogatório para submeter à decisão dos brasileiros todas as medidas atentatórias à soberania nacional e aos direitos dos trabalhadores tomadas desde o governo produto do golpe de 2015/2016.
    Em síntese, nossa missão é construir um projeto nacional que dê ao povo brasileiro emprego, educação, saúde, segurança, cultura, uma boa moradia provida de água, esgoto, energia e dos meios modernos de convivência social e não um documento vazio que fala em defender o indefensável.
    Não queremos uma frente de assinaturas em um documento oco de ideais e propostas. Não queremos uma frente que, de tão elástica, liquefaz-se pela sua insubstância.
    É claro que devemos enfrentar os fascistas, os milicianos, essa horda de insensatos que sonha com uma ditadura cívico-militar. É claro. Mas, na verdade, parte dos que lançam a ideia da união nacional pela democracia criticam Bolsonaro, filhos e os celerados que os cercam não pela agenda econômica, política e social que executam. E sim pelos maus modos à mesa, pelos arrotos e palavrões. Não se opõem ao reinado de Mamon, defendem a PEC dos Gastos, as reformas trabalhista e previdenciária, as privatizações, o arrocho salarial, a criminalização dos sindicatos e dos movimentos sociais, a entrega do petróleo, a abdicação da soberania nacional.
    Alguns dos pressupostos para a formação de uma frente nacionalista, democrática e popular, estão aqui. Lanço-os para o debate. A organização e mobilização de uma frente com essas características, reunindo partidos, sindicatos, associações profissionais, igrejas, entidades estudantis, universidades, personalidades da vida política e das ciências, intelectuais e acadêmicos deve-se constituir em um sólido muro contra o avanço antidemocrático.
    Não queremos assinaturas, manifestos ou proclamações. Queremos ação.
    Quem se habilita?

  14. Essa galera do mal por trás desse pacto não merece confiança, e é ingenuidade, depois de tudo que fizeram e apoiaram, achar que permitiriam a garantia de alguns direitos e proteções para os trabalhadores. Eles querem elite com todo direito e poder e povo sem direitos e poderes (mas querem isso sem um troglodita perigoso como Bolsonaro no comando). Se fosse um Doria limpinho, cheiroso e sem propensão a golpe, fazendo ou dando andamento a todas as desgraças que Bolsoanro fez e quer fazer, receberia total apoio desses pactuantes. Vive-se falando em pactos entre esquerda e direita tais como houve na espanha mas o problema é que as elites desses locais não eram tão anti-nacionais e tão anti-povo quanto é a elite tupiniquim. ora, o Lula governou sob pacto e amizade com o que havia de pior, e olhe como tudo terminou: com todos traindo, perseguindo e renegando Lula e o PT. Eu entendo bem porque ele não se anima em querer pactos com essa galera.

  15. Devolva ao PT

    Lula está correto em não se associar a Temer e FHC na marcha antifascista. Golpistas e antidemocráticos quando lhes foi conveniente arrancar do governo uma presidenta honesta, honrada, sem crime comum e de responsabilidade, simplesmente por não ceder à pressão de bandidos de todos os partidos, especialmente do MDB e PSDB.
    Dilma e o Brasil não mereciam passar pela vindita de um viciado que não admitiu ser derrotado numa eleição limpa, tampouco sofrer as humilhações públicas que sofreu, mais por preconceito de sexo do que por incapacidade intelectual e política como quiseram fazer parecer.
    Além disso, a perseguição desonesta contra o próprio Lula, acusações levianas acerca de sua integridade moral, logo de FHC que confessou em suas memórias ter recebido mais de R$ 6 milhões de empreiteiros dentro do Alvorada para construção de seu Instituto FHC. Injustiça que levou Lula à prisão e Dona Marisa à morte.
    Temer nem se fala. Nem é preciso dizer de suas manobras com os algozes do golpe.
    Se o Brasil quer mudar esse quadro em que foi colocado que devolva ao PT o destino da nação e, se nosso povo, sem intromissão da mídia, do MP e judiciário, sem fake news, quiser repassar o comando aos nossos adversários, que seja pela via democrática do voto.
    Não há acordo.

  16. A verdade é que esses pactos, pontes e acordos não vão mudar nada e a visão do futuro se torna cada vez mais sombria, nosso país é um imenso feudo onde poucos senhores dividem os escravos e tentam convencê-los que para mudar de vida tem que se sacrificar ou pisar no próximo. Para poucos a vida parece ser promissora, tem fácil aceso a educação e aos melhores empregos, mas a grande maioria assiste a TV e vê sonhos como casa própria, carro e outros bens impossíveis de conseguir com um salário miserável. Nosso país rico, mas essas riquezas não pertencem ao povo que transforma o suor em lucros para poucos, precisamos de mudanças sim, mas será difícil e quase impossível porque os poderes da República se acham parte dos ricos que conseguiram chegar onde estão pela tal meritocracia. A verdade é que vivemos uma grande mentira e a solução tem sido o extermínio das classes menos favorecidas.

  17. O que eu vejo é mais uma vez Lula e o PT colocarem o “Lula Livre” como pré-requisito para qualquer participação numa frente democrática. Para Lula só existem duas opções: Lula Livre ou Bolsonaro. Em 2018 Lula impôs PT versus Bolsonaro. Para 2022, já afirmou que quer uma revanche.
    Lula não explicita, por razões óbvias, mas Lula não se importa se o Brasil for completamente dominado por milícias fascistas, se os interesses do PT (interesses de Lula, na verdade) não forem atendidos pelos antigos parceiros do PT (elite econômica). Repetindo 2018, Lula põe novamente os interesses do PT acima de tudo. Ou a Democracia só interessa à direita?
    Não é Rodrigo Maia quem vai garantir direitos sociais dos trabalhadores. São os trabalhadores conscientes e organizados exigindo seus direitos. Isto é o que o PT deveria estar fazendo e não faz. Não fez durante os 12 anos em que esteve no poder. Sou testemunha de que os sindicatos anestesiaram os trabalhadores. Quantos milhares de militantes do MST continuaram sem terra ?
    Um partido com tantos historiadores e sociólogos e nenhum militante lembra como ocorreu a ascensão de Hitler e a negação da Constituição de Weimar ? Não dá pra alegar ignorância.
    Mais uma decisão política errada de Lula que isolará ainda mais o PT. A História não ficará esperando Lula. A realidade se imporá como quando Lula foi contra a eleição de Tancredo, quando Lula não queria assinar a Constituição de 88, quando Lula ficou contra o Plano Real, quando Lula imaginou ser amigo íntimo do Odebrecht, do Abílio Diniz etc. etc. Lula está apequenando, diminuindo essa importante organização política que é o PT e que hoje cultiva a Idolatria. Uma lástima.

    1. Catilinária mais que previsível: nasci cresci sou sempre fui “petista” tenho todas as credenciais para criticar e constatar que o Grande Presidente Lula nada fez para este nação e sobretudo à população desassistida.
      O eterno retorno dos……

    2. É este tipo de falso esquerda, que só vê erros no PT e em Lula, talvez um cristã recalcado, mas a verdade é que o PT não pode entrar nesse pacto como bucha de canhão. O que essa elite quer é o apoio para por um sujeito que faça todos os desmontes de direitos e se comporte como um fhc. Temos força para unir uma esquerda que queira o melhor para os trabalhadores, sabendo, infelizmente que estamos num sistema capitalista mas esticando a corda e agora não esquecendo de politizar todos os ganhos que a luta de classe possa nos trazer, o resto é servir de tapete para o baronato.

  18. Boa tarde a todos!
    Vou repetir incansavelmente:
    Enquanto a sociedade brasileira não estiver TOTALMENTE CIENTE QUE FOI ENGANADA DESDE O JULGAMENTO DO MENSALÃO, NO LONGÍNQUO 2012, QUANDO ACEITAMOS QUE CIDADÃOS BRASILEIROS FOSSEM CONDENADOS SEM PROVAS, MAS COM BASE EM UMA TEORIA JURÍDICA ALIENÍGENA AO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO, QUE MESMO ASSIM TEVE QUE SER ACOCHAMBRADA PARA SE PRESTAR AO QUE SE DESEJAVA, SEGUIDO DAS JORNADAS DE JUNHO DE 2013, POR SUA VEZ SEGUIDAS PELO NÃO VAI TER COPA NO FINAL DO MESMO ANO, E DA CAPA DA VEJA, PUBLICADA ÀS VÉSPERAS DAS ELEIÇÕES DE 2014, COM O “ELES SABIAM DE TUDO” E AQUELE JOGUINHO CÊNICO ENTRE A VEJA E A GLOBO PARA AJUSTAR O TIMING DOS EFEITOS E, ACIMA DE TUDO, SEGURA DE QUE CONFIAR NO PT NÃO SIGNIFICA TER QUE VOTAR NO PARTIDO, isso não vai acabar.
    O Golpe começou em 2012 e os tipos que hoje assinam esses manifestos são os mesmos que urdiram o plano que nos trouxe a esse ponto. Eles tinham a certeza que tudo isso junto, nessa sequência, daria a eles a vitória eleitoral em 2014 e o controle do Poder pro resto da vida. Não deu.
    Tiveram que formar um consórcio às pressas para dar um Golpe e o que nós assistimos até hoje, é um arremedo de democracia em que suas Instituições lutam para fazer a sociedade brasileira não ter que ser informada sobre a verdade do que aconteceu e porque o PT e Lula foram atacados, inclusive pela esquerda. Simplificando: As Instituições não funcionam desde 2012, ou melhor, só funcionam para manter as aparências de um Golpe dado que não pode ser percebido assim pela Sociedade.
    E insisto: o tom do Nassif, quando fala das ressalvas do PT em participar de frentes “líquidas” em favor de uma democracia fajutada, embute o que eu chamo de “fator mas”: sempre coloca-se em dúvida as razões do PT pelo que o partido teria feito de errado e não se dá espaços para reconhecer-se o que foi feito do jeito certo.
    Prejuízo para o conjunto da sociedade. Prejuízo para o nosso futuro.
    Não peço votos para o PT porque não sou petista e a vida tem que seguir em frente, mas enquanto todos não reconhecerem que a gravação feita com o Sr. Romero Jucá é o roteiro do que estamos assistindo, com Supremo, com tudo (inclusive com as esquerdas e com boa parte da mídia alternativa) e que a gravação dos JBSs demonstra como esse plano foi financiado, não vamos sair dessa.
    O PT foi o vetor usado para contagiar a sociedade com a doença da não política e é isso que precisa ser reconhecido por todos e é por isso que, apesar de não ser petista, não consigo enxergar saída sem esse “mea culpa” geral.
    Assim, para mim, esses manifestos são só mais disso mesmo. Engodos.

  19. Como filiado ao PT ha muito tempo tô esperando a Direção sair das sombras e vir pra rua discutir com o restante da sociedade como vamos sair deste pepino.
    Fácil se esconder atras do Lula e fácil o Lula ficar de tutor.
    Quero que este negocio de partido seja superado em unção do bem maior.Preferia estar de novo, com todo mundo em um mesmo Partido, sem este monte de siglas que acabam mais por atrapalhar a organização de um plano de Salvação Naional

  20. É muito fácil um pacto que contenha 99% da população brasileira. Rede globo fechada, moro na cadeia e Dilma de volta à presidência. Simples assim.

  21. “Mas é evidente também que, com as tecnologias eliminadoras de emprego, tirar as centrais sindicais e as associações representativas dos funcionários públicos das discussões será um fator de desequilíbrio com profundas implicações sobre a paz social e o próprio mercado de consumo – como, aliás, ficou exposto de maneira dramática pela pandemia.”

    Só acredita nesses cínicos quem quer MUITO.

    O jogo deles é totalmente outro. Já empurraram o PT, PT, PT do barco e se divertiram vendo os tubarões dando dentadas. O querem com esse joguinho de cena é reagrupar a direita, porque esta claro pra todo mundo que eles perderam a “cabeça de chapa” do antipetismo para a extrema direita.

    Existe uma ação sobre a mesa, nem na gaveta está, visando a proscrição do Partido dos Trabalhadores. O suposto “centro democrático” não dá uma palavra sobre isto, pelo contrário: tudo absolutamente igual aa lava jato.

    Em resumo, nao há diferença no ódio ao PT, PT, PT, por parte de boçalnaro, Ali Kamel, FH, Gilmar Mendes, “mercado”, agronegócio e o que resta de donos de industria.

  22. Analisar o movimento político do Lula seria como pretender que um jogador de xadrez forte de clube possa ensinar Kasparov o seu próximo movimento. Com todo perdão ao excelente jornalista que Luis Nassif é, mas eu prefiro ficar com o discernimento do Presidente.

  23. Que quebrem e se destruam, não há o quê fazer. Os pilantras criaram o monstro, eles que o amamentem com o veneno que usaram contra nossa democracia!
    Mas ficará a lição? Este mesmo “povo” tão facilmente manipulado será capaz de se lembrar de suas responsabilidades nas próximas eleições?
    Quem viver, verá!

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