O que sabemos – e não sabemos – sobre a vacina ‘Sputnik V’ da Rússia

Os cientistas conduziram meses de testes em humanos, mas ainda não publicaram dados e não começaram a crucial Fase 3

Da CNN (USA)

A Rússia levantou as sobrancelhas na terça-feira, quando anunciou a primeira vacina contra o coronavírus aprovada no mundo para uso público.

O presidente Vladimir Putin diz que sua própria filha já a recebeu, mas os testes ainda não foram concluídos e os especialistas estão céticos sobre a rapidez com que a vacina foi registrada.
Embora os detalhes sobre a pesquisa por trás da vacina sejam limitados, aqui está o que sabemos até agora.

O que sabemos sobre a vacina russa?

A vacina foi desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, com sede em Moscou, usando recursos do Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF). A vacina é chamada de Sputnik V – uma referência ao satélite da União Soviética de 1957.
Os cientistas conduziram meses de testes em humanos, mas ainda não publicaram dados e não começaram a crucial Fase 3, que geralmente precede a aprovação, antes do anúncio na terça-feira.
Na quarta-feira, foi anunciado que um teste de Fase 3 envolvendo mais de 2.000 pessoas na Rússia e vários países do Oriente Médio e da América Latina havia começado. Normalmente, esse estágio de teste envolve testes em dezenas de milhares de pessoas.
O Dr. Scott Gottlieb, ex-comissário da Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, disse na terça-feira que o número de pessoas em que a vacina foi testada até agora era o equivalente a um ensaio de Fase 1, que normalmente envolve um pequeno grupo e estudos a segurança da vacina.
A vacina russa é segura?
A resposta curta é que não sabemos. A Rússia não divulgou dados científicos sobre o teste da vacina e a CNN não pode verificar as afirmações sobre sua segurança ou eficácia. Mas a Rússia diz que a vacina passou pelos testes de Fase 1 e Fase 2, que foram concluídos em 1º de agosto.
Um estudo de Fase 1 geralmente enfoca se uma vacina é segura e se ela induz uma resposta imune em um pequeno número de pessoas.
“Não temos qualquer informação sobre se isso é seguro”, disse Keith Neal, professor emérito de Epidemiologia de Doenças Infecciosas da Universidade de Nottingham, à CNN.
A Rússia afirma que os voluntários nos testes de Fase 1 e 2 se sentiram bem depois de tomar a vacina e não exibiram efeitos colaterais imprevistos ou indesejados.
Neal disse que é improvável que os pesquisadores tenham detectado quaisquer efeitos colaterais raros ligados à vacina Gamaleya.
“Você não saberá sobre os efeitos colaterais sem testes [generalizados], se eles forem raros. Esse é o ponto de um estudo de Fase 3”, disse ele.
“Eu não aceitaria, certamente não fora de um ensaio clínico agora”, disse Gottlieb à CNN na terça-feira.

A vacina é eficaz?

Sem dados e testes da Fase 3 concluídos, a Rússia não provou para o mundo que o Sputnik V funciona.
“Eu acho que pelo menos produz anticorpos. O que não sabemos é se protege as pessoas contra a infecção”, disse Neal à CNN.
A Rússia disse que sua vacina é um vetor adenoviral. Os adenovírus causam o resfriado comum, mas nas vacinas Covid-19 eles são enfraquecidos e modificados para fornecer material genético que codifica uma proteína do novo coronavírus.
O corpo então produz essa proteína e pode produzir uma resposta imunológica contra ela, mas o método pode causar problemas.
Os fabricantes do Sputnik V dizem que a vacina induziu um “anticorpo forte e resposta imune celular”, em voluntários do ensaio, de acordo com o site oficial da vacina.
“Nem um único participante dos testes clínicos atuais foi infectado com Covid-19 depois de ser administrado com a vacina”, acrescenta a declaração.
“Não está claro o quão eficaz a vacina russa será e se as pessoas têm ou não alguma imunidade anterior ao adenovírus que estão usando para entregar a sequência do gene do coronavírus”, disse Gottlieb à CNN na terça-feira.
O Dr. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, expressou preocupações semelhantes.
“Espero que os russos tenham realmente provado definitivamente que a vacina é segura e eficaz. Duvido seriamente que tenham feito isso”, disse Fauci a Deborah Roberts da ABC News para um evento da National Geographic a ser transmitido na quinta-feira. Uma parte da entrevista foi postada pela National Geographic na terça-feira.

Como a Rússia conseguiu isso tão rapidamente?

Em abril, a Rússia promulgou uma lei que eliminou a necessidade de um teste de vacina de Fase 3 antes da aprovação.
A aprovação agora significa que a vacina contra o coronavírus pode ser distribuída mesmo com os testes de Fase 3 em andamento – embora, na prática, as doses fabricadas em massa não devam estar prontas por semanas.
“Eles não estão tão à frente quanto outras vacinas”, disse Neal, observando que as vacinas de Moderna e Oxford já começaram os testes de Fase 3.
Os críticos dizem que a pressa da Rússia se deve em parte à pressão política do Kremlin, que deseja retratar o país como uma força científica global.
A Rússia não está sozinha quando se trata de fast tracking – a China aprovou uma vacina experimental contra o coronavírus em junho para membros de suas forças armadas.
E embora os dados das vacinas dos testes de Fase 1 e 2 ainda não tenham sido publicados, oficiais de segurança dos EUA, Reino Unido e Canadá advertiram em julho que os ciberatores russos tinham como alvo organizações envolvidas no desenvolvimento da vacina contra o coronavírus.
Redação

3 Comentários

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  1. É o equivalente ao indivíduo que para tomar cloroquina por conta própria, tem condições de montar um sistema de acompanhamento com ambulância à disposição + enfermeiros para examinar 3 vezes por dia e fazer exames cardíacos diários. Mesmo assim, ficar com o corpo inchado, o pulmão mofado e apesar do histórico de atleta, atestar que tudo vai bem.

  2. O que sabemos é que o presidente Russo não é idiota nem sabujo dos EUA como o presidente do Brasil. Que os cientistas russos não são como alguns generais brasileiros que propagam medicamento sem eficácia nenhuma. Que a comunidade Russa tem credibilidade maior que o “gado” daqui. Que a Rússia e seus cientistas, de todas as áreas, pouco importa com o que dizem e publicam no mundo todo os lambe-botas e vira-latas. Que por serem como são, ganharam mais uma dos lambe-botas e dos vira-latas da Europa e ocidente como um todo. Enquanto os demais fazem marketing eles constroem o futuro deles e da humanidade em silêncio só divulgando o resultado depois de terem a certeza do que fizeram. Não por acaso, foram eles os primeiros a colocar um homem em órbita, a construírem uma estação espacial e tem um arsenal de armas capaz de destruir a hora que quiserem seu maior inimigo os EUA.

  3. Há informações faltantes e imprecisas na matéria.
    Os russos já trabalham há anos em uma vacina contra o SARS-CoV, um corona vírus do oriente médio que causa sindrome respiratória.
    Esse vírus é da mesma familia do COVID-19. Portanto, as pesquisas russas estavam mais avançadas, bastanto trocar o vírus MERS-CoV pelo Covid-19.
    Segundo levantou o jornalista Gustavo Conde, junto ao jornalista Fernando Moraes. A Rússia herdou da União Sovética o maior centro de pesquisa mundial em pesquisa contra armas biológicas, Laboratório Vector.
    Não só esse laboratório existe desda década de 20, como tem guardado cepas de doeças já erradicadas. Seus cientistas são treinados para a busca de vacinas de forma rápida em caso de ataque biológico.
    Diferente das vacinas desenvolvidas em outros países, a vacina russa será aplicada na população do próprio país, antes que em outros países. Diferente da vacina de Oxford que vem sendo testada em países periféricos (Brasil) e não na população inglesa.
    A Rússia pretende administrar a vacina a voluntários que tenham profissões de risco(médicos, enfermeiros, professores etc), a partir do mês de Setembro. A vacinação da população começa em Janeiro do ano que vem. Será ao mesmo tempo que em países que aderirem a vacina. Como Cuba e outros 4 países.
    Isso tudo não significa que a vacina é comprovada, mas tem grande sgnificância comparada as demais.

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