O que virá depois deste “neo ancién regime”?

Os últimos 20 anos de política no Brasil foram previsíveis e podem ser resumidos por uma alternância no poder entre os lucros financeiros dos bancos (FHC) e os interesses das construtoras (Lula e Dilma). Em razão de seu tamanho e importância, a Petrobras despertou ódios e amores passionais. As fontes de propina eleitoral, porém, foram quase sempre as mesmas e beneficiaram todos os partidos.

As medidas anti-sociais de Michel Temer , que ele chama de “ponte para o futuro” (mas que na verdade não passa de uma “pinguela para o passado” dos anos 1920), estão sendo implementadas com o apoio dos banqueiros no exato momento em que as construtoras brasileiras são destruídas. Esta destruição, levada a cabo pela Lava Jato com seu braço midiático, realizará as fantasias neuróticas dos peemedebistas e dos tucanos. Eles sempre sonharam com a abertura do mercado brasileiro às construtoras norte-americanas.

O Brasil perderá toda sua autonomia técnico-construtiva para que os deputados, senadores, governadores, procuradores, desembargadores e ministros de tribunais possam ter mais segurança jurídica. No futuro, os subornos pagos pelas construtoras não precisarão mais transitar para fora do Brasil com ajuda de doleiros (arquivos vivos dos crimes financeiros cometidos pelos políticos e seus parceiros no MP e no Judiciário). A propina será honestamente paga fora do Brasil e seus donos não poderão ser incomodados dentro do país.

A nova globalização promovida por Michel Temer com apoio de FHC equivale, portanto, a desterritorialização da corrupção. Atualmente é muito difícil pegar um político ou juiz corrupto que transferiu para o exterior o que conseguiu pilhar dos cofres públicos. Doravante, isto será praticamente impossível. Afinal, o MP e o Judiciário do Brasil não tem poder para agir fora do nosso território. Além disto, os cidadãos brasileiros não podem ser extraditados para responder no exterior pelos crimes que foram cometidos fora do Brasil.

Este fenômeno (a globalização da criminalidade política) aumentará o abismo entre ricos e pobres e a distância entre o Estado e a população.  Todavia, o Judiciário é o Poder que sofrerá o maior impacto da desterritorialização da corrupção. Em pouco tempo os juízes e promotores honestos irão perder toda sua autoridade. A credibilidade deles deixará de existir.

Limitando-se a reprimir no Brasil os crimes comuns cometidos pelos brasileiros que não podem desfrutar os novos privilégios que foram construídos pelos políticos e juízes corruptos com ajuda da mídia, o Judiciário será visto como inimigo número 1 da população. Os juízes e promotores (inclusive aqueles que são honestos) serão vistos não como agentes da Justiça e sim como instrumentos do neo ancien régime implantado no país por Michel Temer.

Os problemas sociais, expulsos da agenda pública pelo golpe de 2016, continuarão a existir e a aumentar. E em algum momento o Brasil explodirá como a França (1789) ou como a Rússia (1917). O que ocorrerá depois é imprevisível. E a imprevisibilidade, meus caros, é a maior inimiga dos verdadeiros capitalistas.  

Fábio de Oliveira Ribeiro

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