O Rei Lear, de Gustavo Franco

Do Estadão

Direto da fonte

Sonia Racy – O Estado de S.Paulo

Franco, o Shakespeare de Gustavo?

Logo no começo de sua palestra, anteontem, em SP, onde relacionou Shakespeare à política brasileira, Gustavo Franco avisou antes que carapuças fossem vestidas: tratava-se de uma homenagem à universalidade de Shakespeare, um exercício metafórico que não deveria ser tomado como literal. E iniciou explicação de seu brilhante artigo publicado na revista Dicta&Contradicta, anfitriã do encontro no Shopping Villa-Lobos.

Em complexa interligação, Serra seria Ricardo III, personagem controvertido que chegou a rei mesmo sendo o sétimo na linhagem real. Aliás, a descrição feita pelo dramaturgo foi alvo, em 1997, de contestação na Suprema Corte Americana, que inocentou Ricardo III dos diversos crimes que William lhe atribuiu. “O público sempre se encanta com versões romanceadas de intrigas palacianas (…), sobretudo nas plantações jornalísticas amiúde associadas impropriamente, na maior parte das vezes, a José Serra”, escreve Franco.

Shakespeare 2

Dilma e Marta, por sua vez, seriam as irmãs Goneril e Regane, filhas do Rei Lear. Personagens descritas como estridentes, “sem consciência, apenas apetite”. E Cordélia, a terceira filha banida do reino em benefício das outras duas, o ex-BC encontra em Marina Silva.

Shakespere 3

Lula, entretanto, não seria Lear. E sim, Falstaff que “carismático, cometeu tantas gafes e pronunciou tantos ditos espirituosos”. E Aécio é associado ao Príncipe Hal, parceiro de Falstaff.

Shakespeare 4

A Estabilidade monetária expressaria-se em Gertrudes, mãe de Hamlet, príncipe dos sociólogos. Já Ofélia, é a virtude em política públicas e também esposa ideal para o filho da Estabilidade. “Lula cansa de dizer que a Estabilidade lhe pertence, pois com ela se casou”, analisa o economista.

Shakespeare 5

São múltiplos, os personagens que passeiam nas dez páginas da revista. Entre eles, Guido Mantega é Polônio, mestre das platitudes. Zé Dirceu, um Macbeth interrompido e sem remorsos. Delfim Netto, por assoprar nos ouvidos de Lula a história da herança maldita, assemelharia-se a Iago. E Henrique Meirelles?

A Shylock, dono de contrato perfeito que não foi honrado. 

Por Renato Janine Ribeiro

Prezado Nassif,

A não ser que o resumo esteja mal feito, o assunto é uma tolice. Vá lá que Marina Silva lembre Cordélia, mas todo o resto do who’s who parece não passar de brincadeira, pelo menos para quem conhece Shakespeare. Por que Serra, o nome lembrado há mais tempo, no Brasil, como presidenciável – há mais tempo do que o próprio FHC – seria Ricardo III, “o sétimo na linha de sucessão”? O Ricardo shakespeariano é um monstro de corpo (corcunda) e alma. Nada disso faz sentido.

Agora, o artigo pode ser bom. Seria preciso lê-lo. Alguém sabe se há acesso a ele pela web?

Mas, em princípio, é um assunto que nem merece atenção. Só incomoda quem gosta de literatura. Dá muito bem para analisar a política brasileira recorrendo aos clássicos ou à teoria do discurso. Mas não assim.  

Um abraço e bom fim de semana.

Luis Nassif

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