O povo não aceita mais ser escravo de ninguém, por Laurez Cerqueira

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Riotur

Por Laurez Cerqueira

A escravidão sempre foi um assunto indigesto nos salões iluminados 

A decisão de decretar a intervenção militar no Rio de Janeiro aconteceu imediatamente depois do forte impacto, na opinião pública, do desfile da escola de samba Paraíso do Tuiuti, e da faixa afixada na entrada da comunidade da Rocinha com um aviso ao Supremo Tribunal Federal que se Lula for preso o morro vai descer.

Não só a Rocinha pode descer, mas todas as comunidades do país podem ocupar as ruas, desarmadas. Basta pararem os carros nas ruas e avenidas, nas estradas, num trancaço nacional, ocuparem aeroportos, fazerem uma greve de transportes, e muitas outras ações de protesto contra as injustiças e a opressão.

O povo não aceita mais ser escravo de ninguém.

Na semana retrasada Jair Bolsonaro, diante de uma plateia de banqueiros nacionais e estrangeiros, num seminário, disse, como um cão de guarda dos milionários, eivado de ódio de classe, que se eleito metralharia, de helicóptero, a comunidade da Rocinha.

Até quando as forças armadas e policiais vão ser adestradas em cursos de formação, nas tais academias, e usadas pelos de cima para manter a ordem estabelecida por banqueiros, grandes corporações empresariais nacionais e estrangeiras, para proteger, a rapinagem, seus negócios, seus patrimônios, e reprimir, atacar os de baixo, as comunidades pobres, excluídas, os trabalhadores explorados pelo patronato de um sistema capitalista corrupto? Até quando?

Quando as denúncias do golpe de Estado e da escravidão despontaram dos bastidores da escola de samba Paraíso do Tuiuti e explodiram em sete cores na avenida, iluminando os quatro cantos do Brasil, como sol do meio dia, romperam-se as trevas.

O senhorio ficou em pânico. As redes de mídia construídas por magnatas parasitas da corte, desde os tempos coloniais, para dar sustentação à história oficial, contada pelos seus narradores de plantão nos meios de comunicação, não resistiram ao desfile da escola de samba.

A dramática situação do povo brasileiro, as mazelas históricas foram estampadas nas telas do mundo.

Em fevereiro tem carnaval, mas o Brasil, bonito por natureza, parece não ser mais abençoado por Deus. Talvez Deus nem seja mais brasileiro.

O “Vampirão”, representante de outros vampiros que sugam as riquezas, a força de trabalho e a renda dos brasileiros, foi mostrado como usurpador do poder. Gente das trevas, de rabo e chifre, exposta na avenida com  estética apropriada.

A escravidão sempre foi escamoteada, um assunto difícil de ser tratado nos salões iluminados. Imagine na avenida, diante das câmeras das TVs das grandes redes internacionais e dos celulares. A hipocrisia foi despida, clareou a formação econômica, social, cultural e política do Brasil, que o senhorio não suportam ver.

Misturado ao turbilhão de notícias que desaparece todos os dias no túnel do tempo, uma nota escapou das páginas dos jornais informando que terça-feira, dia 06, funcionários do Departamento de  Justiça dos Estados Unidos e agentes do FBI, realizaram na Câmara de Comércio Internacional, em São Paulo, um evento fechado à imprensa, para discutir a Operação Lava-Jato e os próximos passos. Há suspeita de que a reunião foi para passar instruções.

A intervenção militar no Rio parece ter sido apoiada por um grupo restrito de oficiais ligados ao chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, simpáticos à candidatura de Bolsonaro. Para os demais oficiais, talvez seja constrangedor ser comandado por Michel Temer, acusado de ser membro de uma “organização criminosa”, segundo o relatório da Polícia Federal.

Uma organização criminosa que deu um golpe de Estado, se instalou no Palácio do Planalto, no Senado, na Câmara, nos ministérios, sob proteção do STF, que engavetou o pedido de anulação do criminoso impeachment da Presidenta Dilma.

Participaram da reunião que decretou a intervenção: Michel Temer,  comandante supremo das forças armadas, que está um pote até aqui de mágoa com a escola de samba Paraíso do Tuiuti, por expor na avenida o “Vampirão” e o golpe, sob luzes tão fortes, para o Brasil e o mundo verem; Temer, Moreira Franco,  Eliseu Padilha, que junto com os deputados Aloísio Alves, Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima e suas malas de dinheiro, são acusados, no relatório da Polícia Federal,  serem membros de uma organização criminosa denominada pelos investigadores “longa manus”; o presidente do Senado, Eunício Oliveira, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, também acusados e investigados por corrupção; e o Ministro da Defesa, deputado Raul Jugmann, que está na lista da Oderbretch, e não apita nada nas forças armadas.

O senador Romero Jucá, também acusado de integrar a organização, mandou recado para Temer, propôs a criação do Ministério da Segurança, talvez para esvaziar os órgãos existentes, e ajudar a estancar as investigações dos esquemas de corrupção deles.

Ou seja, depois de impor o drástico corte de recursos, com o congelamento dos investimentos públicos por 20 anos, levar estados  e municípios à falência e o país a uma dramática crise econômico-financeira, Temer e sua organização determinaram intervenção militar no Rio de Janeiro e quer transformar a ocupação num grande espetáculo para as câmeras de TV, e  tentar conquistar apoio para as candidaturas deles nas eleições deste ano.

O ano avança rumo às urnas, o golpe afunda sem candidato, sem projeto, e a percepção da sociedade se amplia para as camadas mais pobres, segundo pesquisas.

Esse drama tira o sono dos conspiradores do golpe, de banqueiros, do empresariado do grande capital.

Com que cara e discurso o candidato irá às eleições? Vai defender o governo Temer, a reforma trabalhista, a lei da terceirização, a reforma da previdência, a subtração de direitos dos trabalhadores, as privatizações de empresas de energia, dos bancos públicos, da escola e da saúde públicas, a retirada do controle da produção do petróleo e gás do Pré-sal, da Petrobras, e a entrega para grandes corporações estrangeiras, a lei da venda de extensões ilimitadas de terras a estrangeiros, a reforma das leis ambientais, a liberação de agrotóxicos banidos, o aumento da gasolina e do gás?.

Por isso estão sem candidato e querem se manter no poder a qualquer custo, para continuarem com seus negócios. Com Supremo, com tudo, e se necessário com as forças armadas e policiais como sempre foi, na história do Brasil.

Mas o povo percebe o jogo e quer Lula presidente.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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