O primeiro cronista do Rio

Rua do Ouvidor

Da Folha – Ilustrada – 05/02/2011

Livro com textos publicados em jornais do século 19 revela a faceta menos conhecida de Joaquim Manuel de Macedo , autor de “A Moreninha” . Em crônica da “Revista Popular”, no início dos anos de 1860, ele já lamentava as enchentes em Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis. Em outra, no “Jornal do Commercio”, abordava a ocupação desordenada no bairro de Santa Tereza.

MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO

Quando se fala em Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882), logo se pensa no livro “A Moreninha” -e não faltam motivos para isso.
Macedo certamente não foi o melhor romancista brasileiro, mas coube a ele inaugurar o gênero entre nós. Era um estudante de medicina de 24 anos quando publicou o romance, em 1844. A história de amor de Carolina e Augusto protagonizou ainda outro feito: ser o primeiro best-seller brasileiro. Ainda que pouco lido nos dias de hoje, “A Moreninha” fez dele uma referência histórica. Macedo, contudo, não se resume ao romance.

E “A Moreninha” nem mesmo foi o que de melhor ele escreveu, afirma a pesquisadora Michelle Strzoda.
Strzoda lança o livro “O Rio de Joaquim Manuel de Macedo”, em que reúne o que considera o principal legado do autor: as crônicas publicadas nos jornais cariocas por mais de 30 anos.
“Antes de Macedo, não encontrei registro de crônicas de jornal com a mesma repercussão. Praticamente ele formatou o gênero”, diz ela. Quando morreu, Macedo era um dos nomes mais conhecidos da imprensa. Repetindo a receita de “A Moreninha”, as crônicas unem linguagem simples e comentários sobre o cotidiano que fascinaram os leitores.
Ler os textos em conjunto não deixa de ser um mergulho na vida do Rio de Janeiro durante o Segundo Reinado.
“S. João do Itaboraí”, a primeira crônica assinada por Macedo nos periódicos cariocas, é de 1846. Saiu no jornal “Ostensor Brasileiro” e faz uma ode à cidade natal do autor, no interior do Estado.
Macedo sempre cantou as belezas do Rio, mas não fechou os olhos para os problemas da capital do Império.
Em crônica da “Revista Popular”, no início dos anos de 1860, ele já lamentava as enchentes em Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis.
Em outra, no “Jornal do Commercio”, abordava a ocupação desordenada no bairro de Santa Tereza.
Também sobram farpas para os altos impostos, a má gestão dos recursos públicos e a atuação da polícia. E, já em 1860, causava angústia ao cronista não ter tempo de ler todos os jornais que circulavam na capital.
“Macedo é mais interessante como homem de imprensa do que como romancista. A ficção dele ficou um pouco datada. Já as crônicas são ainda muito atuais”, conclui Strzoda.


O RIO DE JOAQUIM
MANUEL DE MACEDO

AUTORA Michelle Strzoda
EDITORA Casa da Palavra
QUANTO R$ 65 (720 págs.)
LANÇAMENTO 8/2, às 19h, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro (r. Afrânio de Melo Franco, 290; tel.0/xx/21/ 3138-9600)


Imagem: Marc Ferrez

Rua do Ouvidor (RJ) em 1890, tema de muitas crônicas de Macedo

Redação

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