…o país do ódio e o “eu não brigo por política…”

….O país do ódio, o “eu não brigo por política”… (e o equívoco brutal por trás dessa sentença fácil…)
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Quando Moro determinou a condução coercitiva de Lula, num dos eventos mais carregados de signos de ódio e perseguição política da História, aquilo foi como que um DIVISOR DE ÁGUAS para muitos brasileiros.
Lembro que o Face foi inundado com posts de pessoas que até então NUNCA haviam publicado nada sobre política.
Descobri amigos simpatizantes de Lula e contra o golpe, que eu jamais suspeitaria, muitos começavam seus posts assim:
“Até hoje evitei me manifestar sobre política, MAS……”
E contido nesse “Mas…”, a perplexidade, o transbordar de um sentimento de indignação pela violência do evento, sua absoluta desnecessidade, o país enveredando pelas mãos de um juiz, psicopata, obsessivo, sem limite algum em sua sanha de massacrar o ex-presidente e sua família.
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Para mim esse divisor implicou em muitas apreensões da realidade política e a realidade das pessoas à minha volta, sua ética, seus preconceitos, seu ódio, a ingenuidade inacreditável de algumas dessas pessoas, e o mais deplorável de tudo, sua aparente INCAPACIDADE de um pensamento ético, digno, humano, coerente com seus valores íntimos, uma vez que não criticaram nem o juiz nem o seu crime, sua parcialidade óbvia, já que o atingido pela violência era o ser sobre quem depositam deu nojo, seu desprezo político, social, existencial: Lula!
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Escrevi vários posts sobre esse tema, porque segui meu impulso visceral de bloquear dezenas de amigos, alguns deles pessoas que ainda amo e admiro no que cabe, mas não podendo mais suportar a indigência mental e espiritual de alguns de seus posts e comentários. Comentei na ocasião que não tinha regras nem comportamento muito claros para mim, que seguia a intuição, o coração, e me espantava com os que tinham clareza absoluta na questão, uns jamais bloqueando qualquer amigo, outros bloqueando a todos os que apoiaram o golpe, até hoje não tenho limites claros, certezas óbvias, sigo tateando com dificuldade e conflitos esse tempo de sociedade FRATURADA a partir dos que aceitaram o discurso fácil dos preconceitos e do ódio, destilado pela grande mídia e reverberado com vigor pela sociedade.
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Essa semana li de novo posts sobre o tema, amigos tristes por bloquearem pessoas intolerantes, amigos afirmando sua postura de “não brigar por política”.
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Ouvi essa frase de alguns amigos a quem bloqueei: “Nossa!… me bloquear por causa de política? Não se estraga uma amizade por política…”
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E sempre que eu ouvia a frase fácil e cômoda, me dava uma preguiça danada de explicar que, de fato, “não se briga por POLÍTICA”, brigamos, alguns de nós (ou nos afastamos, como é a minha escolha…), APENAS QUANDO A AÇÃO POLÍTICA DAS PESSOAS, é uma ANULAÇÃO, UMA AGRESSÃO À POLÍTICA E AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DE TODO HOMEM!
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Bloqueei amigos de esquerda, que tinham praticamente 100% de semelhança com minhas ideologias e pensamentos políticos. Mas sua insistência em usar termos vulgares e grosseiros contra os antipetistas em geral, sem qualquer base intelectual para tanto, e o ódio de seus posts eram em tudo semelhantes ao ódio da turma da direita, que aquilo me fazia o mesmo mal.
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Portanto, as pessoas confundem o “não brigar por política”, com o não se incomodarem mesmo com os que demonstram preconceitos, ódio, fanatismo, e a perda de valores e princípios de vida que são basilares, os que têm uma ética seletiva, perversa, os que se alegram com o massacre de um homem e sua família, por não terem respeito HUMANO por aquela pessoa. Isso lá é “política”?!?
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O paradoxo inacreditável dessa turma, “os que não brigam por política” (sic….) é que em 99% das vezes a sentença é dita justamente pelos mais INTOLERANTES! Foram esses tais que criaram a FRATURA SOCIAL BASEADA EM PRECONCEITOS E ÓDIOS no nosso país. Foram eles que endeusarem Moro e cia., pela perseguição a Lula, Dilma, PT. Foram eles que PREFERIRAM o caminho tenebroso do GOLPE DE ESTADO, para afastarem Dilma, “a anta, a puta, a vaca”, e deixarem no poder a quadrilha de Temer, Aécio Neves, etc., foram eles sempre, a negarem a Lula o mais elementar dos direitos, o da presunção da inocência, foram eles, sempre, a se calarem, quando nossos líderes e artistas eram xingados nas ruas, hospitais, restaurantes, não li ou ouvi desses brasileiros “que não brigam por política”, uma crítica sequer a essa onda social fascista, perversa, intolerante, maligna……
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É de uma singeleza ou ingenuidade ou hipocrisia ímpares, “não brigar por política”, mas apoiar todo o processo social doentio que nos trouxe tantas fraturas sociais, um ambiente odioso, como NUNCA havíamos vivenciado.
Como é FÁCIL uma sentença em determinadas bocas….
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Com uma coisa ao menos, concordo com esses brasileiros, mas em outros termos: eu não brigo por política! Mas brigo contra a hipocrisia, a falta de ética, o fanatismo, o ódio, a intolerância, as incoerências óbvias, os abusos de poder dos agentes públicos, a violência, onde quer que estejam.
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(eduardo ramos)

Redação

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