O panelaço, a politização da inveja e a ascensão da mediocridade

As eleições já acabaram. De um lado estão os vitoriosos, que foram empossados nos cargos lhes atribuídos pelo povo soberano. De outro estão os virtuosos, aqueles que perderam a disputa, reconheceram a derrota e se preparam para a eleição de 2018. Entre uns e outros estão aqueles que são corroídos dia e noite pela inveja. Eles não ganharam as eleições e são incapazes de admitir a derrota e querem destruir o regime constitucional.

“A inveja é uma adoração dos homens pelas sombras, do mérito pela mediocridade. É o rubor na face sonoramente esbofeteada pela glória alheia. É o grilhão que arrasta os fracassados. É a amargura que toma conta do paladar dos impotentes. É um venenoso humor que emana das feridas abertas pela desengano da insignificância própria. Mesmo não querendo padecem deste mal, cedo ou tarde, aqueles que vivem escravos da vaidade; desfilam pálidos de angústia, torvos, envergonhados de sua própria tristeza, sem suspeitar que seu ladrido envolve uma consagração inequívoca do mérito alheio. A inextinguível hostilidade dos néscios foi sempre o pedestal de um monumento.” (O Homem Medíocre, José Ingenieros, Edicamp, 2002, p. 179)

Um pouco adiante o autor afirma que a inveja:

“É paixão traidora e propicia a hipocrisia. Está para o ódio como a gazua para a espada; empregam-na os que não podem competir com os invejados. Nos ímpetos de ódio, pode palpitar o gesto da garra que, num desesperado estremecimento, destroça e aniquila; no sub-reptício repto da inveja, apenas se percebe o arrasto tímido do que busca morder o calcanhar.”  (O Homem Medíocre, José Ingenieros, Edicamp, 2002, p. 183)

O panelaço contra Dilma Rousseff, praticado por aqueles que tem geladeiras e freezers cheios e que nunca passaram ou passarão fome, revela apenas uma coisa: a oposição viciosa conseguiu politizar a inveja.

A classe média adora comer fora, quando não faz isto, devora avidamente a comida pronta que estava congelada. Numa casa de classe média paulistana típica as panelas são apenas decoração numa cozinha dominada pelo micro-ondas. As panelas vazias batidas nas ruas são um símbolo da fome e, portanto, uma legítima manifestação do povo. A classe média odeia panelas sujas e desdenha o povo do qual sempre tentou se distanciar quer porque se considera superior quer porque não pretende se igualar aos subalternos.

Ao copiar o povo nas sacadas dos seus apartamentos, entretanto, os invejosos cometeram um ato falho. Eles se igualaram ao povo sim, mas por falta de imaginação. Se fossem autênticos os autores do panelaço teriam batido embalagens de comidas congeladas. Caso fossem realmente sofisticados teriam batido latinhas de Caviar Beluga. O ato falho praticado  derrotados pode ser creditado à própria natureza auto-punitiva da inveja, que já na mitologia greco-latina foi representada:

“…com uma cara de velha horrivelmente fraca e exangue, coberta a cabeça de víboras em vez de cabelos. Sua mirada é áspera e os olhos afundados; os dentes negros e a língua untada com peçonhas fatais; com uma mão segura três serpentes, e com a outra uma hidra ou uma tocha; incuba em seu seio um monstro réptil que a devora continuamente e lhe instila seu veneno; está agitada; não ri; o sono nunca cerra a pálpebra sobre seus olhos irritados. Todo sucesso feliz a aflige ou atiça sua angústia; destinada a sofrer, é o verdugo implacável de si mesma.(O Homem Medíocre, José Ingenieros, Edicamp, 2002, p. 182/183)

O humor foi a arma dos que foram brutalmente derrotados pela Ditadura em 1964. O amargor parece ter dominado a vida dos invejosos que não se conformam com uma derrota limpa e democrática em 2014. Eles agora batem panelas que não usam, reclamam da fome que não sentem e se expõe ao riso e à execração pública politizando a inveja. De fato eles não sabem o que fazem. Mas se fizerem mais do que panelaços terão que ser contidos na forma da Lei. O país não pode parar por causa dos invejosos, o Estado não pode deixar de reconhecer a virtude daqueles que foram empossados nos cargos eletivos e a Polícia deverá combater as violências que forem eventualmente cometidas.

Aqueles que ousarem expandir seu ódio auto-destrutivo nas ruas, que tentarem destruir aqueles que, com justiça, riem daqueles que são devorados pela própria inveja, terão que responder pelos crimes que cometerem. O maior crime que eles cometem, porém, ficará impune. Afinal, ninguém pode punir os medíocres que expandem e alimentam em público sua própria mediocridade.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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