O paradoxo do machado que só dá em Chico

Quando o pensamento único do antipetismo se transforma em uma piada de mau gosto.

Um convidado trapalhãoOs procuradores do Ministério Público que atuam na Operação Lava Jato não são o Dr. Simão Bacamarte, mas, assim como o personagem inventado por Machado de Assis, a certa altura da vida passaram a enxergar no mundo somente dois tipos de pessoa.

Para o médico de “O Alienista”, havia os loucos e os sãos; para os procuradores, há os defensores intransigentes da Lava Jato e os inimigos do Brasil. Entre as categorias, nenhuma nuance.

Quando Bacamarte decidiu levar suas ideias ao extremo, ampliando desmesuradamente o território da loucura, quatro quintos da população de sua Itaguaí terminaram enclausurados no manicômio local.

“A Operação Lava Jato não tem nada a ver com a moralização da Petrobras”, já ensinaram alguns agentes da Lava Jato. “É para tirar o país das mãos de uma organização criminosa infiltrada no governo federal – o PT”.

No maniqueísmo da Lava Jato, todo projeto do governo está a serviço da corrupção. E o combate à corrupção não tem valor se não afetar administrações do PT — pois integrará, nesse caso, um plano para debilitar os únicos defensores da soberania nacional – o Judiciário. Foi assim durante o mensalão, é assim no petrolão.

Em vez de fomentar a autocrítica dentro meio jurídico que representa, a força-tarefa da Lava Jato premiada pela Global Investigations Review (GIR), na categoria “órgão de persecução criminal ou membro do Ministério Público do ano” propõe ações que redundam em puros disparates. Com suas simplificações risíveis, seus integrantes, considerados uma referência para a investigação criminal, pouco ajudam e muito atrapalham a causa em que acreditam.

No conto “O Alienista”, após muito refletir sobre suas teorias, o médico curvou a cabeça e recolheu-se ele próprio ao manicômio. A Lava Jato não é Simão Bacamarte, mas, se considerar bem o estrago que tem provocado à governabilidade, estrago que contribuiu em muito para criar o clima que permitiu um governo Michel Temer, talvez venha a acusar a si própria de estar a serviço dos corruptos — sabe-se lá se treinada pelo FBI.

PS1: se você considerou o texto acima como parcial, raso e injusto com  a Operação Lava Jato em toda a sua complexidade e desdobramentos, está coberto de razão. O texto é tudo isso. Mas não é meu. É de um colunista convidado da Folha de São Paulo e se refere à professora Marilena Chauí.

Apenas mais um da série ”o diabo chama Chauí”. Não sei o que se passava na mente do “colunista convidado” quando associou Chauí com pessoas trancafiadas, não sou alienista, mas é interessante notar-se como basta a alteração dos nomes, sem alterar o argumento, para que as bacamartices pareçam mais próprias a Lava Jato do que à professora.

PS2: este fim de semana, a Oficina de Concertos Gerais e Poesia estará patrocinando uma sessão do filme de Peter Sellers “Um convidado trapalhão”.

Redação

1 Comentário

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  1. Lava Jato e democracia

    E continua aumentando a roda de bobos que imaginaram que a Lava Jato era algo para salvar o Brasil. O aplauso ensandecido se tornou cumplicidade.

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