O perigo da revolução

Nos romances e nos filmes, por uma necessidade da narrativa, do espaço ou do tempo, a ação se concentra no protagonista. Tudo que ocorre aparenta emanar da personalidade dele. Nenhum imprevisto o distancia de seu objetivo. Natureza e contexto social conspiram para que o protagonista consiga o que deseja como se a vontade dele estivesse predestinada a se impor aos demais ou através deles.

A realidade é bem mais mais complicada. O contexto geralmente se impõe de maneira avassaladora aos seres humanos. Numa situação de conflito, o predomínio de um ou outro geralmente independe da vontade dos atores políticos. Mesmo quando procuram parecer controlar o sentido e o resultado dos acontecimentos eles são carregados nos braços da história ou por ela descartados.

Isto pode ser visto no passado recente do nosso país. Em 1972 a esquerda brasileira estava completamente destruída. Os líderes da resistência que não haviam sido mortos ou presos estavam exilados. Sob censura, a imprensa se resignava a ser porta voz oficiosa dos feitos do regime militar. A euforia havia tomado conta do Brasil. A Copa do Mundo alegava o povo. O milagre econômico alegrava os empresários. A queda do desemprego e a repressão aos sindicatos garantiam uma aparência de harmonia.

Um ano depois o edifício ditatorial, que parecia sólido e inabalável, começaria a ruir em razão da crise do petróleo. O milagre econômico se encerrou, o país se endividou e a inflação cresceu. Em 1974 a oposição começou a derrotar a situação nas urnas. Os empresários perderam a confiança no futuro, os militares começaram a fazer truques para represar aumentos salariais e em pouco tempo o sindicalismo ressurgiu para se tornar uma força política avassaladora que exigiria a abertura lenta, gradual e segura.

O contexto deixou de favorecer os militares como alguns anos antes favorecia menos ainda a esquerda. Os atores nacionais foram se ajustando aos novos papéis, mas nenhum deles pode ser considerado o principal arquiteto ou responsável pela demolição do edifício ditatorial. Uma decisão da OPEP afetou profundamente a vida econômica e política do Brasil, mas aqueles que a tomaram provavelmente nem levavam a situação do nosso país em questão. O que os países produtores queriam era aumentar a receita com o petróleo. O que eles produziram aqui foi apenas um efeito colateral indesejado.

Os líderes da oposição, talvez influenciados pelos romances e pelos filmes, agem como se pudessem impor sua vontade à nação. Alguns parecem acreditar que podem destruir o PT. Outros parecem acreditar que o poder emana das suas próprias ações. A atenção e a cobertura favorável dadas pela imprensa reforçam a ilusão. O contexto, todavia, é benéfico aos petistas.

O Brasil está no seu melhor momento desde que a Colônia inundou a Europa de ouro. Um país não pode ser forçado a escolher entre fartura e fartura ou entre fartura e incerteza. Esta é uma escolha que não faz sentido. Também não faz sentido tentar obrigar o país escolher entre a depressão dos derrotados que não se dão por vencidos e a realidade do emprego, da renda, da inclusão social e das compras nos Shoppings.

O contexto não era favorável à esquerda no final da década de 1960, deixou de ser favorável aos militares em meados da década seguinte. Por excesso de otimismo e de ódio ou carência de medo, alguns líderes da esquerda ousaram lutar e só conseguiram uma coisa: reforçar as estruturas repressivas do poder militar. Quando foram pressionados pelo contexto, os militares começaram a recuar lentamente e em segurança para dentro dos quartéis não sem se cercar de garantias contra represálias judiciárias da oposição.

Coléricos, deprimidos e arrogantes, os tucanos procuram desesperadamente chegar à presidência pela via curta e já começam a irritar os petistas. Se cometerem o erro de forçar demais a barra, eles só conseguirão uma coisa: reforçar a união dos petistas em torno da presidenta, do PT e dos seus líderes e estes certamente se aproximarão mais e mais dos militares legalistas. Em caso de violência organizada protagonizada por tucanos, o resultado será uma nova revolução. Mas esta não se dará sob o comando das elites tradicionais e certamente ocorrerá em prejuízo do PSDB/DEM/imprensa. A conferir.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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