O pretexto de Luiz Fux para esmagar a internet em favor do monopólio da notícia, por J. Carlos de Assis

Por J. Carlos de Assis

Não  é apenas de militares e de seus fâmulos que vem o apelo profundo, na  sociedade brasileira, por uma ditadura. Vem principalmente de civis politicamente degenerados, como é o caso deste ministro do Supremo, Luiz Fux, defendendo abertamente a censura à internet a pretexto de combater as fake news. O que se esconde por trás do recente discurso do ministro nesse sentido é o servilismo absoluto à grande mídia, especialmente à TV Globo e aos outros dois jornalões do oligopólio da imprensa escrita, incomodados com o fato de que suas fake news, esta sim, sejam submetidas ao escrutínio  de blogs, sites, face books, twetters.

O ministro arrolou como aliados na sua guerra sagrada contra as fake news a própria grande imprensa e os partidos políticos. É o caso de chamar todos os bandidos bem sucedidos do país a integrar uma força tarefa contra o crime. Se sua afirmação na palestra é um indício de decisões futuras do Supremo Tribunal Federal, é o caso de se promover o fechamento imediato desse tribunal em nome da verdadeira liberdade de imprensa garantida pela Constituição. Não há dúvida de que fake news incomodam leitores inocentes. Entretanto, não se joga o bebê pela janela junto com a água suja do balde.

A internet livre é a única defesa do cidadão  contra a manipulação da grande mídia, especialmente entre nós. No caso da Globo, uma virtual monopolista da informação no Brasil, estamos todos sujeitos a manobras políticas de interesse da empresa e contrárias ao interesse público. Veja esse fenômeno de circo que criou sob a rubrica de “que futuro você quer para o Brasil?”: milhares de cidadãos bem intencionados mandam seus vídeos para a emissora, que, sem controle externo, escolhe aqueles que quer por em circulação. Naturalmente, não mexem no conteúdo. Mas simplesmente escolhem os conteúdos que interessam.

No sistema Globo, pela minha experiência pessoal, nem sempre foi assim. Escrevi uma coluna de economia política no Globo por quase um ano. Nunca recebi qualquer ordem ou recomendação de Roberto Marinho para abordar ou deixar de abordar qualquer tema. Não tive contato pessoal com os herdeiros, exceto uma breve conversa com o que me parecia ser o mais bem preparado dos três. Entretanto, pelo que o jornal e tevê põem em circulação, simplesmente deformaram o sentido que Roberto Marinho tinha da notícia – tanto que gostava de ser chamado de jornalista, não de doutor, como faziam os puxa-sacos.

Em algum momento, em futuro que espero não muito distante, a estrutura do sistema de comunicação no Brasil deve ser reformada. Será uma reforma mais importante que a reforma política. E não passa absolutamente pela introdução da censura. Basta copiar o sistema norte-americano, no qual jornal não pode ser dono de tevê ou rádio, tevê não pode ser dona de jornal ou rádio, e rádio não pode ser dono de jornal ou tevê. Isso entre nós será pouco traumático, já que o sistema Globo tem três  herdeiros, podendo cada um assumir a sua parte. Algo assim aconteceu na reforma da mídia argentina, com maior traumatismo.

Essa estruturação não é um capricho. Na verdade, é conseqüência do gigantismo do sistema Globo, originalmente pela competência e habilidade de Roberto Marinho de ocupar um espaço não regulamentado. Houve nesse processo situações que ilustram bem os riscos do monopólio. O Jornal do Brasil era, de longe, até os anos 70, o principal jornal de opinião do Brasil, bm à frente do Globo. Mas o Globo tinha televisão, e pela propaganda na tevê  abocanhou a principal fonte de recursos do JB, o pequeno anúncio. Desde então o Globo avançou e o Jornal do Brasil decaiu até acabar – e ser ressuscitado agora num novo formato.

De forma sutil, a tevê Globo promove o  “seu” jornal selecionando (ou ignorando) a repercussão das “notícias” que saem nele próprio e em seus concorrentes. Com isso esmaga a concorrência, e apenas não a mata por completo, no jornalismo, porque Estadão e Folha de S.Paulo ainda conseguem ser estruturas fortes. No caso das televisões, a Record é um empreendimento financeiro-religioso. Já Bandeirantes e Sílvio Santos partilham o medo ou a incompetência para concorrerem com a Globo. A solução portanto é simples: colocar os Marinho, herdeiros do único competente no jogo, a concorrerem uns contra os outros. E com isso estará criado um mercado concorrencial de notícia, em total prejuízo das fake news!

Redação

5 Comentários

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  1. A comunicação é cartel. Dividir um pouco mais é ilusão.

    Esta receita do Assis não funciona. Nos EUA e na Europa há regulamentação da mídia nos moldes que o Assis sugere e não adianta nada. Lá a comunicação é um cartel que atente aos interesses neoliberais da banca e grandes corporações. Em termos de política internacional, os média são pró-ocidente e contra a independência do sul global, atendendo aos interesses do grande capital que os financia.

    No Brasil temos 6 grupos de comunicação com boa difusão: Globo, SBT, Record, Folha, Abril e Estadão. Apesar de algumas diferenças, nenhum sai do script do jornalismo mainstrean, subordinado à cosmovisão neolibeal e atendendo aos interesses do grande capital.

    Agora temos o Google e o Facebook entrando no mercado mundial de mídia, mas não mudam nada em termos de lado ideológico e cartelização. Apenas têm a ambição de serem líderes do cartel.

    Dividir um pouco mais o mercado de comunicações, com proibição de propriedade cruzada não vai, portanto, resolver o problema do cartel. Uma comunicação pública forte seria uma solução melhor, apesar de que, na Inglaterra, a BBC também compõe o cartel midiático ocidental, como nos mostra o Wikiliaks.

  2. Quando a vergonha que prender

    Quando a vergonha que prender a liberdade e a verdade o povo tem que se insurgir contra esse tipo de maldades…

  3. animal de estimação

    Penso que enquanto existir uma justiça que se rasteje e se humilhe vergonhosamente em total submissão a grande mídia e a elite dominante, a população jamais terá uma justiça corajosa, justa, verdadeira, imparcial, isenta, honrada, ética, honesta, leal, ilibada e apartidária. Todos os desvios de honra, de ética, de caráter e de honestidade praticados por autoridades de qualquer que seja o poder, para mim, serão considerados como a prova da corrupção a que se permitem submeter, de forma desavergonhada, ao sistema dominante e de maior poder. Então, por conseguinte, imagino que com a covarde, omissa e submissa atuação do poder que deveria exercer sobre aqueles que a dominaram, a justiça estampa para o mundo, a prova que faltava de uma prática, ainda que indereta, da inconsequente apologia ao crime,desde que praticados contra aqueles que sejam adversários do poder maior da elite dominante.

     

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