O que realmente sobrou do pós-guerra?

A I Guerra Mundial foi em grande medida uma Guerra Europeia. A II Guerra Mundial provocou destruição e dor em três continentes (Europa, África e Ásia) e afetou até mesmo a América Latina e a Oceania. Ao fim deste conflito épico com dois imensos cogumelos nucleares “made in USA” no Japão deu início à Guerra Fria entre os vitoriosos. Após negociações multilaterais intensas que resultaram numa série de acordos internacionais a arquitetura do pós guerra foi criada e começou a funcionar.

71 anos depois muito pouco restou dos acordos originais.

O padrão ouro foi abandonado pelos EUA na década de 1970. Durante um curto período o tamanho e a vitalidade da economia norte-americana garantiram a credibilidade do dólar. Atualmente a moeda dos EUA só tem uma garantia: a máquina de guerra do Tio Sam e a sua disposição de utilizá-la.

O Estado de bem estar social com garantia de pleno emprego, direitos trabalhistas e previdenciários, sindicatos fortes e possibilidade de aquisição de novos benefícios foi desmantelado na década de 1980 nos EUA e na Inglaterra. Nos demais países da UE, em decorrência da adoção do neoliberalismo e da crise produzida pelo mercado em 2008, na atualidade o Estado de bem estar social só consegue produzir duas coisas: desemprego e desespero.

A URSS desmoronou tão rapidamente quando o Muro e Berlim foi demolido. A Alemanha Oriental foi engolida pela Ocidental. Diversos conflitos étnicos reprimidos pelos soviéticos explodiram sem controle.

A regulação do mercado financeiro e a limitação dos fluxos de capital entre bancos de  países distintos começaram a ser eliminadas nos anos 1980 e praticamente deixaram de existir nos anos 1990. A irracionalidade dos mercados totalmente livres produziu apenas bolhas exuberantes e recessões temporárias até que a crise de 2008, iniciada nos EUA, colocou em risco toda a economia do planeta.

A sensação de segurança no Ocidente foi abalada em 2001 quando do ataque ao WTC. Desde então outros ataques terroristas igualmente devastadores foram realizados na Europa, que assiste impotente o renascimento de movimentos nacionalistas e fascistas em diversos países. O desemprego estrutural, o medo do outro e a desconfiança em relação às estruturas de poder européia estão causando fraturas na UE assim como as próprias exigências financeiras da UE feitas aos países que necessitas de socorro financeiro (chamados jocosamente de PIG – Portugal, Irlanda e Grécia).

Nos últimos 70 anos os direitos humanos, proclamados pelos criadores da ONU, foram pisoteados por quase todos os países membros da entidade, inclusive pelo Brasil durante e depois da Ditadura. Dos direitos humanos restou apenas a retórica vazia. Os EUA apoia tiranias como a Arábia Saudita e ameaça seus inimigos que cometem desumanidades enquanto pratica desumanidades maiores para continuar a importar petróleo barato em grande quantidade.

Os ajustes feitos logo após o fim da II Guerra Mundial foram quase todos destruídos. A única coisa que restou do pós-guerra foi Israel e simbiótica relação entre Washington e Tel Aviv. Esta ligação tem sido reforçada https://www.yahoo.com/news/exclusive-large-majority-senate-pushes-obama-boost-israel-110809742.html?soc_src=social-sh&soc_trk=fb.

Pode uma ordem mundial ser unilateralmente  criada  pelos gêmeos siameses EUA/Israel? Isto é muito improvável. A vitória russa na Síria e a capacidade de Moscou de atrair parceiros de peso para a sua versão da luta contra o terrorismo deixou bem claro que o mundo não dança de acordo com a música tocada pela banda de norte-americanos e israelenses. Não obstante há quem diga que os EUA planejam uma guerra contra a Rússia http://russia-insider.com/en/obama-requests-military-support-possible-war-against-russia/ri14043, quando não estão ameaçando o Irã e a China.

A ambição irrefreável aliada à autoconfiança desmedida quase sempre produz tragédias. O mundo está prestes a enlouquecer novamente. Curiosamente, muitos analistas continuam aplaudindo a solidez da arquitetura do pós-guerra como se ela não tivesse sido arruinada justamente pelo país que diz ter vencido a Guerra Fria.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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