O que a oposição precisa saber sobre o “maior evento conservador” do Brasil

Eduardo Bolsonaro usa CPAC para incentivar a criação de novos grupos de direita e orientar o trabalho da militância virtual e orgânica, de olho já na eleição de 2020

Jornal GGN – Eduardo Bolsonaro (PSL) importou dos Estados Unidos para o Brasil o CPAC, sigla em inglês para Conferência de Ação Política Conservadora. Realizado em São Paulo no último final de semana, o evento mais parece um preparatório já para as eleições de 2020.

O encontro foi frequentado por dezenas de grupos de direita organizados principalmente por jovens em diversas cidades. Eduardo fez questão de mencionar alguns no interior de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, além das capitais. E não à toa.

Frisando a “proatividade” e “espontaneidade” de seus fundadores, Eduardo tomou esses grupos como exemplo de como deve funcionar a militância conservadora: de maneira orgânica, sem assessoria, respaldo direto ou consentimento de políticos e partidos.

“(…) Por isso o CPAC está aqui, para a gente se organizar. Para daqui saírem ideias. E não precisa ninguém falar qual é a missão. Cada um, individualmente, toca seu barco. Olavo de Carvalho não esperou ordem de ninguém, e hoje o que ele fala lá dos Estados Unidos, mexe aqui no Brasil”, disse Eduardo, tomando o autoproclamado filósofo como exemplo de como a internet é campo fértil para quem busca ser influente na política.

Em outro passagem, Eduardo citou outra frase atribuída a Olavo: “O poder da ação individual é enorme, desde que você tenha a cara de pau de agir.” E emendou: “Você não precisa de um sinal, corre atrás, faz o seu. Pensem em formar redes de contatos e tenham proatividade.”

Eduardo apelou o tempo todo para que a “tia do WhatsApp” seja a figura no imaginário da militância que precisa ser mantida ativa, em apoio a todo projeto conservador, cuja pauta deve ser o combate à descriminalização do aborto e à ideologia de gênero nas escolas, o armamento da população, o marxismo cultural nas universidades e, claro, impedir a volta do PT ao comando do País.

O PT segue eleito como inimigo permanente da direita conservadora porque é fácil incitar e canalizar o ódio e a revolta das pessoas em relação à legenda. São esses os sentimentos que Eduardo espera que funcionem mais uma vez como combustível para a militância nas próximas eleições.

“Esse foi um dos ingredientes que levou à eleição do Jair Bolsonaro: a revolta. Quando a gente está revoltado, o que a gente faz? A gente fica até meia-noite compartilhando vídeo do nosso candidato favorito”, apontou.

MANUAL DO “CONSERVADOR”

Eduardo ainda abordou com os participantes do CPAC Brasil outros itens do manual do conservador.

Ensinou, por exemplo, que não cabe “discussão racional” com quem critica o bolsonarismo com argumentos. Estes devem ser respondidos com “deboche e memes”.

Os conversadores devem também se informar pelos canais “corretos”: Conexão Política, Renova Mídia, Crítica Nacional e Terça Livre.

“Se não falar um pouco de política, se informar pelos meios corretos e ficar até as tantas para mandar aquele Whatsapp ou aquele meme, os maus vão te governar”, alertou Eduardo.

O filho do presidente disse expressamente que o CPAC não é o Foro de São Paulo com sinal trocado porque ali não há “sede de poder”. Mas discutir como a autocomunicação de massa continuará sendo usada a favor do bolsonarismo – já em 2018, a máquina pode ter incorrido em crime eleitoral, segundo revelações da Folha de S. Paulo – foi tudo o que o parlamentar fez durante o evento.

A explanação de Eduardo mais que resume as diretrizes do que será a eleição de 2020, a depender da ala à direita: militância orgânica e virtual, desconectada da realidade factual e propensa a disseminar ataques a adversários e infantilizar o debate com quem tiver o mínimo de senso crítico.

Nada que a oposição não tenha visto em 2018. A dúvida é: como reagirá dessa vez?

Redação

8 Comentários

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  1. Ver/ouvir a falação de Damares é fundamental para conhecer quem está no governo.

    A falação, durante o Conservative Political Action Conference, foi elogiada pelas alas da direita.

    Logo nos primeiros minutos, Damares se supera ao dizer

    “Estou aqui há 24 horas e ninguém me ofereceu ainda um cigarro de maconha e nenhuma menina introduziu um crucifixo na vagina.”

    Destaque para a palavra AINDA 🙂

    https://youtu.be/OXUbeImv34k

  2. Eu tenho escassas esperanças de que a esquerda partidária aprenderá a enfrentar a ascensão dessa fascistada. Não se mancaram até agora, é porque não tem jeito. Nao vao mesmo conseguir montar uma estrutura minima de comunicação para contrastara boçalidade e a mentira. Vão continuar com o “textao” academinco, as teses, os slogans, as palvras de ordem…

    O texto termina mencionando o ano de 2018, mas a coisa vem pelo menos de 2014, quando quase perderam a eleiçao, e as baterias da direita (que se diz de “centro”) permaneceram ativas, desembocando na desmoralização e derrubada do PT, PT, PT.

    Para ser mais exato, o golpe começou mesmo a ser posto em ação em 2012…Mas… deixa pra lá.

    1. Finalmente alguém que viu o mesmo que eu vi: o golpe começando em 2012. Com o julgamento de exceção comandado por Joaquim Barbosa, né? Foi o primeiro passo na derrubada do estado de direito. Abriu-se a porteira e, por ali onde passou um boi, foi pasando a boiada nos anos seguintes. Se não fizermos o que os equatorianos fizeram, não adianta esperar justiça do STF ou de qualquer outro tribunal de um judiciário golpista, corporativo e lambuzado nas práticas sem rédeas da exceção. O Supremo pode retaliar a Lava Jato por suas ousadias contra ministros, mas se anularem a senteça de Moro, não se iludam, vem outro juizinho e condena ele outra vez. Só quem poderia tirar Lula da prisão seria o povo, mas não se espere esse tipo de grandeza do brasileiro. Ô povinho invertebrado somos nós. Uma tristeza, viu? Queria ser equatoriana.

  3. Conhecendo mais ou menos estra gente vejo q grande parte do sucesso se deu entre os menos favorecidos de tudo. A grande maioria é fudido. Destes fudidos a maior parte é segurança de qualquer coisa. Esta gente se empoderou e achou, pela ignorância, q estariam em um nível parecido daqueles a quem prestam serviço. Estes ainda nutrem esperança. Os demais imbecis estão perdidos pelo simples fato de que ficaram mais pobres do q já eram e isso será decisivo na próxima eleição. A situação econômica ditara rumo de 2020. Estes idiotas não serão mais novidade.

  4. Os bordões repetidos como verdade absoluta foram tantos que chegaram ao esgotamento…
    acredito que não vai funcionar em 2020 e muito menos em 2022

    PT precisa mostrar ao povão que estes fascistas não são otimistas com relação ao futuro, só com relação ao passado

    além do mais o passado recente de todos eles politicamente é lixo puro, crimes financeiros, governo paralelo das milícias em praticamente todas as cidades, enfim, um passado cheio de contradições que eles mesmos criaram e sem ninguém do povão que tenha sido beneficiado com este governo zoneado

    até os que acreditaram que seriam beneficiados já estão caindo na real, evitando os tais bordões idiotizantes

  5. Nao precisa muito, basta observar a derrocada da direita na Argentina. Ali existirão lições suficientes.
    Contudo acho que no Brasil será mais fácil dado o grau de imbecilidade destes ora no governo. Observe-se que precisa ser desprovido de qualquer racionalidade alguem que, como esta insana da damares, declara o que é relatado pelo leitor acima sobre prática sexual com um crucifixo.
    Quanto a maconha até recomendo a esta maluca pois, quem sabe, doidona de novo ela não bate outro papo cabeça com Jesus na goiabeira.

    1. Não me iludo pensando que o está acontecendo na Argentina vai ocorrer aqui.
      O povo argentino é muito diferente do povo brasileiro.
      Isso em inúmeros aspectos que influenciam a reação popular e a das classes médias:
      – A população indígena e negra é muito menor. Usar o racismo embutido nos odientos e ignorantes para dividir a sociedade, como foi feito aqui, não têm a mesma repercussão.
      – Não existe (ao menos ainda) uma grande massa de neopentecostais facilmente manobráveis.
      – Os mais velhos sabem o risco de um governo do tipo autocrático/militar e, mais importante, os mais novos foram conscientizados sobre isso.
      – O grau médio de instrução e politização é bem maior lá.
      – Eles são mais “mercuriais”, o que é um antídoto contra o acomodamento, a apatia e o bunda-molismo (nosso mal essencial). Talvez seja a mesma diferença de temperamento existente entre espanhóis e portugueses.

  6. Nada adianta se o povão (uns 180 milhões de brasileiros) não sentir melhoras no seu dia à dia. Acaba por se esgotar. Não tem jeito: se aperta o bolso, o povo busca outra alternativa. Não importa qual, não importa ideologia. Não importa partido. Não importa lado.

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